APRESENTAÇÃO
Este livreto não se propõe a ser um documento de registro histórico, mas
sim um instrumento de efetiva utilidade para o turista mais exigente e
minucioso, que deseje conhecer Manaus mais intimamente, percorrendo a pé seus
becos, ruas e avenidas. São ao todo
cinco roteiros, cuidadosamente elaborados por Thérèse Aubreton - uma francesa
residente em Manaus e radicada no Brasil há anos, professora de história e
agente de viagens. Seus olhos e caneta captaram e registraram tudo o que aqui
pode ser desfrutado. A pesquisadora não se limitou a consultar livros e
documentos. Os cinco roteiros a pé foram atentamente feitos e refeitos, tendo
sido anotados cada detalhe pitoresco, cada aspecto curioso. Aspectos relevantes
da nossa história, arquitetura, hábitos e costumes, regionalismos, etc., foram
registrados. A Sra. Aubreton foi até mesmo à França, com o objetivo de estudar,
comparar e comprovar semelhanças e dados, fundamentando melhor ainda aquilo que
a FUMTUR lhe havia encomendado. O
resultado está aí, para o conforto e melhor aproveitamento da estada de nossos
turistas. Esta publicação da Prefeitura de Manaus, através da Fundação
Municipal de Turismo - FUMTUR, pretende
ser o início de outros relatos e registros para uso turístico.
Manaus, Agosto, 1996
ROTEIRO
3
PRAÇA DOM PEDRO II
A Praça Dom Pedro II é um harmonioso conjunto arquitetônico, que antigamente se chamou
"Largo do Pelourinho" e depois "Praça da República" (na época
da Proclamação). Construída em plena época da borracha 1893/1894), durante a
administração do Governador Eduardo Ribeiro ("O Pensador"), era a
mais importante praça da cidade e ponto de encontro da sociedade manauara, que
se deleitava passeando pelos seus jardins.
CHALET DE FERRO
Observe-se o belo coreto de ferro (chamado de "chalet de
ferro" pelos habitantes do bairro), fabricado pela firma inglesa Francis
Morton & Co. Ltd. Eng. Liverpool, de acordo com a inscrição localizada na
base quadrada das colunas.
Em estilo simples, foi edificado sobre uma base octogonal de alvenaria
maciça. As grades do parapeito apresentam círculos e elipses com flores
estilizadas. Oito esbeltas colunas sustentam o teto, que - no início do século
- era beirado por lambrequins, que
infelizmente não existem mais. As colunas sustentam, ainda, arcos decorados
muito elegantes, com rendilhado em ferro. O teto é formado por lâminas de ferro
galvanizado. Aí, nos finais de tarde, geralmente aos domingos, tocava a banda
do regimento militar.
Próximo ao coreto e datando da mesma época vê-se a .. .
FONTE DE BRONZE
A fonte é muito rica em detalhes, que devem ser cuidadosamente
observados de perto. A base de alvenaria divide-se em quatro partes, por
elementos de bronze pintados de verde. Em cada ângulo do conjunto vê-se
graciosos meninos com cara de anjinho, segurando ânforas que antigamente
jorravam água. Entre cada menino, acima de grandes conchas, vê-se casais de
seres do mar segurando tridentes. Mais acima, uma grande bacia de bronze recebe
as águas vertidas através das bocas de máscaras antigas, que lembram gárgulas.
A parte superior da fonte mostra quatro musas sentadas, cada uma segurando
objetos (lira, pergaminho, tridente, etc.). Note-se especialmente aquela que
segura uma prancheta, em que se vê gravado o pertil de um homem. No topo da
fonte observa-se outra bacia e quatro golfinhos de bronze artisticamente
segurando um globo.
A Praça Dom Pedro II, hoje um local sossegado, onde os aposentados reúnem-se para jogar dominó, foi
outrora palco de eletrizantes acontecimentos. Era exatamente ao seu redor que concentravam-se os teatros, bares, cabarés,
cafés e edifícios públicos, tão assiduamente frequentados pelas pessoas mais
ricas e importantes da cidade. No canto da praça, bem na esquina com a Rua
Governador Vitório, vê se a estrutura da fachada do prédio do antigo Hotel
Cassina, em cor avermelhada, durante muitos anos ameaçada de destruição, mas nos dias de
hoje já contida pelo Patrimônio Municipal.
HOTEL CASSINA
De propriedade do comerciante italiano Andréa Cassina, foi construído em
1899 e durante anos foi hotel de 1° classe, que hospedava ricos comerciantes e
atores teatrais famosos, de passagem por Manaus, vindos do sul do país ou do
exterior. Conta-se, inclusive, que o brilhante escritor Coelho Neto ali teria
se hospedado quando de estada em Manaus. O prédio compõe-se de dois pavimentos,
com alguns elementos simples de decoração acima dos arcos rebatidos das janelas
e das portas. No 2° pavimento observa-se uma pequena sacada com parapeito de
ferro forjado. A Prefeitura de Manaus planeja restaura-lo para devolvê-lo à
comunidade em toda a sua beleza do início do século, mas pertence ainda, a uma
família local. A história do Amazonas da época da borracha está muito ligada ao
jogo e o Hotel Cassina, com toda a certeza, foi palco de grandes apostas e muita
diversão.
Com a crise dos anos 20 e 30 e o consequente empobrecimento das
populações o hotel pouco a pouco transformou-se em pensão e cabaré. Havia dança
no térreo e jogo no
1° andar. Nos anos 40 decai mais ainda tornando-se lugar de prostituição
e encerra as suas atividades nos anos 50. Desde então abandonado, hoje ainda é
conhecido como Cabaré Chinelo, em decorrência da decadência que caracterizou
seus últimos anos de boêmia. O prédio, em ruínas, e propriedade de uma família
local.
Siga pela mesma calçada até a Rua Bernardo Ramos. Vê-se agora o prédio
onde funciona o Arquivo Público do Estado do Amazonas, criado em 1852 e
regulamentado em 1897, que possui vasto acervo, inclusive com manuscritos da
época da Província, e documentos oriundos da administração pública estadual. A
edificação perdeu sua originalidade em decorrência das muitas transformações
sofridas.
Ao fundo da Praça Dom Pedro II, na Rua Gabriel Salgado, ergue-se o
prédio da Prefeitura Municipal de Manaus.
O PRÉDIO DA PREFEITURA
Conhecido como "Paço Municipal", seu verdadeiro nome é
"Paço da Liberdade", sua construção foi iniciada em 1874. Em 1879 ele
passa a abrigar a sede do Governo Provincial e, posteriormente, com a
Proclamação da República, passa a ser utilizado como Administração do Governo
Republicano. Novamente, em 1917, começa a sediar o Governo Municipal, quando o
Governo do Estado instala-se no Palácio Rio Negro.
A fachada é um dos primeiros exemplos de arquitetura neoclássica em
Manaus. O edifício tem um só pavimento, subdividido em três seções. A parte
central é composta por um pórtico com duas colunas e duas pilastras em estilo
toscano, que suportam um entablamento simples, com um frontão triangular vazado
por um óculo, onde foi colocado o escudo da municipalidade de Manaus. Nas laterais
observam-se três janelas - a do centro com frontão triangular e as duas outras
com frontões curvos. No Salão Nobre nota-se o teto com motivos amazônicos
trabalhados em estuque e nas paredes encontram-se expostos quadros retratando a
grande maioria dos prefeitos e antigos superintendentes municipais. O prédio
também abriga duas valiosas telas - uma do Imperador D. Pedro II (de autoria do
artista Aurélio Figueiredo); e outra da Princesa Isabel, assinando a Lei Áurea
(que libertou os escravos no Brasil), lamentavelmente mutilada por vândalos.
Encontra-se, ainda, uma bela peça em madeira entalhada, que data do século XIX,
lavrada em folhas de louro e encimada por doís anjos, que sustenta o escudo com
as armas da cidade. Várias reformas foram realizadas desde o início do século.
O PALÁCIO RIO BRANCO
Na esquina da Av. Sete de Setembro com a Rua Taqueirinha, situa-se o
Palácio Rio Branco, atual sede do Poder Legislativo do Estado, Trata-se de
prédio em estilo eclético, construído entre os anos de 1905 e 1938, formado de dois pavimentos e
apresentando três seções. O corpo central é ligeiramente proeminente, com um
pórtico, com numerosos elementos de decoração na fachada (desenhos geométricos,
balaustradas de mármore nas janelas, etc.), Na frente, duas estátuas de bronze
representam elegantes mulheres segurando um globo, No interior, impressionam o
teto de estuque e uma bela escada de ferro. Durante algum tempo o prédio abrigou
o Museu de Numismática do Amazonas, que hoje está sediado na Praça da Polícia.
Percorra agora a Av. Sete de Setembro (entre os prédios da Prefeitura e da
Assembleia) e caminhe até o seu final. No n° 188 existe uma casa bastante
interessante. Note a belíssima vista do Igarapé de São Vicente, Volte cerca de
50 m, e dobre à esquerda. Entre na Rua Bernardo Ramos, antiga Rua São Vicente,
que é uma das mais antigas de Manaus. Dobre novamente à esquerda a caminhe até
o final da rua, onde se situa o prédio da Ilha de São Vicente.
O PRÉDIO DA ILHA DE SÃO VICENTE
Edificado em estilo colonial, com linhas simples e sem muitos
ornamentos, tem fachada de paredes espessas, com portas em arco pleno e molduras
imitando cantaria. A parte central mostra um tipo de frontão, com acabamento de
ameias e com a estrela da República ao centro. Não se sabe com exatidão a época
em que o prédio foi construído. No entanto, certamente deve ter sido antes de
1852, vez que a planta da cidade, nessa época, já exibia o edifício naquele
lugar. Desde 1857 o prédio passa a ser conhecido como "Enfermaria
Militar". Hoje pertence à Administração das Hidrovias da Amazônia
Ocidental. Os guardas do local, caso possível, permitirão a entrada para
fotografias.
Por detrás do prédio pode-se ter uma vista bastante interessante do Rio
Negro, com barcos ancorados ao longo das margens e, mais ao longe, as
pitorescas casas tipo "palafitas" do Bairro de São Raimundo.
Observe atentamente, ao lado do prédio, a existência de uma árvore caída
que brotou curiosamente em vários lugares diferentes.
Saia da Ilha de São Vicente e retorne à Rua Bernardo Ramos ... Ela
surpreende pela beleza de suas numerosas casas, especialmente aquelas mais
antigas que datam do final do século XIX e início do século XX.
As casas de n°s 57, 61 e 69, à esquerda, são particularmente notáveis.
à direita veem se as casas de n°s 60 e 66, que datam de 1908.
A CASA MAIS ANTIGA DE MANAUS
Siga em frente até a casinha verde de n° 77. Em estilo colonial, datada
de 1819, trata-se da mais antiga casa de Manaus, hoje em estado precário de
conservação.
Foi a residência do vereador José Casimiro Prado, que ajudou a construir
o 1° teatro da cidade, onde atualmente funciona a Capitania dos Portos, próximo
ao Mercado Municipal.
Daqui pode ver-se belo casarão de dois pavimentos, construído na época
da borracha e, ainda, do outro lado da rua (no n° 98) bela casa que durante
algum tempo sediou a Fundação Municipal de Turismo (FUMTUR),
Ande agora até o n° 117, onde funciona o Instituto Geográfico e
Histórico do Amazonas.
O INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DO AMAZONAS
Fundado em 1917 o I,G.H,A. possui preciosidades históricas do Brasil e
do Amazonas em seu acervo.
A casa, que ostenta portas em arco pleno no térreo e simples janelas com parapeitos no 2°
pavimento, tem o nome de Bernardo Ramos, que jamais morou ali. Trata-se de uma
sociedade civil privada, sem fins lucrativos, voltada ao estudo da Geografia,
Arqueologia, Antropologia, e Sociologia do Amazonas, que reúne intelectuais das
mais diversas tendências. Possui museu, biblioteca, hemeroteca, objetos
diversos e fotografias de Manaus antiga. Em 1934 o museu incorporou ao seu
acervo grande coleção de trabalhos indígenas catalogados pelo etnólogo Crisanto
Jobim (o museu é conhecido pelo mesmo nome).
Podem ser vistos objetos de inestimável importância arqueológica e
etnográfica, como por exemplo; peças de armamento da guerra do Acre, animais
empalhados, couros e crânios de animais da região, coleções de borboletas,
cerâmicas e armas indígenas, material de pesca, cestaria, tangas, arte
plumária, colares, máscaras, vestuários, urnas funerárias, amuletos
("muiraquitãs"), machados de pedras, etc.
Continuando a caminhada note a elegância dos belos lampiões antigos.
Do outro lado da rua vê-se o imponente prédio azul da Loja Maçônica
Esperança e Porvir.
A LOJA MAÇÔNICA "ESPERANÇA E PORVIR"
A loja foi fundada em 1872 por 27 maçons iniciados em outros Estados.
Várias personalidades importantes da vida nacional e local iniciaram-se nessa
casa, como por exemplo o Marechal Floriano Peixoto, que foi o 1 ° Presidente da
República, o Governador Eduardo Ribeiro e vários outros Governadores
amazonenses - Silvério Nery, Constantino Nery, Antonio Bittencourt, etc.
Mais ao longe, próximo à Prefeitura, funcionava na época da borracha uma
cocheira, isto é, um abrigo para cavalos.
Caminhe até a Praça D. Pedro II e dobre à esquerda para chegar à Rua
Frei José dos Inocentes ...
Antiga "Rua Independência", ela ainda guarda algumas casas
antigas, em um ambiente tranquilo longe da agitação do Centro. Chamou-se também
de "Rua do Trem", porque certa época abrigou um depósito do exército,
Pode-se observar várias casas antigas, de linhas muito singelas, e bela vista
dos fundos do prédio do I.G.H,A.
Caminhe até o fim da rua para desfrutar de sensacional vista do prédio
da Cervejaria Miranda Correia, ao longe, na outra margem do igarapé.
A CERVEJARIA "MIRANDA CORREIA"
A cervejaria, fundada em 1910, localizada às proximidades da antiga
usina elétrica, fabricava a cerveja XPTO, famosíssima na época, e - ainda - uma
cerveja escura chamada Ouro Sobre Azul. Possuiu os primeiros elevadores de que
se tem notícia na cidade e que funcionaram há alguns anos. Em seu interior
possuía salões suntuosos, inaugurados magnificamente pelo Presidente Washington
Luiz, que receberam artistas famosos, políticos e visitantes ilustres. O estilo
da construção lembra muito mais um castelinho medieval do que propriamente um
prédio industrial. O prédio hoje é ocupado pela Cervejaria BRAHMA.
A ILUMINAÇÃO PÚBLICA
A iluminação pública em Manaus, feita com naphata, foi
inaugurada em 1896. Entre os anos de 1898 e 1908 o serviço
foi desempenhado pela firma inglesa Manaus Electric Lighting company.
Volte pela Rua Frei José dos Inocentes até a Rua Governador Vitório, A
última casa à esquerda, pintada de cor-de-rosa, data de 1904. Daí vê-se a parfe
de trás do antigo Hotel Cassina.
Nosso roteiro termina onde começou, na Praça Dom Pedro II.
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