quinta-feira, 16 de junho de 2016

A trajetória de Eduardo Gonçalves Ribeiro X - MÁRIO YPIRANGA MONTEIRO


CAPÍTULO 10

NOTAS SOBRE O BRASIL DO SÉCULO XIX


A trinta e seis léguas abaixo da última aldeia dos Tupinambás descendo o Rio Amazonas, encontra-se ao norte, um rio que vem da província do mesmo nome e que é conhecido pelos habitantes da região pelo nome de Cunuris. Esse rio recebe seu nome das tribos de índios que habitam perto de sua embocadura. Acima destes se encontram os Apotos, que falam a "língua geral" (o tupi-guarani). Depois deles se acham os Tagaris, depois os Guacaris, a tribo bem-aventurada que goza dos favores das valentes Amazonas. Os Guacaris construíram sua aldeia em montanhas de altura prodigiosa (as Cordilheiras da Guiana). Entre elas se encontra um monte, chamado Tocamiaba, cujo cume se eleva muito acima dos outros, e que é estéril, porque é incessantemente batido pelos ventos. Aí habitam as Amazonas. Essas mulheres vivem sozinhas e se protegem sem a ajuda dos homens. Apenas, em certas épocas determinadas, recebem a visita de seus vizinhos, os Guacaris. Quando estes chegam, elas correm às armas, temerosas de serem surpreendidas. Mas logo que reconhecem os amigos, precipitam-se em direção aos barcos dos recém chegados. Cada uma pega uma "itamaca" (rede) e vai armá-la em sua casa, esperando os homens. Ao fim de alguns dias, os hóspedes das Amazonas voltam à sua aldeia, não deixando nunca de retornar na próxima estação. As filhas que nascem dessas uniões são criadas por suas mâes. Ensinam-lhes a trabalhar e manejar armas. Quanto aos meninos, não se sabe ao certo qual o seu destino. Ouvi dizer por um índio que, quando jovem, tinha ido com seu pai a um desses encontros, que as Amazonas entregam ao pai, no ano seguinte, o menino nascido da união. Mas acredita-se geralmente, que esses meninos são mortos. Eu nâo saberia dar a resposta certa. De qualquer forma essas mulheres possuem tesouros capazes de enriquecer o mundo inteiro. A barra do rio em cujas margens habitam as Amazonas se encontra a 2 graus e meio de latitude
meridional (Nery, 1979).

São infindáveis as histórias, mas elas dão uma noção aprocimada da febre que assolou a Europa a partir do século XVI em relação ao novo continente.
O país das Amazonas permaneceu desde então transitando - e assim, parece, continuará ainda por muitos séculos - na escala que vai do mito à realidade. É o drama da esfinge às avessas: decifra-me ou serei devorado! Quando o barão de Santa Anna Nery publicou em Paris, no ano de 1884, O país das amazonas - promontório destinado a atrair os olhares europeus para as misteriosas plagas dos trópicos úmidos - já era antiga a cobiça e o fascínio de além-mar sobre a região.
No princípio do século XIX, por aqui já haviam passado, de acordo com as desavenças européias, aliados e inimigos dos portugueses, estes proprietários "legítimos" da colônia. Assim é que franceses, holandeses e ingleses deixaram, uns mais que os outros,
marcas de sua civilização saqueadora.
As províncias do vale amazônico - Grão-Pará e Maranhão ; colocadas nos manuais de história e nas preocupações governamentais sempre distantes e em segundo plano, enfrentaram largos períodos de oscilações econômicas condicionadas às convulsões políticas e de mercado da Europa, sendo compelidas, como se verd adiante, a recorrer ao braço escravo afrzeano para minimamente estabilizar suas finanças.
O país das amazonas do século XIX tem algumas peculiaridades em relafão ao resto do Brasil. Sabe-se que na província do Maranhão e do Grão-Pará os ventos ditos emancipacionistas do 7 de Setembro de 1822 demoraram a soprar. O peso da Matriz para esses lados teve um impacto econômico, social, cultural e político muito mais significativo que em qualquer outra parte do Brasil colonial. O atraso foi maior. Portugal estava atènto às possibilidades infinitas cantadas em verso e prosa por todos os que agui vieram - nessa hora cabiam preocupações - e apostou certo no assentamento de forças produtivas na região. Teve aí papel determinante a implantação, no fim do século XhIII, da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão.ão é farta a historiografia sobre o pais das amazonas. A existente, quase toda, está mais para o fantástico que para o científico-investigativo. E se.
presta muito mais à divulgação do que à compreensão do mistério. E impressionante como são monarquistas e burocratas alguns relatos, lembrando mais o di.rcurso oficial de gabinete do que propriamente uma reflexão mais consistente sobre as origens, processo histórico e peculiaridades da região. Dois relatos de viagem, porém, merecem destaque, pela qualidade de seu conteúdo e pela importância histórica que representam: A viagem filosófica, de Alexandre Rodrigues Ferreira, e Viagem ao Brasil, de Louis Agassiz.
Sobre a obra de Alexandre Rodrigues Ferreira, afirma Márcio Souza em sua Expressão amazonense: "(...) somente a resistência inesperada de homens naturais, fracionando esta unidade, suscitava e mantinha os levantamentos de vendedores numa emergência. Diário da Viagem Filosófica é a grande forma em devir, na qual a paisagem recebe finalmente um sentido, uma catalogação marcada pela eficácia mercantilista e tomada em uso, numa nova força de ordenação epistemológica (...) É o primeiro lance para superar o desafio dos apagados gestos do exotismo aventureiro':
Já o trabalho do casal Elizabeth e Louis Agassiz é um registro dos mais sérios feitos no século XIX, tendo como leitmotiv a saborosa curiosidade de quem se aproaczma do mistério. Com uma equipe de geólogos, ornitologistas, desenhistas etc., o casal empreende uma viagem pelo Brasil em 1865-66, com ênfase na Amazônia, narrando depois ao longo de quase setecentas páginas o desafio do conhecimento e outras alternativas de relação com a chamada "terra das possibilidades e promessas":
Quem desembarcasse no Maranhdo na segunda metade do século passado tomaria contato com as guestões sociais, econômicas e políticas mais determinantes que iriam provocar, no decorrer dos anos, as mudanças estruturais da virada do século: o Brasil vive aí o secular conflito entre o velho e o novo, os esquemas arcaicos de poder tentando resistir
aos ares de modernidade e liberdade soprados de além-mar, particularmente da França
O leitor dos jornais da província de São Luís do Maranhão certamente se deliciava com debates e intrigas envolvendo Igreja Católica, mafonaria, grupos abolicionistas e%u republicanos, escravocratas e monarquistas convictos, enfim, os confrontos todos que
permearam a história desse período no Brasil, freqüentemente contada sob a ótica suspeita de quem acabou conseguindo imprimir suas verdades. Importa, todavia, uma constatação preliminar: o Brasil experimenta nesse momento um penoso processo de afirmação nacional, trazendo já em sua bagagem o registro de uma trajetória de lutas e de mobilização no caminho de instauração da brasilidade. Incomodava as consciências mais lúcidas o latifúndio imperial mal administrado que era o Brasil do século XIX. Naquele momento os apelos de autonomia nacional começavam a se confundir com a idéia da República, valor reforçado pelos exemplos vindos da Europa e dos países vizinhos. No mesmo vagão da República viajavam agitados e inconformados passageiros abolicionistas da São Luís dos anos 1860-70. Muitas lutas maranhenses precederam ao desafio da questão do abolicionismo. Assim, não se pode neglzgenciar se se quer compreender a luta antiescravagista brasileira e os contornos particulares que ela assumiu no Norte do país - o histórico desses conflitos, muitas vezes mal registrados, ocorridos desde o período
colonial. Começando pela Revolta de Beckmann, a Balaiada, o movimento dos Bem-te-vis, a Insurreição Praieira, a Cabanagem, para falar de alguns, concluímos que o Norté é pródigo em recusas sempre que se lhe aplicou carga desumanamente pesada e tropicalmente sem sentido. É por aí que se pode ler com mais propriedade a questão da abolição da escravatura, mas foge ao objetivo destas notas remontar com detalhes o quadro socioeconômico gue explicou a vigência da estrutura escravocrata, seus paradoxos e sua desorganizada desmontagem. Um fato aparentemente isolado, contudo, nos permitirá
compreender a quantas andava pelo Maranhão a luta abolicionista alguns anos antes do controvertido 13 de Maio de 1888.
  
                  
Um dos grandes momentos da luta abolicionista foi o que se convencionou chamar a "questão Inocêncio" no final de 1876 e início de 1877. No dia 14 de novembro de 1876, Ana Rosa Viana Ribeiro, na ausência de sèu marido, o doutor Carlos Fernando Ribeiro, o Barão de Grajaú, chefe do Partido Liberal, mandou enterrar em grande sigilo, antes das seis horas da manhã, o pequeno escravo Inocêncio, que falecera na véspera, vítima de maus tratos administrados em circunstâncias misteriosas. Foi denunciada alguns dias depois por escravos e negros emancipados. Esta não seria a primeira vez que a acusada praticava atos de violência sobre os escravos(...) As provas contra a acusada eram arrasadoras, porém os maiores médicos da cidade foram chamados para praticar a autópsia. A personalidade da acusada conferiu ao debate jurídico um tom político e a opinião pública de São Luís inflamou-se, dividindo-se em dois campos adversos. O processo seria o próprio sistema escravagista, a imprensa publicou páginas inteiras sobre a audição das testemunhas, das investigações, das autópsias, dos debates científicos e jurídicos (Mérien, 1988).

Nesta celeuma, jornalistas, escritores, poetas e pequena parte da opinião pública defendiam a condenação do sistema escravagista. A luta assumia dimensões acentuadas em todo o país e já contava com algumas batalhas vencidas, embora suspeitas e sempre interpretadas como concessão dos brancos: a abolição do tráfico negreiro, ou Lei Eusébio de Queirós, a Lei do Ventre Livre, a Lei dos Sexagenários etc. Entre as figuras envolvidas no chamado caso Inocêncio está o maranhense Celso Magalhães, escritor, poeta, advogado; abolicionista militante, que tomou a frente da querela, mandando prender, na gualidade de promotor público, a acusada. Isso lhe custou a demissão tão logo assumiu o governo da província, no ano seguinte, o esposo da criminosa. Em contrapartida, ganhou a adesão e o reconhecimento de toda uma geração de intelectuais cujo desempenho vai dar destague ao Maranhão no cenário político e literário nacional.
Abolicionistas e republicanos, nem sempre identificados, tinham uma influência comum que orientava sua prática: a filosofia positivista do francês Augusto Comte, recurso importante para se contrapor ao discurso espiritualistalescravagista da Santa Madre, que legitimava o modelo político monárquico.
Na esteira da militância e da produção líterofilosófica de Celso Magalhães, gue por sua vez recebia da chamada Escola de Recife - Tobias Barreto, Sílvio Romero etc. - forte influência cultural, aglutinam-se figuras do porte de Manuel de Béthencourt, Aluísio Azevedo, Eduardo Ribeiro, Pedro Freire, ArthurJansen Tavares, Sá Viana, Paulo Moreira da Silva, Agripino Azevedo, entre outros. Quase todos jovens e ávidos por ares de renovação nacional, mais tarde se reuniram em torno da publicação do jornal O Pensador - "órgão dos interesses da sociedade moderna" ; peça decisiva na remontagem da trama histórica desse período.
Para compreender o modo de pensar e o estilo do "burgo" maranhense, há que se recorrer a sua história, em particular às bases materiais que lhe deram influência e face. As elites maranhenses da segunda metade do século XIX já haviam experimentado considerável apogeu econômico e cultural e, por razões diversas - todas elas explicáveis em nome de interesses estranhos à terra ; passaram a vivenciar a decadência em todos os níveis. Restaram-lhes a lembrança e a vaidade.
A economia maranhense, baseada no algodão, arroz e comércio em geral, foi incapaz de resistïr às mudanças internas e do mercado internacional. No Brasil vive-se então um deslocamento do poder econômico em direção ao Sul do país, determinando
a migração para lá da mão-de-obra disponível, principalmente a escrava. No mercado internacional, a concorrência do algodão produzido na América do Norte faz despencar a cotação do algodão maranhense. Nem mesmo o curto período de recuperação econômica (1863-64), decorrente da Guerra de Secessão dos Estados Unidos, redundou em medidas de modernização e diversificação do mercado; ao contrário, o que se viu na seqüência foram os danos provocados por uma administração pública incapaz, sem planejamento e descompromissada com os interesses locais. Celso Magalhães dá o retrato desse processo em sua coluna "Carranquinhas'; no jornal O País, em São Luís, no ano de 1873:
                               
Quando de 1850 em diante começou a produzir-se em maior e sempre crescente escala a procura de escravos para o trabalho dos cafeza.is no Sul, a nossa lavoura vendeu escravos, abandonou, entrou como que em liquidação desesperada e ingrata da vida, que era a sua tão nobre, tão independente, e aceitou condições novas de existência mais precária, mais dependente, menos lucrativa e de nenhum futuro, porque o capital apurado ou fosse nos excessos de usura ou na renda regular de outros empregos apenas dava para ocorrer à despesa, que logo foi outra e maior, deixando o dono da casa de ser produtor para ser consumidor do próprio patrimônio (Mérien, 1988).
                                    
Na retina das lembranças dos maranhenses que viveram o fausto de São Luís, vemos retratados os depoimentos saudosistas e até melancólicos de figuras
como Grafa Aranha e Dunshee de Abranches. Este, em seu livro O cativeiro, memórias dedicadas ao centenário da Balaiada, reproduz diálogos interessantíssimos mantidos com D. Emília Branco, mãe de Aluísio Azevedo, e assim descreve sua cidade:

Recordando-me essa phase faustosa de Athenas Brasileira, os lindos olhos de D. Emília Branco cintilavam em um fulgor estranho. A sua narrativa, como que me dava a impressão de estar presenceando esses dias venturosos da renascença maranhense. Vivia-se em São Luíz, affirmava-me ella. Grandes costureiras francezas ahi se tinham estabelecido. Madame Esmeralda, Madame Ory e sua formosa filha, mantinham a fama e todos os requintes da moda parisiense. Fortunato e Luiz Ory, cabelleireiros de senhoras, tinham, todas as horas occupadas. A Notre Dame de Paris era o empório das sedas mais caras e das mais finas perfumarias. Os irmão Blhun, filhos da Allemanha, mas educados na Inglaterra, fabricavam chapéos do mais alto estylo britâ.nico para homens que se trajavam rigorosamente à moda londrina. As joalherias Chevance, Ferdinand Fonque, Phouverez e Krause vendiam annualmente milhares de contos em jóias. O trabalho escravo dava. para tudo isso: tornara o Maranhão uma das províncias mais fartas do Império pela sua riqueza econômica e pela pujança intellectual dos seus filhos (Abranches, 1941).
                       
Satélite da Europa, São Luís contempla sua metamorfose arquitetônica e cultural: o luxo dos sobradões de mirantes e azulejos de alcantaria, habitados por consumidores da moda, do teatro e da "perfumaria" do Uelho Mundo. Obviamente, tais consumidores representavam uma parcela minoritária de uma sociedade constituída de escravos negros e de mestifos em quase sua totalidade. Àgueles consumidores, casta de comerciantes e senhores de engenho e fazenda, convinha ser letrados, ter os próprios filhos formados na Europa, ter sua imprensa, importar literatura ou fazê-la, de segunda mão, aqui mesmo. Em suma, cultuar a cópia, mesmo em detrimento do original. Não importava. Um milhão de libras esterlinas, cifra alcançada pela exportação maranhense na primeira metade do século XIX, permitiu outros tantos atos que visavam fincar novos costumes nos trópicos: o Teatro de São Luís, o melhor do país à época, o Liceu Maranhense, o Colégio Nossa Senhora da Glória, o Gabinete Português de Leitura, as melhores gráficas do país etc.
O esplendor do fausto maranhense, a se refletir no espelho europeu, seu modo de vida e de felicidade, faz São Luís virar as costas para o Brasid e, o que é mais delicado, negligenciar as condições que permitiriam perpetuar este fausto. Baseado numa frágil e
desorganizada economia, cujo fundamento maior é o regime escravocrata, não haveria de muito durar esse ciclo de opulência. Nem mesmo o rigor com que a burguesia luxo-maranhense legitimava a ordem escravocrata, sem falar das bênçãos episcopais e justificaões teológicas a ela dadas, nada disso conseguiria evitar a ruína que se ia confzgurando. A Atenas do Norte era uma ilha de fantasia satisfeita e deslumbrada com a reprodução grosseira do vestuário francês.
Não se levou em consideração o signifzcado primeiro da Balaiada, do Levante de Itapicuru, da Revolução de hiana, da efervescência e mobilização dos quilombos, movimentos que denunciaram á segregação violenta da maioria responsável pela geração do banguete e que não tinha acesso sequer às suas sobras. Para a burguesia maranhense, figuras como Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, o preto Cosme, Raimundo Gomes, Francisco, o tenente dos pretos - entre tantos outros que a história silenciou ; não passavam de bandidos sanguinários, malfeitores, miseráveis incômodos a quem se deveria tratar com chicote, cadeia e morte. `A calma, o luacn e a volúpia" dos salões e dos solares, o revezamento entre os prazeres da cama e da mesa, o alívio espiritual da Santa Missa e do Te-Deum em templos solenizados, onde os santos tinham ares de nobreza áurea ou púrpura, tudo contribuía para impedir a percepção de um Brasil gue estava irrompendo, mulato e insolente, devoto de São Benedito.
Fran Paxeco, citado por foaquim hieira da Luz em seu livro Fran Paxeco e as figuras maranhenses, atribui a Eduardo Ribeino a fundação do jornal O Pensador, epíteto, aliás, que o acompanhará até seu desaparecimento em Manaus no ano de 1900. Estamos em 1880. Os devotos de São Benedito, protetor dos mulatos e acorrentados, há alguns anos haviam fundado uma sociedade manumissora que arrecadava fundos para alforriar alguns escravos na festa de seu padroeiro. O significado dessa festa é um dos tantos ingredientes da encrenca que precedeu o surgimento do virulento jornal O Pensador e de seu contraponto indignado, o jornal A Civilisação (era grafado com s). Até nossos dias São Benedito não transita na mesma calçada em que desfila o andor de Santo Antônio de Li.rboa, o santo dos portugueses e dos jesuítas, ordem religiosa odiada por negros e mulatos desde os tempos de Beckmann. Ainda hoje em Manaus, na praça 14 de Janeiro, comemora-se a festa de São Benedito, o santo dos pretos, e sdo mantidas suas peculiaridades e tradições por descendentes dos maranhenses que Eduardo Ribeiro fez vir para Manaus para viabilizar seu projeto arquitetônico da cidade.
Publicado com o loguaz subtítulo "Órgão dos interesses da sociedade moderna"; O Pensador abrigava a efervescência e a insatisfação de uma geração marcada pela necessidade de sacudir a poeira da hipocrisia social, do banquete eliti.rta, da ordem "natural" abençoada por Deus e legitimada pelo rei.
Não é difícil imaginar, às vésperas do dia 10 de setembro de 1880, ali na rua das Palmas n.° 30, em São Luís do Maranhão, sede da redação, as discussões em torno do primeiro número do jornal. Resultou daí o contundente posicionamento através do qual o jornal diz a que veio:
                                 
O presente jornal tem um fim: combater esse espírito sacerdotal que tanto sangue tem custado à humanidade. Não batemos os homens que o defendem, vimos apenas declarar guerra à idéia de que se fazem sustentáculos. Combatemos a reaçâo.
Sem combate não lhe abandonaremos as consciências de nossos concidadãos. Seremos talvez vencidos. Não importa: o porvir nos suscitará vingadores. Nosso programa é extenso como o pode ser a esfera do pensamento humano. Pensamos e pensar é fazer o bem, porque pensar é ser livre, e ser livre é ser bom. Pensar é o contrário do crer. A Igreja crê, e nós pensamos. A Igreja crê porque sonha a escravidâo universal. Nós pensamos porque sonhamos a liberdade da espécie humana. Vós, padres de Roma, credes, porque explorais a mina da credibilidade. Nós pensamos porque queremos devassar os mundos em que existem os germens dessas grandes idéias que se chamam direito, justiça e liberdade. Vós quereis ser úteis a vós mesmos: nós procuramos sê-lo aos nossos concidadãos. Tal é o programa do Pensador: pensar é só pensar. Pensar é rasgar os horizontes do porvir.
                               
O grupo de jornalistas escudava-se atrás de pseudônimos, certamente para se proteger das ciladas que a São Luís provinciana preparava àqueles que se atrevessem a colocar a nu seus dogmas e suas suspeitas virtudes. Assim assinavam os artigos e colunas trimensais (o jornal saía dias 10, 20 e 30 de cada mês): Marquês de Pombal, Diderot, Pietro Garibaldino, João F. Grommell, Dr. Ironia, Sóror Pompadour etc. Com exceção de Manuel de Béthencourt e Aluísio Azevedo, que colocavam seus nomes em alguns artigos, o fato dos pseudônimos representava mais um traço da mordacidade e da ironia gue alimentava a iconoclastia dos "Pensadores':
Acusados injustamente pela Igreja de serem títeres da maçonaria - encarnação viva das proezas do demo ; na verdade aqueles jovens representavam a consciência do gue se podia conceber de mais novo a se vislumbrar nos horizontes de um Brasil que já queria ser moderno, guiar se pela ciência, dessacralizar as "verdades" e afirmar suas possibilzdades. Obviamente gue neste percurso pegaram carona todos aqueles gue viram na coroa e no cajado romano a imobilização nacional, a conservação da estrutura escravocrata e do latifúndio neocolonial disponível a todos os interesses estranhos à brasilidade. Entre estes estavam, é claro, pessoas ligadas à maçonaria, à pregação positivista, aos movimentos liberais e, inclusive, pessoas da própria Igreja gue se recusavam à doutrina romana e aos rigores das novas palavras de ordem vindas de um Vaticano preocupado em preservar sua hegemonia ideológica, despedaçada desde o final da Idade Média.
Para entender melhor a presença da Igreja nesse período, é interessante remontar um quadro da época, onde o papel da Santa Madre aparece como determznante para a interpretação da história do Brasil. Os compêndios de história usam o termo "ultramontanismo"para descrever um movimento doutrinário surgido com muita força no Brasil do século XIX, visando legitimar as atitudes conservadoras da Igreja, parlicularmente no combate aos excessos liberalizantes da Revolução Francesa. Esse movimento marca a retomada da escolástica enquanto doutrina oficial da Santa Sé, o fortalecimento da Companhia de Jesus, mais de uma vez expulsa do Brasil, e a promulgaçdo de encíclicas, bulas, alocuções e outros vade-mécuns, com a missão de assegurar a liderança "do outro lado da montanha"; ou seja, de Roma. Importava garantir a infalibilidade papal, recentemente decretada, coroando-a com a concentração de um absoluto poder em matéria de fé e de moral. A qualguer custo há gue se dar combate ao protestantismo, à maçonaria, a qualquer tipo de liberalismo, positivismo, socialismo, casamento civil, liberdade de imprensa e casamento dos padres.
É nesse espírito de reestruturação do conservadorismo gue naqueles anos 70 um novo bispo é entronizado na diocese de São Luís do Maranhão. Trata-se de Dom Antônio Cândido de Alvarenga, sacerdote talhado para dar lustro à velha mobília de uma sacristia desrespeitada e ameaçada de se transformar num museu da Idade das Trevas, ao gual se deva contemplar com olhos de alívio por ser de uma época que não deveria jamais voltar. Ele viera para São Luís com a missão explícita de pôr ordem na casa, seguindo as diretrizes emanadas de Roma. Era preci so endireitar o "relaxado clero, afundando na sodomia"; para usar a expressão de Graça Aranha em O meu próprio romance.
Não bastassem os sermões, castigos, suspensões, nada mais eficaz para a divulgação da ortodoxia vaticana gue um jornal bem-escrito, fundamentado e atento aos deslizes morais e doutrinários do clero e do povo de Deus. Caberia ainda ao Civilisaçâo juntar os estilhaços que haviam sobrado da chamada Questão dos Bispos, questão de toda a cristandade que ganhou cores quentes na aquarela tropical. A tendência brasileira ao sincretismo em todos os níveis perturbou em demasia a ordem católica oficial. À Igreja interessava zelarpelos pilares que sustentavam a estrutura escravocrata. As indulgências plenárias - aguelas mesmas gue levaram Lutero ao desvario e posterior ruptura - eram distribuídas à burguesia agrária e comercial em troca de generosas prendas consubstanciadas em terras, construções, espécies etc. E para fazê-las prosperar era preciso adguirir escravos e, naturalmente, criar artificios doutrinários para legitimar tal atitude. A justificão teocêntrica da Idade Média ainda se revelava útil do lado de baixo do Eguador: bem-aventurados os humildes (leia-se conformistas) porque deles é o Reino de Deus. Na galeria desses bem-aventurados não havia lugar para Francisco de Assis, Giórdano Bruno, Bartolomeu de las Casas, entre outros frutos da mesma árvore, gue tentaram a seu modo a resistência da fraternidade e da igualdade proposta pela boa nova original vivida pelos primeiros cristãos. Na memória das pessoas ainda era viva a lembrança da Questão Religiosa gue poucos anos antes agitara a imprensa das principais capitais brasileiras, em particular a de São Luís do Maranhão. A luta pelo poder dentro do aparelho do Estado envolvia clérigos e maçons. Estes haviam sido explicitamente condenados por decreto papal, sendo mesmo proibidos de freqüentar os sacramentos. Padres maçons eram perseguidos, interditados, e em alguns lugares o confronto teve manifestações corporais. Interesses gue uniam a coroa e o clero foram deixados de lado. O imperador, pressionado pelas articulações maçônicas, ameaçou colocar em votação uma lei que separava Igreja e Estado - desastre extremo aos interesses hegemônicos da Igreja, que dependia e muito do poder temporal. Os bispos de Recife e Belém, Dom Vital e Dom Marcelo Costa, após um tenso e delicado processo judicial, foram condenados - imaginem! - a quatro anos de prisão, obrigados a trabalhos forçados, coisa pouco comum a sua rotina espiritual. Essa celeuma teve repercussões internacionais, envolvendo o haticano e abalando o avanço, gue parecia inexorável, do ultramontanismo. Por fim, em 1875, passados dois anos, os bispos foram anistiados, sem gue isso significasse um esfizamento da campanha gue defendia uma Igreja nacional, livre de Roma, permeada de valores da filosofia comtiana e influenciada pelas lojas maçônicas. A acusação do bispo maranhense Dom Antônio Cândido de Alvarenga de Aue O Pensador era financiado pela maconaria não era de todo paranóica.
Entretanto, tal acusação não revela o caráter mais amplo da luta anticlerical. A inteligência brasileira escolhera outros fundamentos filosóficos para questionar o dogmatismo e o obscurantismo defendidos pela religião oficial. Stuart Mill, Augusto Comte, os liberais ingleses, os socialistas utópicos, haviam todos já desembarcado na Terra de Santa Cruz. As condições socioeconômicas e culturais encontradas permitiam vislumbrar um modo alternativo de sociedade que se opusesse áo feudalismo retardado vivido no Brasil.
Em setembro de 1880, em seu terceiro número, O Pensador traz uma carta dirigida ao povo maranhense. Sua elogüência é suficiente para exprimir a quantas andava a querela clerical. O jornal do bispo se armava da sapiência milenar que tem dado suporte à instituição. Condenava tudo aquilo que parecesse moderno: teatro, literatura, artes plásticas e sobretudo o livre pensar. Aos rapazes d'O Pensador nada escapava. Essa carta oferece ainda um retrato de Sáo Luís, feito, obviamente, com os tons chocantes da iconoclastia daquela geração:

CARTA AO POVO MARANHENSE

Amigo povo:
É a primeira vez que tomamos a liberdade de nos dirigir a ti, e sentimos bastante que o tenhamos de fazer para pedir-te um obséquio e lançar-te uma censura.
Expliquemo-nos: Em todos os tempos e em todos os lugares, suj eitos aos progressos da inteligência, o respeito mútuo de idéias e crenças, a correlação das classes e a reciprocidade dos direitos do homem constituíram uma necessidade inquestionável para o bom equilíbrio das camadas sociais.
Afastar-se deste princípio é cometer um ataque brutal ao que há de mais justo e de mais sagrado no mundo - a inviolabilidade do indivíduo; é retroceder séculos e séculos, é desrespeitar a melhor lei da humanidade - o direito natural; é violar os preceitos instituídos pela sociedade, é desobedecer a Cristo no seu preceito sublime que nos manda amar nosso próximo, como a nós mesmos, é enfim abdicar de todos os foros de homem civilizado para descer ao estado inconsciente e egoísta dos brutos, dos mongololos, dos tupinambás, que comem seus semelhantes como nós comemos os bois.
Há uma semana que corre nesta cidade, ecoando, repercutindo, num retintim medonho, um grito terrível de raiva, e selvageria: há uma semana que chovem nesta redaçâo cartas anônimas, comunicando-nos o mal pensado projeto que teu ódio fantasiou, ó povo!
É inútil declarar que nos referimos à projetada sova de pau, com que pretende mimosear as costas de S. Exa diocesana e a de seus correligionários e amigos.
Tal projeto; permite que to diga com franqueza, é indigno de teu caráter e de teu prestígio. Onde estão as virtudes que te deram o título de povo prudente, cordato, instruído e esperto?! Onde está o entusiasmo com que defendes enfaticamente a santa Liberdade, essa respeitadora dos corações e dos cérebros?!
Sim, povo! pois que és livre, deves respeito às instituições estabelecidas, deves respeito às idéias e às crenças alheias, e deves respeito às autoridades do país - não te assiste o direito de punir - cabe-te apenas o de lutar, o de combater!
Tens a tua arma - a inteligência, tens a tua força - o trabalho, tens a tua causa - a liberdade. Defende-a, combate por ela - instrui-te, mas não dês de pau.
Sê homem! Sê poderoso! cria a tua superioridade, faz o teu prestígio, enriquece a tua casa, mas nâo uses do cacete! Não será quebrando as costelas dos padres que te afirmarás na dignidade individual, que percorrerás as numerosas carreiras que a agricultura, o comércio, a indústria oferecem às classes médias e às classes superiores; não será por esse modo certamente que farás jus ao respeito e às honras da sociedade moderna, pronta sempre a coroar os esforços de quem mais trabalha, como pronta a desprezar o vadio, que teve a lamentável infelicidade de
nascer rico e inútil. Sim! tu não podes usar do pau! porque Deus te deu o cérebro, tu não podes esperdiçar a atividade e a força de teu braço dando pauladas, porque precisas delas para mover os prelos, serrar os troncos, manejar a enxada. Queres destruir o clero? queres contribuir para o aniquilamento dessa corporação que se faz respeitar de joelhos, que te esteriliza o esforço e te absorve o miolo? Pois bem! procura fazer no teu meio, na tua vida, na tua esfera, o que faz Laplace na Astronomia; Franklin e Galileu na Física; Lavoisier na Química; Bouffon na Zoologia; Lineu e Jussieu na Botânica; Bichat e Jeunier na Medicina; Watt na Mecânica; Micchelet na Sociedade; Rembrandt nas Artes; Shakespearé na Literatura e Cristo nos corações (...). Enfim arranjar com o Papa licença para que ele [o padre] possa se casar, fazer família, a fim de poder viver intimamente confortado na independência feliz e honesta de seu lar, aquecido pelo amor de sua mulher e de seus filhinhos ternos e engraçados, fortalecido no dever, no sacrifício, na luta do trabalho com a vida. Enquanto ele não tiver tudo isso, a que todo
homem tem direito, enquanto ele for de encontro às leis que a natureza sabiamente criou - há de ser mau, sombrio, rancoroso, cheio de inveja e sentindo um ódio surdo, vago por toda a humanidade que é mais feliz do que ele.
Faze-o forte, faze-o homem, faze-o fecundo, limpa-lhe os dentes e deixa crescerem-lhes os bigodes, tira-lhe aquela batina sinistra e repugnante, veste-lhe umas calças frescas de brim de Hamburgo, salpica-lhe o lenço com algumas gotas de água-dacolônia e vê-lo-ás alegre, escorreito, com a espinhela aprumada, o olho buliçoso, o pé lesto, a te bater na
barriga, a te fazer bons ditos, bons repentes e - a pensar bem!
E depois disto podes botar o teu cacete fora por uma vez, que ele não te serve de cousa alguma.
Mas, desgraçado, se, apesar de todo este latim que gastei para te convencer e apesar de ser este o primeiro favor que te peço, tu fores indiferente aos meus apelos - se estás na firme resolução de cacetear S. Exas. Revmas, então ao menos, ó povo, por piedade não te sirvas para um fim tão cru e desumano de madeiras rijas e fibrosas, como sejam a carnaúba, a goiabeira, o piqui, a sucupira e o acapu, de gloriosa memória.
Serve-te de buruti, filho; e não dês com muita força, para não pertubares a digestão de S. Ex á s.
E sem corda para mais, somos com o devido respeito e acatamento.
Teus filhos e amigos.

Para animar mais ainda a confusão e apimentar o caldo, vem à luz nesse momento o polêmico romance de Aluísio Azevedo, O Mulato, ingrediente oportuno a fazer parte do bolo gue se forma. Colocando-o nos limites de seu tempo, para evitar qualquer tipo de mistificação, não há, porém, como evitar analisá-lo, com elogios, no rol das iniciativas mais amplas de questionamentos do status quo escravagista. Sua repercussão nos meios literários e políticos vai contribuirpara inflamar mais ainda o debate abolicionista no Brasil.
A Igreja Católica não tardou em rechaçar mais essa ousadia. Fazia pouco, mandara processar judicialmente os rapazes do jornal O Pensador, acusandoos de injúria e difamação. O juiz da cidade intima os redatores a dar explicações públicas de suas posições, ameaçando-os de prisão. Embalde. Eram todos menores de idade, com exceção de Manuel de Béthencourt, que por ser cidadào português não poderia ser enquadrado. Prenderam o tipógrafo. A polêmica foi deliciosa e os jovens "Pensadores" acabaram vitoriosos, levando de quebra a simpatia popular. A encrenca não pára por aí. A resposta à publicação d'O Mulato aparece em A Civilisação, em julho de 1881, com reguintes de agressào pessoal:
                                    
Eis aí um romance realista, o primeiro que brota no Brasil. É uma audácia, ou muita ignorância, ou ambas as coisas ao mesmo tempo! É contar demais com a ignorância dos leitores, com a benevolência da crítica nacional, e julgar os outros por si. Permita o jovem Zote, autor do Mulato, que me admire ainda uma vez. A sua compreensão sobre o realismo é de eternas luminárias! Melhor fora fechar os livros, ir plantar batatas e jurar com o antigo rifão:
                                        Abraçou o asno com a amendoeira
                                        E acharam-se parentes.
Para que o autor do Mulato nos desse a medida exata do seu realismo, devia abandonar essa vidinha peralvilha de escrevinhadelas tolas. Vá para a foice e o machado! Ele, que tanto ama a natureza, que não crê na metafísica, nem respeita a religião, que só tem entusiasmo pela saúde do corpo e pelo real sensível ou material, devia abandonar essa vidinha de vadio escrivinhador e ir cultivar as nossas ubérrimas terras. À lavoura, meu estúpido! à lavoura!
precisamos de braços e não de prosa em romances! Isto sim é real! A agricultura felicita os indivíduos e enriquece os povos! À foice e à enxada! Res non verba.
                                      
Naquele ano, Aluísio Azevedo e Eduardo Ribeiro foram para o Rio de Janeiro. A existência precisa de espaço e o espetáculo tem que ter platéia para que o drama seja consumado. São Luís fora importante como aprendizado e cruel com a ousadia iconoclasta. A história já lhes fazia jus à contribuição no processo de autonomia nacional. Aos rapazes estavam reservadas experiências bem distintas. A caserna e a boêmia ficam, então, na expectativa do desenrolar da festa e da briga que o Maranhão havia propiciado. O encontro de ambos se dará mais tarde, segundo o gue a história registra, quando Eduardo Ribeiro, já governador do Amazonas, contrata Aluísio Azevedo, então cônsul brasileiro na Espanha, para representar os interesses desse estado na Europa:

A EDUARDO RIBEIRO

Rio, 1 de janeiro de 1896.
- Desculpa que eu só agora te escreva., já em vésperas de deixar nossa terra e tendo, de mais a mais, de desvïrtuar um pouco o espírito desta carta com um pedido que nâo posso deixar de fazer. Se, porém, não te tenho dado de mim sinal de vida, tenho ao contrário recebido as melhores e mais constantes notícias tuas, já pela imprensa e pelas pessoas que aqui chegam dêsse opulento Estado, que governas com tanto brilho; e aproveito o ensêjo para te enviar as minhas retardadas, mas profundamente sinceras felicitações. - Por ma.is de uma vez o coração me tem querido saltar para o papel e enviar-te pelo correio saudades do nosso bom tempo e dizer o muito que êle te quer ainda, mas o demônio desta vida de escrivinhador fêz-me da tinta preta e da fôlha branca os terríveis espetros do meu tormento; de sorte que - escrever - tem sido até hoje aqui no Rio de Janeiro a minha grilheta, muito pesada e bem pouco lucrativa, da qual livro pulsos e tornozelos sempre que posso. Todavia como não são só o comer e o coçar que estão só no começar, conto seguro que continuarei a impingir-te cartas minhas do velho mundo, que para mim vai ser o novo. Fui nomeado para o vice-consulado de Vigo, e conto seguir para lá todo êste mês. A isto se prende o pedido que espero realizado em honra da nossa velha e boa amizade. É o caso que, sendo 0 ordenado de Vigo bem pouco animador, lembrei-me de arranjar contigo uma agência de imigração para o Amazonas, com os resultados da qual pudesse eu disfarçar pecuniariamente a precariedade do meu cargo (...).
Aluísio Azevedo (Azevedo, 1944).
                              
A capital do Império, e depois da República, sempre representou, para iodos aqueles que pretendiam transpor os limites da província e da mesmice que ela implicava, a possibilidade às vezes enganosa de expandir talentos, materializar sonhos, viabilizar ambições. Para os "Pensadores" maranhenses não foi diferente. No ano de 1881 desembarcaram na corte Eduardo Ribeiro, antes, e Aluísio Azevedo, mais tarde. Ambos trazem, porém, na bagagem as sementes de mudança colhidas nos debates e querelas com o conservadorismo maranhense, reflexo particular do imobilismo nacional, que tentava conter as mudanças que se impunham.
Depreende-se da literatura da época, imprensa inclusive, o estado de abandono em que se encontra o Rio de Janeiro que acolhe os migrantes de São Luís: o imperador não governa, deixando o país sob a anarquia, no mau sentido que tomou este termo entre nós; e o chamado povo, em nome de quem tudo se diz e se faz, à mercê das ambições dos partidos políticos, de um parlamento de faladores, dos credores ingleses e da Igreja, com o clero
levando vida mansa, e as finanças do país em completo colapso. Em uma carta de Aluísio Azevedo, respondendo a sua mãe, D. Emília Branco, que lhe cobrava explicações sobre uma matéria saída no jornal A Civilisação afirmando que ele, Aluísio, se tornara um engraxate e vivia maltrapilho pelas ruas do Rio de Janeiro, o autor d' O Mulato dá um depoimento não apenas da condição do escritor no Rio de Janeiro imperial, mas ainda dos referentes culturais que, certamente, lhe influenciavam a visão do mundo, como também das companhias que o freqüentavam na boêmia carioca: há que se observar que se trata de uma carta enviada à mãe aflita, portanto pintada com tons carregadamente tranqüilizadores. Ela é longa e o escritor teve a preocupação de fazê-la acompanhar de um desenho descritivo da casa em que morava:

(...) Passo aqui uma bela vida. Não dependo de ninguém! Nem do governo, nem do comércio, nem da lavoura. Só dependo de mim mesmo. - E ainda que vem V Mcê perguntar como fiquei depois da ida de Artur. O Artur é porventura meu pai? Algum dia o foi?! Em tempos mais apertados e mais longínquos não o foi, quanto mais agora! Desgraçada terra é esta a nossa que, quando um homem não é um empregado público, nem comerciante, nem traficante de negros, ou coisa que o valha, não pode ser considerado como homem independente - Irra com todos os diabos! Basta que reflitam por um instante que eu sou o único romancista que trabalha todos os dias no Rio de Janeiro, para se poder julgar que tenho um nome, uma posição, uma individualid.ade. Aqui sou o único homem da geração moderna que nunca está doente, que nunca falha, e que trabalha para três ou quatro jornais ao mesmo tempo. - E ainda se me pergunta como vivo! Vivo do trabalho. Não escrevo circulares e ofícios numa Secretaria, nâo meço chitas no balcão, mas arranco folhetins da cabeça, imaginando, criando, enriquecendo o pobre pecúlio de livros nacionais, sem que para isso fosse necessário passar cinco ou seis horas numa Academia com uma mesada de 100~000 ou em uma viagem à Europa, com ordem franca de um pai alcaide. Enquanto V M~ê pergunta como eu consigo viver, e enquanto,essas nulidades atenienses talvez cogitem o segredo de minha subsistência, aqui todo sujeito que conhece o Rio aponta-me como exemplo de coragern e de futuro. Em minha casa reúnem-se não os primeiros políticos do Brasil, mas sim os prirneiros espíritos. Aqui aparecem Machado de Assis, o França Júnior, o Almeida Reis, Vitor Meireles, Cardoso Meneses,Urbaroo Dmarte, Alencar Mendes, Ferro Cardoso, Patrocínio, etc. (Montello, 1975).

Os freqüentadores da casa de Aluísio Azevedo tinham na rua do Ouvidor seu ponto de encontro diário e na imprensa a força maior de suas armas. Uns mais, outros nem tanto, lideram a onda antimonarguista que incomoda a letargia imperial.
Respirando o mesmo ar, e seguramente atenta ao desmantelamento da velha ordem, a casena conspira a seu modo a implantação da res publica. Eduardo Gonçalves Ribeiro, da mesma linhagem de negros e mulatos que tiveram na Guerra do Paraguai a compulsória chance de fazer um "éxtra" no burlesco cenário da participação nacional, fora para o Rio de Janeiro tentar a vida na Escola Militar da Praia Vermelha, à época, com toda certeza, um dos poucos lugares sociais que abrigavam gente de sua origem gue estivesse disposta a ascender na escala do saber, da sobrevivência digna e socialmente respeitável.
O imperador, ao autorizar o recrutamento de negros e mulatos para cornbater na Guerra do Paraguai - momento vergonhoso de nossa história ; não imaginava, passado o evento, ser obrigado a conviver com a nova estrutura, forte e socialmente aceita, do Exército. O tal recrutamento libertava os escravos gue trocaram o fardo do trabalho pelo fardo do combate, experiência que vai permitir uma nova avaliação do escândalo que representava a ordem escravagista. Após a guerra, muitos negros e mulatos permaneceram na caserna e aí fizeram carreira.
Esse é um dado significativo para explicar a chamada Questão Militar - movimento importante a guestionar a hierarquia baseada no poder da Coroa - e ainda o papel preponderante representado pela Escola Militar tanto na abolição da escravatura como na do Império. Desde 1870, quando do surgimento do Manifesto Republicano, havia uma expectativa na participação dos militares, expressa no próprio corpo do texto. É claro gue a Questão Militar constitui mais um dos componentes fundamentais da batalha intensa travada contra a escravatura, e sua contribuição explica em grande parte o desenrolar da festa. Tanto no Amazonas como no Ceará, no ano de 1884, fora decretada a libertação dos escravos. Tal episódio repercutiu de forma particular nas hostes militares, acirrando mais ainda o debate abolicionista. Nesse momento, a liderança do tenente-coronel Sena Madureira, abolicionista convicto, é atingida por uma advertência pública da parte de seus superiores, preocupados com a proporção assumida pelo movimento. E o que poderia ser um fato isolado, com a contribuição da imprensa, se transforma numa celeuma em relação à qual era impossível não tomar partido.
Algumas constatações se tornam então necessárias: à classe dominante não era mais permitido contar com o aparelho militar para a manutenção da ordem escravista: no seio da próprio Exército sedimentara-se a consciência de que a escravatura tinha sua permanência ligada intrinsecamente à permanência do regime monárquico. Era preciso, pois, eliminar a ambas. Nossos manuais de história, escritos quase todos por historiadores manarquistas, fazem leituras distintas dos dois movimentos, dando ênfase à bondade imperi.al na promulgação da Lei Áurea e reduzindo o movimento republicano a um mero golpe de Estado sem a participação popular. Ora, a idéia e a prática antimonarquista já estáo presentes nas Conjurações Miyzeira e Baiana, Revolução Praieira, Balaiada, Cabanagem, Revoluçáo Farroupilha, Confederação do Equador e tantas outras revoltas.
A máxima positivista inspirada em Augusto Comte permeava a consciência e a conduta de toda aguela geraçào empenhada na instauração da ordem republicana. Essa geração tem alguns luminares que, por força de liderança e carisma, conseguiram catalisar as energias mudancistas. É consenso localizar na figura de Benjamim Constant a responsabilidade de ter interferido nos rumos que determinaram o fim do Império no Brasil. Sua figura, comentam os biógrafos - entre eles Ximeno de hilleroy, que lhe dedica um texto de quase quatrocentas páginas ; tinha todos os requisitos para constituir se em poderoso foco de proselitismo: saber, fluência expositiva, altivez, independência e coragem ante os poderosos da sociedade e da política. Consta que ele não ensinava apenas a equação da linha reta; suas aulas de matemática eram permeadas pelos relatos das leis que regem a sociedade e comandam a história, da ditadura da razão e da ciência como reguisito da construção da nova ordem. Dele disse Càndido Mariano Rondon: "Benjamim Constant operava o proaigio quase sobre-humano de transfigurar a sua cátedra de Geometria Algébrica em altar levantando à mais pura idealização da pátria" (Motta, 1976).
O referencial filosófico do positivismo comtiano naguele momento foi eficaz para desmistificar os dogmas eclesiáticos que disseminavam o servilismo espiritual e político como modo eficiente de segurar os conflitos e as mudanças.
A presença de Eduardo Ribeiro na Escola Militar da Praia hermelha de 1881 a 1887 e seu destacado desempenho acadêmico, comprovado pelos dados de sua Fé-de-Ofício, seguramente sinalizam o tipo de formação e influência recebida deste tumultuado momento da história, e que irá se manifestar mais tarde na sua gestão no governo do Amazonas. Aliás, segundo informações de sua Fé-de-Ofício, a ida para o Amazonas, em 1887, decorre
de "medida disciplinar, por ato do Senhor Ministro da Guerra": Medida compreensível se forem consideradas as relações próximas do mulato Eduardo Ribeiro com Benjamim Constant, Floriano Peixoto, Serzedelo Correa, Ximeno de hilleroy, todos integrantes da nova ordem iminente. Uma outra "curiosidade" refere-se à existência de dois documentos oficiais sobre a trajetória militar do Pensador. Um deles é uma certidão exarada pelo Ministério do Exército, Primeira Região Militar, a pedido da família Gonçalves Ribeiro, com data de 6 de outubro de 1968. Diz o seguinte:
                                      
                                     EM CUMPRIMENTO ao despacho do Excelentíssimo Senhor General Comandante da Primeira Regiâo Militar exarado no requerimento de parte interessada, CERTIFICO que, de acordo com os assentamentos da Fé-de-Ofício arquivada nesta
Secretaria Geral do Ministério do Exército, EDUARDO GONÇALVES RIBEIRO, nascido em 18 de setembro de 1862, em São Luís, Estado do Maranhão, de cor .branca, olhos verdes, cabelos castanhos anelados, 1m,76cm de altura, 75 quilos de peso, sem sinais particulares, filho de Joaquim José
Gonçalves Ribeiro e de Olga Thereza D'Alessandro Ribeiro (...)

O outro documento, a Fé-de-Ofício propriamente dita, localizado no Arquivo histórico do Exército, com certeza mais fiel às informações originais da vida militar de Eduardo Ribeiro, assim expressa:

Certifico que o ofcial abaixo declarado tem no archivo d'estte, Corpos assentamentos do theor seguinte: capitã.o EDUARDO GONÇALVES RIBEIRO, filho de Florinda Maria da Conceição, nasceu em mil oitocentos e sessenta e um, natural do Estado do Maranhão, cor parda, cabellos pretos crespos, sem officio: solteiro com um metro e sessenta centímetros de altura (... ).
                                    
Há mais de uma interpretação possível para mais este paradoxo da vida de Eduardo Ribeiro. Vem à tona, porém, uma constatação: a dificuldade da história em disrcutir e assinalar a presença da negritude na condução das transformações sociais. Treze de Maio de 1888 é apenas uma data. A cultura escravagista e a consciência preconceituosa não terminam por decreto.
Não querem estas nota.s cbamar para si a petuláncia de deslindar mistérios... eles são "necessários" à História. Elas terminam com duas insinuações extraídas de um croni.rta maranhense, Dunshee de Abranches, acerca de Eduardo Ribeiro, e se revelam atraente desafio a quem se atrever a levar a sério a memória desse Brasil ainda colonial:

(...) Em poucos lugares, porém como 0 Amazonas, mais difícil se mostrava essa tarefa [a afirmação da ordem republicanaJ, Eduardo Ribeiro, o Pénsador, embora houvesse passado o governo a Fileto Pires, que só mais tarde o trairia sem necessidade e sem proveito, gozava., como chefe de partido, de uma dessas popularidades que faziam lembrar Silveira Ma.rtins e José Mariano, em outros tempos. E, a par de um coração magnânimo e benfazejo, possuía ainda as mais distintas qualidades de um politico astuto e enérgico, sabendo comandar como poucos e como poucos criar dedicações sinceras, capazes de eclipsarem os ingratos que tanto 0 aborreceram e acabaram cavando-lhe a morte (...).
Havia nessa ocasião três vagas senatoriais: uma pelo Ceará, outra pelo Maranhão e a terceira pelo Amazonas. Pela segunda vez, o nome de Eduardo Ribeiro era trazido à barra do Senado em brilhante e triunfal eleição a voto descoberto: Jônatas Pedrosa, que apenas tivera umas centenas de sufrágios, nem mesmo se animara a disputar-lhe a cadeira (... ) Dias seguidos, na residência de uma das mais altas influências do partido nesta capital, engendraram-se atas puramente fantásticas, com as quais, em nome de Pedrosa, se disputou a eleição de Eduardo Ribeiro, e Ramiro Barcelos não tardava. a justificar, perante os seus amigos politicos, o seu voto contrário ao seu ilustre correligionário, sob o pretexto de livrar o Senado de ter um negro em seu seio, como se esse negro, pelo seu talento, ilustração e serviços à República, não fosse tão digno como os mais dignos de figurar na ma.is alta representação nacional (Abranches, 1973).
Ao que tudo indica, era mesmo preciso eliminar o Negro...

OBSERVAÇÕES DO AUTOR

Obs-No país das amazonas lendas e saques se confundem
Obs-No Maranhão da segunda metade do século XIX, o dero e
a ooroa tentam inutilinente frear o
vagão da história
Obs-A força da grana que ergue e destrói... a pólis maranhense
Obs-"A calma, o luxo e a volúpia" dos salões e dos solares não permitiam a peroepção da chegada da turma de São Benedito
Obs-A civilização do Pensador: Comte e Bakunin tomam de
assalto a sacristia
Obs-Os filhos da Terra de Santa Cruz sempre descambaram para o sincretismo perturbando em demasia a ordem católica oficial
Obs-A publicação d'O mulato, de Aluísio Azevedo, repercute
nos meios literários e constitui ingrediente oportuno da luta
antiescravagista
Obs-A existência precisa de espaço e o
espetáculo tem que ter platéia para que o drama seja
consmnado: Aluísio Azevedo e Fduardo Ribeiro
desembarcam no Rio de Janeiro
Obs-A boêmia e a caserna incomodam a sonolência imperial
Obs-"A ordem por base e o progresso por fim"
Obs-Depois da guerra do Paraguai, aumenta
nos documentos oficiais do Exército o registro da cor parda,
denominação esquisita para os responsáveis pela
funesta vitória




ÍNDICE

PREFÁCIO

Capítulo 01- UM ESTRANGEIRO NA LEGIÃO AMAZÔNICA

Capítulo 02- SOB TODOS OS FOGOS DA REPÚBLICA

Capítulo 03- ANATOMIA DE UM CRIME

Capítulo 04- NEM TUDO QUE É SÓLIDO SE DESMANCHA NO AR

Capítulo 05- DO MUNDO NADA SE LEVA

Capítulo 06- SEGREDOS E MISTÉRIOS

Capítulo 08- ANTES DO APENAS MODERNO

Capítulo 09- À SOMBRA DA PALMEIRA QUE AINDA HÁ

Capítulo 10- NOTAS SOBRE O BRASIL DO SÉCULO XIX

BIBLIOGRAFIA

LEGENDAS

CRÉDITOS

MÁRIO YPIRANGA MONTEIRO POR ELE MESMO


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CRÉDITOS



Negritude e Modernidade: a trajetória de Eduardo Gonçalves Ribeiro
Uma publicação do Governo do Estado do Amazonas sob a responsabilidade da Secretaria de Estado para Promoção do Desenvolvimento do Amazonas, em São Paulo.
Gestão: Sérgio Ferraz Frota, Marli Iolanda Guerreiro Frota Coordenação técnica e editorial: Alfredo Mário Rodrigues Lopes Texto: Mário Ypiranga Monteiro
Notas críticas: Alfredo Mário Rodrigues Lopes Projeto gráfico-editorial: Uns Comunicações Fotografia: Guilherme Fracornel
Secretaria editorial: Tânia Maria Camargo Diagramação e arte-final: Sebastião Nogueira
Revisão final: Maria Carolina de Araújo e Uera Sílvia de Oliveira Roselli (Sintagma Editorial) Fotocomposição: Camera Press
Fotolito: RJ Comunicações e Serviços

Pesquisa histórica: Biblioteca Pública do Amazonas
                             Biblioteca Pública do Pará
                             Biblioteca Pública do Maranhão
                             Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
                             Biblioteca Municipal Mário de Andrade - São Paulo
                             Biblioteca da PUC - SP Biblioteca da FFLCH - USP
                             Biblioteca do Senado Federal
                             Arquivo do Exército Brasileiro
                             Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas
                             Instituto Geográfico e Histórico do Maranhão

Colaboração: Arthur Cézar Ferreira Reis, Jomar Moraes, Robério Braga, Geraldo dos Anjos,                       Severiano Mário Porto, Benedito Gomes, Valdir Honorato dos Reis, Carmen Célia                       Albuquerque Carvalho, Gislene Bencim, Cyntia Guimarães Faria, Raul Gonçalves                                             Ribeiro, Orlando Farias, Ana dos Anjos Monteiro, Nestor Nascimento.

Os autores do texto e notas críticas cedem os direitos de publicação ao Governo do Estado do Amazonas para esta edição de 3. 000 exemplares.

Este álbum iconográfico contou com apoio do: Banco do Estado do Amazonas, Banco da Amazônia S.A., Gradiente da Amazônia S.A., Semp-Toshrba Amazonas S.A., herbatnn do Amazonas Industrial Ltda., 3M da Amazônia S.A., Omnipol da Amazônia Ind. e Com. Ltda.

IMPRIMIU: EDITORA UMBERTO CALDERARO LTDA


















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