sábado, 16 de janeiro de 2016

"CAMINHANDO POR MANAUS" - O CENTRO HISTÓRICO - PARTE I


APRESENTAÇÃO

Este livreto não se propõe a ser um documento de registro histórico, mas sim um instrumento de efetiva utilidade para o turista mais exigente e minucioso, que deseje conhecer Manaus mais intimamente, percorrendo a pé seus becos, ruas e avenidas.  São ao todo cinco roteiros, cuidadosamente elaborados por Thérèse Aubreton - uma francesa residente em Manaus e radicada no Brasil há anos, professora de história e agente de viagens. Seus olhos e caneta captaram e registraram tudo o que aqui pode ser desfrutado. A pesquisadora não se limitou a consultar livros e documentos. Os cinco roteiros a pé foram atentamente feitos e refeitos, tendo sido anotados cada detalhe pitoresco, cada aspecto curioso. Aspectos relevantes da nossa história, arquitetura, hábitos e costumes, regionalismos, etc., foram registrados. A Sra. Aubreton foi até mesmo à França, com o objetivo de estudar, comparar e comprovar semelhanças e dados, fundamentando melhor ainda aquilo que a FUMTUR  lhe havia encomendado. O resultado está aí, para o conforto e melhor aproveitamento da estada de nossos turistas. Esta publicação da Prefeitura de Manaus, através da Fundação Municipal de Turismo - FUMTUR,  pretende ser o início de outros relatos e registros para uso turístico.
Manaus, Agosto, 1996

ROTEIRO 1


Saída da Praça São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas.


MONUMENTO À "ABERTURA DOS PORTOS"

No centro da praça pode ser observado o Monumento Comemorativo à Abertura dos Portos e Rios da Amazônia à Navegação Estrangeira, ocorrida em 1866,
Este monumento não é o original. O primeiro levantado era somente um obelisco, inaugurado em 1867, registrando a data do acontecimento histórico.


Em 1899, com a riqueza advinda da exploração da borracha, ergue-se outro monumento (o atualmente existente) mais imponente e de maior valor artístico, sob a supervisão e criação do artista italiano DOMENICO DE ANGELIS, que na época dedicava-se à decoração do salão nobre do Teatro Amazonas, então em construção, Todo o material foi importado  da Europa, especialmente da Itália. O granito, por exemplo, foi trazido de Bavena e a frisa, ao meio do monumento, foi fabricada em mármore de Carrara.  Os elementos em bronze, na forma de máscaras no estilo antigo, dispostos na frisa, foram fundidos em Gênova. A estátua, ao cimo do monumento, também em bronze, realizada nos famosos ateliês de Enrico Quatrini, em Roma, é uma alegoria ao comércio. Ao lado vê-se uma estátua do deus Mercúrio sentado em uma engrenagem (símbolo da Indústria e Comércio), cercado por três meninos, em bronze.
Inaugurado em 1900, no ano da comemoração do quarto centenário do Brasil, o monumento simboliza os quatro "cantos do mundo" - África, Europa, Ásia e América, cada  um  representado pela proa de uma embarcação, com um menino sentado.







No barco da África, sentado em uma cabeça que simboliza o Egito, com símbolos também egípcios, um menino segura duas presas de elefante; o barco da Europa, que exibe uma águia à proa, mostra um menino segurando um globo terrestre; o barco asiático mostra o "croissant"; símbolo dos muçulmanos, caracteres antigos gravados à proa e o menino às costas de um leão; no barco da América encontram-se agrupados elementos decorativos diversos, com o menino à proa e uma serpente enrodilhada na quilha do barco.
O monumento registra a data de XV de Novembro de 1889, em que se comemora a Proclamação da República do Brasil, ressaltando o nome de José Cardoso Ramalho Júnior, na época governador do Estado.
Em 1995 a praça foi integralmente recuperada pela Empresa XEROX DO BRASIL.


A maioria das árvores que cercam a praça são Oitis ("Licania tomentosa" ) e Viuvinhas ("Petrea volubilis schauer"). O piso - com desenhos sinuosos que posteriormente teriam inspirado as calçadas de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro - simboliza o encontro das águas dos rios Negro e Solimões.


TEATRO AMAZONAS

Em frente à praça ergue-se imponente o Teatro Amazonas, sem dúvida o mais importante marco de nossa Cidade, símbolo de anos de fausto poder (época áurea da borracha, entre 1890 e 1910 , com muitas estórias verdadeiras ... e falsas. A sua edificação caracteriza um período em que o leite da seringueira tudo comprava. Era a época da borracha!
O projeto de construção do teatro data dos idos de 1881. Em 1883 o Governo do Estado aprova as plantas do "Gabinete Português de Engenharia e Arquitetura de Lisboa" e as obras são iniciadas em 1884, numa antiga roça localizada perto do aterro do Igarapé do Espírito Santo (hoje Av. Eduardo Ribeiro).


A firma italiana ROSSI & IRMÃOS incumbe-se da realização das obras, mas tem sua contratação cancelada pela lentidão e irregularidade constatadas no trabalho. Assim, a construção é paralisada em 1886 e vai reiniciar-se somente em 1893, sob o impulso empreendido pelo Governador Eduardo Ribeiro, que - motivado pela falta de material de construção e mão de obra - opta pela importação de matéria prima, operários, artistas, decoradores...
A cúpula do Teatro Amazonas, símbolo da cidade, foi duramente criticada pela opinião pública da época, que a julgava uma extravagância.
A armação de ferro foi importada da Europa e as telhas envernizadas,formando os contornos da bandeira brasileira, nas cores verde, amarelo, azul e branco, foram importadas da Alsásia (região francesa onde tradicionalmente os tetos de certas casas são cobertos com telhas similares), acondicionadas em redes durante a travessia do Atlântico.
A grandiosidade da cúpula, com seus contornos formando a bandeira brasileira, nas cores próprias, permitia que pudesse ser divisada ao longe pelos barcos que aportavam a cidade, lembrando a sua permanência em terras brasileiras.
Aproximemo-nos agora da entrada do Teatro.
Subindo as escadas principais de acesso observaremos, no frontão, uma alegoria em homenagem à música , à poesia, ao teatro e à arquitetura, com duas elegias - uma acompanhada por lira e máscara e outra segurando um compasso e pergaminhos. No alto encontram-se registradas as datas históricas da inauguração (1896) e das várias reformas havidas até os dias de hoje.
Durante anos a cor de suas paredes externas foi veementemente questionada pelos estudiosos. Na dúvida, as opiniões divergiam entre o cinza e o rosa. Pesquisas muito cuidadosas foram realizadas a esse respeito, quando da última reforma (1989/1990 ) e chegou-se à conclusão que, ao que parece, o teatro não estava ainda pintado na época de sua inauguração. No entanto, pelas evidências, a primeira pintura teria sido feita efetivamente em róseo.
Erguem-se em frente à fachada duas estátuas - à esquerda uma mulher, tendo às mãos uma lira estilizada com os contornos de um casco de tartaruga, simboliza a música; e à direita uma mulher, com pena e prancheta às mãos, simboliza a poesia.
Em estilo neoclássico, com adaptações regionais (tais como as calhas que saem das máscaras), vê-se ao lado esquerdo da fachada o baixo relevo de um rosto sorridente, a comédia, personificada pela musa Thalie e, ao lado direito, a fisionomia fechada da tragédia, caracterizada pela musa Melpomene. Essas representações, inclusive, são notadas em vários pontos da parte externa do prédio.
O revestimento do piso ao redor do teatro foi especialmente fabricado com uma liga de borracha para que o forte ruído das rodas das carroças pudesse ser abafado,
Penetremos agora no prédio ...
No "foyer" da entrada observam-se, ainda, antigos bancos de ferro em estilo "art-nouveau". Os pedestais das colunas e o piso são em mármore de Carrara. A sala de espetáculos (a plateia), com 685 lugares, mostra-se em seu estilo original após a reforma havida em 1989 que, apoiada em cuidadosas pesquisas, primou pela obediência aos padrões originais, exceto o veludo das cadeiras em jacarandá (originalmente em palhinha) e do sistema de refrigeração central.
O pano de boca, com 195 m2, confeccionado pelo artista pernambucano Crispim do Amaral , cenógrafo da "Comédie Française", em Paris, faz alegoria ao "Encontro das Águas" (dos rios Negro e Solimões) e mostra grandiosa pintura da deusa IARA circundada por aspectos da flora e fauna regionais.
Interessante é que, ao contrário da realidade, na alusão ao "Encontro das Águas", os rios (negro e barrento) encontram se representados com a mesma cor... O pano foi pintado em Paris e trazido depois para Manaus e lá não se sabia dessa diferença! A fim de que a pintura não sofra danos o pano não se enrola, mas sobe reto numa só peça teto adentro.
O palco nos dias atuais é sofisticado. Foi construído dentro dos mais avançados padrões e é acionado por sistema hidráulico, que permite a subida e descida de nível conforme as necessidades do espetáculo. Na apresentação de óperas, por exemplo, a orquestra fica comodamente alojada no fosso, em frente ao palco.
O teto mede 220 m2 e foi concebido em Paris, nos ateliês da "Maison Carpezot". Observando-se atentamente a pintura tem-se a impressão de estar embaixo da Torre Eiffel (Paris), na época recém-inaugurada, em comemoração aos cem anos da Revolução Francesa, representava o protótipo do modernismo da arquitetura. Observa-se, entre as bases da torre, quatro interessantes cenas alegóricas representando a dança, a música, a tragédia e - por último - uma homenagem à Carlos Gomes com motivos das óperas "TOSCA", "CONDOR" , "O GUARANI" e " LO SCHIAVO" , todas de sua autoria.
Importado da França, o lustre central desce ao chão para permitir a reposição das lâmpadas.
As grades dos camarotes, as colunas e todas as peças de ferro da sala, foram importadas da França .
Ao redor da sala observam-se máscaras teatrais homenageando os grandes vultos da música e do teatro, desde os gregos antigos (Ésquilo e Aristófane) até os mais recentes Verdi (ainda vivo na época da inauguração do teatro), Shakespeare, Molière, Rossini, Schiller, etc.
O teatro foi oficialmente inaugurado em 31 /1 2/1896, com uma apresentação local. Em 1897 é exibida a ópera LA GIOCONDA, de Ponchielli, com letra de Arrigo Boito, inspirada na peça de Victor Hugo "ANGELO, TYRAN DE PADOUSE" , pela Companhia Lírica Italiana.
As apresentações das grandes companhias europeias prolongaram-se até 1907, quando a Companhia Lírica  Francesa encerrou o ciclo áureo do teatro, com a apresentação da ópera LA JUIVE, de Halévy. Inicia-se o declínio do lucrativo comércio do látex e o teatro entra em uma triste fase de abandono, ao ponto de ter suas galerias utilizadas como depósitos de borracha, durante a 2°. guerra mundial.


O SALÃO NOBRE

No segundo piso localiza-se o salão nobre, que naquela época era frequentado por visitantes ilustres, durante os intervalos dos espetáculos, para conversas e fumo ou, ainda, para elegantes bailes que reuniam a nata da sociedade manauara. O piso deste salão, confeccionado em madeiras brasileiras e europeias (pau-brasil, carvalho, pinho de Riga, jacarandá, etc.), é constituído de 12.000 peças, encaixadas sem a utilização de pregos ou cola.


O desenho do piso é atribuído a Domenico de Angelis (Pintor italiano ligado ao ateliê do Prof  Capranese em Roma que também trabalhou na decoração do Teatro da Paz em Belém/PA) que,auxiliado pelos artistas também italianos Francisco Alegiane, Adalberto de Andreis e Sílvio Centofanti (autor dos murais da Igreja de São Sebastião), pintou ainda o teto e as paredes.
O teto, de 125 m2, datado de 1899, é o segundo do Brasil pintado com motivos profanos e representa a "Glorificação das Belas Artes na Amazônia". Alguns detalhes foram realizados em ouro de 14 quilates. A obra produz uma fantástica ilusão de movimento: o observador, ao deslocar-se, tem a sensação de que certos detalhes do conjunto também se movimentam.
Sabe-se que o Salão Nobre foi acabado depois da inauguração da sala de espetáculos, em 1 899.
Nas paredes, Domenico de Angelis pintou falsos "gobelins", imitando tapeçaria, com alegorias enfatizando a fauna, flora e comércio local; os igapós; a pesca no Rio Negro; aspectos da cidade; vista do Rio Amazonas e a cena final da ópera O GUARANI (de Carlos Gomes), com o índio Peri salvando Ceci de um incêndio. Os quadros foram pintados em tela e afixados depois de prontos.




As colunas têm base em mármore de Carrara e o corpo estucado para dar a impressão de tratar-se de ferro. Sobressaem magnificamente trinta e dois candelabros em cristal de Murano, portas com moldura em mármore de Verona e dois grandes espelhos importados da França colocados de forma a refletirem-se um ao outro, dando ideia de infinito - são importantes detalhes que complementam a grandiosidade do conjunto. Este tipo de recurso é típico dos estilos barroco e rococó.
Os móveis são brasileiros, fabricados no Rio de Janeiro.
No terraço , vários bustos homenageiam os grandes virtuoses da música e do teatro, inclusive o compositor Cárlos Gomes (de O GUARANI) e o dramaturgo João Caetano (1808-1863), que fundou em 1833 a primeira companhia dramática do Brasil, em Niterói.



Na fase áurea da borracha o teatro possuía móveis importados da Europa; porcelanas chinesas, francesas e japonesas; bibelôs de Sévres (centro de fabricação de cerâmica de luxo, próximo a Paris) ; tapetes e cortinas da Síria (Damasco). Na verdade, quase tudo foi importado da Europa, com exceção do material elétrico que foi adquirido na América (Nova York), especialmente porque o "chic" se encontrava lá... e Manaus era muito "chic" ... Muitas das peças outrora adquiridas hoje não mais existem.
Muitas estórias são contadas acerca da apresentação no Teatro Amazonas de lendárias personagens do teatro e da música. Caruso e Sarah Bernard, que estiveram no Brasil, jamais vieram até Manaus. No entanto, numerosos artistas, famosos na época, se apresentaram em seu palco, destacando-se Giovanni Emanuel, Lucila Perez, Josefina Rebledo, Guiomar Novais e Heitor Villa-Lobos, uma vez que Manaus fazia parte do circuito dos navios que traziam as grandes companhias de espetáculos para a América do Sul e para os Estados Unidos da América.
Em 1996, em comemoração ao centenário do teatro, apresentou-se o tenor espanhol José Carreras, junto com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Assim, a Opera de Manaus (Teatro Amazonas) ainda faz jus à tradição de seu glorioso passado.
Duas casas de espetáculo serviram de modelo ao Teatro Amazonas - o SCALA de Milão e o Palácio GARNIER, de Paris. O Palácio GARNIER, Opera de Paris, com 2156 lugares, foi construído entre 1862 e 1875, durante as grandes obras de reforma de  Paris, dirigidas pelo Barão Haussmann, no Segundo Império. O SCALA, de Milão, com 3600 lugares, é o mais antigo e foi construído em 1776 - trata-se de um dos maiores teatros do mundo.
Saindo do teatro, dirija-se à parte de trás...


Nos terraços laterais duas estátuas (de um homem e uma mulher) representam índios segurando tochas.
Aos fundos duas belas  estátuas femininas chamam a atenção - a da direita empunha uma espada e a da esquerda mostra-se envolvida em pesada túnica desde a cabeça, segurando um ramo de flores.
Interessante observar na parte lateral e nos fundos do teatro que existem suspensas interessantíssimas luminárias em estilo antigo.
Do terraço posterior do teatro tem-se uma belíssima vista do Palácio da Justiça. 



O PALÁCIO DA JUSTIÇA

Descendo as escadarias estaremos em frente ao imponente Palácio da Justiça. Sua edificação, iniciada pela firma inglesa MOERS & MORTON, em 1894, na gestão do Governador Eduardo Ribeiro, é completada em 1900, na gestão do Governador José Cardoso Ramalho Júnior, por uma firma brasileira.
Durante todos esses anos o prédio manteve-se sempre com a sua destinação original de abrigar a sede do Poder Judiciário.
O estilo da construção foi inspirado na arquitetura do 2° império francês, acrescentado de elementos tardios do neoclassicismo inglês.


A edificação de dois pavimentos teve sua aparência externa cuidadosamente preservada ao longo de mais de um século.
O térreo tem revestimento de alvenaria, com tratamento de bossagem, janelas e portas em arco pleno e colunas do pórtico da ordem toscana. O segundo andar caracteriza-se por alvenaria lisa, janelas de púlpito de verga reta, com frontões curvos e triangulares e colunas do pórtico da ordem composita.
A escada monumental da fachada é de mármore.
Na parte superior da fachada uma grande estátua de TEMIS ( a deusa grega da Lei e da Justiça ) , de olhos desvendados, segura à mão direita uma espada e à esquerda uma balança. Embaixo um medalhão onde se lê - LEX (Lei). Ao contrário das representações comuns da Justiça verifica-se que a estátua não tem venda sobre os olhos, o que a torna bastante incomum, uma vez que Têmis é tradicionalmente apresentada cega. Por outro lado, ainda, nota-se que a balança em suas mãos pende, em desequilíbrio, para um dos lados.
O interior é barroco, com profusão de ornamentos.
Por tratar-se de uma repartição pública a visitação é bastante restrita.
Observa-se, ainda, bem na esquina da Av. Eduardo Ribeiro com a Rua 1 0 de Julho, em frente ao Palácio da Justiça, os vestígios dos trilhos de bonde. Manaus, rica em borracha, foi uma das primeiras cidades brasileiras a possuir bondes elétricos, desde o final do século XIX, antes inclusive das grandes cidades do leste-sul.


MANAUS E OS BONDES

Em 1889 foi inaugurada em Manaus a primeira linha de bondes. Em 1893, sob a gestão do Governador Eduardo Ribeiro, novo impulso é dado ao serviço. Em 1896 é inaugurado o Serviço de Viação Pública, que levava os passageiros do centro para os subúrbios e vice-versa. Finalmente, em 1908, a empresa passa a ser administrada pelos ingleses da "The Manaos Tramways and  Light Co. Ltd." A pontualidade britânica reflete-se na obediência rigorosa dos horários e o bonde passa a ser referencial sempre que se desejava saber as horas. Até o ano de 1939 não havia em Manaus outro meio de transporte coletivo além do bonde.
Atrás do Palácio da Justiça, na Rua 1 0 de Julho, localiza-se o hospital SANTA CASA DE MISERICÓRDIA, construído em estilo eclético.


A data de 10 de Julho é alusiva à comemoração da libertação dos escravos no Amazonas, ocorrida em 1884, quatro anos antes da abolição no Brasil.
Diversas fachadas de casas particulares, em diferentes estilos arquitetônicos, datando da época áurea da borracha, poderão ser notadas,
Na esquina da Av. Eduardo Ribeiro com a Rua Monsenhor Coutinho situa-se o IDEAL CLUBE (um prédio verde), famoso desde a época da borracha e até hoje ainda um dos mais frequentados pela elite manauara.


Dobre a esquerda e entre na Rua Monsenhor Coutinho. A cinquenta metros localizam-se dois prédios muito interessantes - um utilizado como funerária e outro como laboratório de análises (pela parte interna  ambientado historicamente), ambos datados do início do século. Vale a pena entrar no pátio e observar mais de perto. O pessoal é especialmente amigável com os visitantes.
Rua abaixo, à esquina da Monsenhor Coutinho com a Rua Ferreira Pena, situa-se o Consulado do Japão. O prédio é antigo e possui detalhes arquitetônicos interessantes, como um busto de mulher no canto da casa, dominando o frontão. Manaus tem uma colônia japonesa e numerosos navios de bandeira nipônica aportam frequentemente em seu cais.
Dobre agora à direita, na Rua Ferreira Pena, até o cruzamento com a Rua Ramos Ferreira.
Na esquina ergue-se um belo casarão, datando de 1909, recentemente reformado. As cores, em tons pastéis, combinam entre si ressaltando detalhes arquitetônicos interessantes. Pelas janelas do térreo, vê-se um belíssimo porão, com abóbadas em pedra, antiga adega e hoje um salão de negócios.
À esquerda vê-se a Praça Cinco de Setembro, também chamada de Praça da Saudade, pois no passado havia um cemitério às suas proximidades, no mesmo lugar onde hoje está localizado o Atlético Rio Negro Clube.
A praça é arborizada com sibiripirunas (Caesalpina pelthoroides benth), allamandas, papoulas e "frutos de cachorro" (Dillenia indica L), Ao meio ergue-se um monumento erguido em homenagem a Tenreiro Aranha, que foi o 1 ° presidente da Província do Amazonas.


TENREIRO  ARANHA E O CINCO DE SETEMBRO

No século XIX, a região de São José do Rio Negro ainda encontrava-se subordinada à administração de Belém (Pará).Em 1844,inconformado com a situação, João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha inicia renhida luta com o móvel de conseguir a independência e, assim, nasce em cinco de setembro de 1852 a Província do Amazonas, que tem o próprio Tenreiro Aranha como o primeiro presidente. Grande trabalho social e cultural é realizado até 1852. Vítima, porém, das intrigas e perseguições morre Tenreiro aranha, pobre e esquecido, em 1862.
Na época da independência da Província do Amazonas a capital ainda não se chamava Manaus. Em 1848, é elevada à categoria de cidade, com o nome de Barra do Rio Negro, com mais ou menos 600 habitantes. Só em 1856 é que o nome Manaus, subtraído de uma das tribos indígenas do Rio Negro, vai identificar a cidade.


Ainda na Praça da Saudade, no trecho que ladeia a Rua Ferreira Pena, pode-se observar um chafariz moderno, que exibe duas esculturas curiosas, uma representando um homem pré-histórico segurando um machado de pedra e outra reproduzindo um homem moderno.
Na esquina da praça com a Rua Simão Bolívar vê-se outro prédio antigo, em estilo árabe. Trata-se do Palácio Cinco de Setembro.
Retorne pela mesma Rua Ferreira Pena e dobre a esquerda, na Rua Ramos Ferreira , até a Praça do Congresso, no final da Av. Eduardo Ribeiro.


A PRAÇA DO CONGRESSO

Seu nome homenageia o Congresso Eucarístico Diocesano de Manaus, que em 1942 comemorou os 50 anos de criação do bispado, quando gigantesca procissão fluvial aconteceu, de Belém até Manaus, subindo o rio Amazonas. O monumento que se ergue, em frente ao Instituto de Educação do Amazonas, representa N. S. da Conceição, a Padroeira do Amazonas, e também comemora o quarto centenário da descoberta do Rio Negro, em 1542, por Francisco  Orellana - a primeira visão do rio Negro pelos homens brancos.
Esta praça foi reformada pela CCE da Amazônia em 1995.
Dela  avista-se a Avenida Eduardo Ribeiro em toda a sua extensão. Às suas costas vê-se o Instituto de Educação do Amazonas (IEA), que ocupa o mesmo lugar onde na época da borracha teria sido iniciada a obra do Palácio do Governo, jamais concluída. Pouco se sabe acerca do prédio atual.
Seguindo pela Rua Ramos Ferreira tem-se à direita uma bela vista da cúpula do Teatro Amazonas e à esquerda, mais a frente, um dos prédios mais representativos da saudosa época da borracha, o Instituto Benjamim Constant, nome do grande republicano que propagou no Brasil as ideias positivistas de Augusto Comte.


O INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT

Construído entre 1892/1894, no governo de Eduardo Ribeiro, grande admirador de Benjamim Constant.
O prédio, em estilo eclético, tem sua fachada em linhas horizontais e simétricas, com uma enorme  escada unido curiosamente o térreo ao segundo pavimento. O portão de ferro, à entrada, é um dos raros exemplos de fundição ornamental em Manaus, com detalhes de flores e personagens estilizados. Existem, ainda, jardim e capela. Em 1893 a administração do instituto era realizada por cinco irmãs da Ordem de Sant'ana, que cuidavam da educação de aproximadamente cinquenta alunos. Hoje o edifício abriga uma escola pública.


Em estilo antigo, vê-se o prédio da Academia Amazonense de Letras, na esquina da Rua Ramos Ferreira com a Rua Tapajós. Trata-se de construção antiga, com bela fachada, que data da época da borracha, quando abrigava uma escola. É mais um exemplo do carinho e da preocupação dos governantes da época com relação ao ensino público.


Em frente à Academia não deixe de visitar a banca de "tacacá" da Dona Maria, que funciona somente ao entardecer. O "tacacá" é um representante típico da gastronomia da Amazônia, servido em cuias e preparado com uma mistura de goma e tucupi (produtos extraídos da mandioca), camarão e jambu  (erva de sabor muito especial). É imperdível. A banca da Dona Maria também oferece outras delícias da cozinha local.
Continue a caminhada pela Rua Ramos Ferreira, até o n° 1 .036, casarão que abriga o Museu Amazônico.




O MUSEU AMAZÔNICO

O Museu Amazônico foi fundado pela Universidade do Amazonas, em 1991 , e funciona como órgão de apoio e pesquisa nas áreas da história, antropologia e arqueologia.
O museu apresenta exposições temporárias sobre assuntos culturais amazônicos e possui grande acervo de livros, documentos originais, fotografias, filmes e microfilmes, o que permite um amplo acesso às informações sobre a região desde o Século XVII. Encontram-se ainda guardados importantes documentos sobre a Amazônia colonial, imperial e sobre a república, microfilmados do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, da Biblioteca Municipal do Porto e da Sociedade Geográfica de Lisboa. O Museu Amazônico abriga, ainda, um espetacular conjunto de 3.200.000 documentos pertencentes ao Fundo J. G. de Araújo (firma  exportadora/importadora estabelecida em Manaus desde 1879), que registram com fidelidade a história sócio econômica da Amazônia, desde a época da borracha até dias mais recentes.
Pode também ser visto o extraordinário acervo da obra do fotógrafo e cineasta português Silvino Santos, o maior documentarista visual da Amazônia, que viveu no período de 1886/1970, representado por cerca de 1 .500 negativos em chapa de vidro, dois filmes curta-metragem 1 6 mm ("O Fim do Pioneiro" e "1922, A Exposição da Independência") e várias peças de seu laboratório fotográfico particular.




SILVINO SANTOS (1886-1970)

Nascido em Portugal, sonhava desde cedo em conhecer a Amazônia. Em 1913 iniciou seu trabalho como cinegrafista, na Peruvian Amazon Company. Em 1922 é contratado pela firma amazonense J. G. de Araújo, para quem realizou vários documentários e centenas de fotografias, retratando com extrema  sensibilidade aspectos sociais, citadinos, indígenas e selvagens da Amazônia.
Retorne pela Rua Ramos Ferreira, vire à esquerda na Rua Tapajós e desça em direção à Praça São Sebastião (aquela do teatro). À direita encontram-se o Luso Sporting Clube ,  com sua arquitetura " manuelina " copiada dos prédios de Portugal, fundado e administrado pela comunidade portuguesa; e o Centro de Artes Hanemann  Bacelar (também chamado de Centro de Arfe da Universidade do Amazonas - CAUA), que oferece concertos de jazz, clássicos e música regional, exposições de pintura e escultura, sessões de cinema e vídeo, livraria e mantém numerosas oficinas de arte.
De volta à praça entre agora na Igreja de São Sebastião...


A IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO

A construção do prédio da igreja, sob a direção de Gesualdo Machetti de Lucas, data de 1888, Com o fim do Império e consequente Proclamação da República a obra sofreu atrasos em decorrência do corte de recursos anteriormente garantidos pelo Estado.


O prédio é em estilo neoclássico, com alguns elementos medievalistas. Muitos dos objetos originais, tais como vasos sacros de ouro e porcelana, já não mais existem. Estão intactas as pinturas que cobrem o teto, desde a entrada até o altar, incluindo a cúpula e as paredes. Trazidas da Itália e afixadas no local são de autoria de Sílvio Centofanti, Francisco Campanella e Ballerini. A maior delas, pintada por Ballerini no teto, logo à entrada, mostra o martírio de São Sebastião; na base da cúpula retrata os quatro evangelistas; e na própria cúpula a "Glória do Céu" com oito anjos. Nas laterais da nave existem telas representando São Pedro e São Paulo.


A capela lateral, à esquerda, abriga um interessantíssimo presépio em tamanho natural, com um grande camelo, trazido da Europa por uma rica família manauara. Na capela-mor existe uma bela estatueta de São Sebastião, ladeada por três vitrais modernos e quatro telas de inspiração franciscana, assinadas por Francisco Campanella. A "Via Crucis" (a observação é dificultada uma vez que localiza-se muito em cima) é notável, com seus quadros em relevo, A fachada tem somente um sineiro - o segundo jamais foi construído. Certos autores dizem que infiltrações de água motivaram a . paralisação das obras, que nunca mais foram reiniciadas. Outros dizem que o mestre de obras teria fugido com o dinheiro destinado à construção...

Voltamos ao ponto de partida.
Existem pelos arredores muitos bares interessantes, especialmente o tradicional Bar do Armando, onde se pode saborear uma cervejinha ou um bom refrigerante supergelados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário