O falecimento de Eduardo Ribeiro, ocorrido a 14
de outubro de 1900, num afastado subúrbio de Manaus, em uma casa de sua
propriedade e residência, continua e continuará em mistério. (Agnelo
Bittencourt)
O governo do Estado do
Amazonas salda uma dívida moral para com a figura do dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro ao resgatar-lhe a memória. Era um compromisso que se vinha protelando
na base da incúria de uns e da
carência de sensibilidade de outros. Muita gente detesta ser coberto pela
sombra dos mortos ilustres. E a sombra póstuma do capitão de Estado-Maior de
Exército, bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas, deputado estadual,
inaugurador da República no Amazonas, governador duas vezes, sempre obscurecia
a epifania mal-concertada de quantos o sucederam na emulação.
Nascido da corajosa iniciativa do governo amazonense, através de sua
representação em São Paulo - Secretaria para Promoção do Desenvolvimento -,
cuja orientação técnica está a cargo do professor Alfredo Mário Rodrigues
Lopes, este documentário tardio se afigurava difícil de ser proeminado por
muitas razões que não se discutem aqui, porém que é necessário lembrar apenas
uma: a busca de documentos de origem familial, que constitui quase que a petra scandali de todo o fundamento da
obra. A dificuldade de situar a biografia do dr. Eduardo Gonçalves R.ibeiro na
etapa da juventude pareceu-nos desde logo uma das remoras que só encontraria
equivente no mistério de sua morte. Os extremos se tocam. O álbum é falho neste
sentido, justamente ali onde seria jubiloso falar da infância do genial
administrador, tanto quanto seria piedoso e necessário à História, sine ira et studio, elencar os
episódios de sua morte. De qualquer modo, este álbum responde a muitos
interrogantes que várias gerações desejariam saber esclarecidos de forma menos
untuosa e mais chocante. Estas páginas abrem um ciclo de vida para que nelas se
leia a verdade sobre uma administração que não procuramos vestir de elogios nem
despojar de seus méritos. É talvez uma revelação excessivamente episódica,
marcada por numerosos flagrantes que a muitos autores pareceriam despidos de
oporturlldade, porém que aqui apenas constituem membros de um corpo que
resultaria mutilado se fossem alijados. É igualmente uma homenagem do
historiador amazonense ao administrador que soube aproveitar-se da oportunidade
econômica para apressar o desenvolvimento da cidade onde nasci. Do que ele
realizou, produto de suas idéias próprias ou de projetos sancionados, faz-se
aqui o reconhecimento imorredouro, grava-se a nossa gratitude perpétua.
MÁRIO YPIRANGA MONTEIRO
Livro : "NEGRITUDE E MODERNIDADE"
Manaus, outubro de 1900
Casa de Eduardo Ribeiro
CAPÍTULO 1
UM ESTRANGEIRO NA LEGIÃO AMAZÔNICA
As
duas últimas décadas do século
passado foram particularmente de grande influência nos destinos do Estado do
Amazonas. Acontecimentos alicerçados em atividades sociais e econômicas
prendiam a atenção e o tempo dos homens responsáveis pela orientação politica e
administrativa. da região. Alguns desses acontecimentos traziam como sufrágios
a co-participação popular; outros eram menos que, aparentemente, distúrbios de
uma classe
de eruditos
acampanados na torre do dissídio filosófico. A teimosa e freqüente alforria de
escravos negros no Amazonas não obedece a nenhum plano ditado pelas amáveis
predisposições dos mandatários oficia.is: talvez se tenha de dizer fosse ela um
amplo gesto simpático de negritude, pois que, historicamente, antes das leis
manumissivas amazonenses e federais, o rio Madeira notabilizou-se pela
libertação iterativa. dos negros. É provável que isso seja uma nota discordante
na história mas, na verdade, a economia amazonense nunca suportou um
embasamento creditado no conhecido "instrumento oral" dos romanos. A
escravidão negra não seria entre nós o recurso apropriado para o
desenvolvimento econômico. Havia já a mão-de-obra quase gratuita que era o índio,
conhecedor astuto e valente da selva., sabedor milionário das coisas
pertinentes a seu meio. Essa a razâo maior por que a escravidão no território
amazonense desempenhou papel medíocre, pois o acontecimento possuía seus
tribunos exaltados, seus ardentes opositores, suas pugnaces e não pouco
atrevidas assembléias defensivas. Não é de admirar, conseqüentemente, que as
leis amparadoras do elemento servil houvessem saído privilegiadamente do
Amazonas. A década de 80 do século passado inspirou realmente grandes
movimentos intelectuais passivos em prol da politica regional e da cultura.
Quase todos os benefícios recebidos pelo povo ou são executados nessa década,
vindos de ó0 ou 70, ou são infibulados a um processo instaurado entre 80 e 90.
Obedecendo a esse critério de impostação dos eventos principais, seria
necessário, eqüitativamente, conceder espaço para um alusão ao pensamento
humano que ditava. a atividade de que pendiam as leis. Nossa Assembléia
Legislativa. tanto quanto a nossa Câmara Municipal eram verdadeiros focos de
cerebrações engajadas a serviço da cultura e do progresso da região. Não seria
demais salientar aqui o serviço prestado pela maçonaria nesse sujeito. Desde os
primórdios, os pedreiros-livres e livres-pensadores se houveram às mãos contra
os católicos extremos. As discussões na Assembléia Legislativa Provincial sâo
sempre impregnadas de azedume, de objurgatórias entre os elementos dos partidos
politicos. Quando a moção é de interesse geral do povo, porém, não se põe
dúvida em aprová-la. Desse modo, as mais brilhantes leis de amparo à
agricultura, à educação etc. são o resultado da compreensão unitária dos
representantes do povo. Portanto alguns dos atos que emergem dessa oficina do
pensamento, se não foram obj etos de pronta execução na década de
80, o foram na de 90. De
passagem, daremos alguns exemplos do que ocorria: os projetos para a instalação
de água encanada, luz elétrica, veículos motorizados ou tirados a animais, o
Teatro Amazonas, aterros de igarapés, calçamento de ruas, instalação de
serviços federais e regionais, apoio financeiro a invenções e à indústria,
ajuda a estudantes pobres; um mundo de conquistas deve-se a essas duas décadas,
mas não se deve admitir que apenas a elas. Já foram mencionadas acima as
décadas de 60 e 70, mas supomos que elas não tenham sido ainda o verdadeiro
fulcro do progresso amazonense, muito embora a biblioteca e o jornal se situem
na década de 50. Isto posto, o homem amazônico começa a situar-se entre o
espanto e a comodidade numa época em que, em outras províncias e em muitos
países do mundo, a sociedade escravocrata não usufruía as mesmas comodidades
que nós outros em Manaus.
É duvidoso que houvesse tido
algo parecido com um "pogrom" contra os negros na Amazônia Ocidental,
excetuando-se casos isolados de hostilidades pessoais. O gozo imediato de
cidadania com ascensão reta para liderança está incluído na determinante social
que nos apresenta homens da envergadura de Lima Bacuri, Eduardo Gonçalves
Ribeiro, Raul de Azevedo e Esmeraldo Coelho, muito embora de origens
diferentes. A terra acenava, com sua riqueza esbanjada - a "Golconda"
de que nos fala Agnelo Bittencourt -, a todos os quadrantes do Brasil e os
homens para ela corriam. Foi assim que tivemos gente dos mais remotos sertões
do mundo - da China; Japão, Tirol, Alsácia, Grécia, Barbados, Calábria, França,
Estados Unidos, Rússia, Arábia, Egito, Marrocos - e brasileiros em quantidade
pronunciada, do norte ao sul. E toda essa gente deixou alguma coisa de seu,
quando não fosse um pensamento criador era a força do braço construtór. Não
prazia, portanto, ao amazonense a aquisição de negros escravos por duas razões
simples: preço elevado das peças e concorrência habitual do índio e do caboco.
Esse plantel social deve de haver elevado de muito o nível da sociedade
amazonense da época e determinado uma triagem no pigmento selecionado pela
avidez da terra. A razão essencial do nosso pensamento é que, olhando-se hoje
essa sociedade, percebe-se a raridade da mancha escura na família.
Principalmente no interior do Estado e, muito particularmente, nos rios Juruá e
Purus, onde predomina a cor clara européia. Os elementos de cor presentes em
nossa sociedade são oriundos do Maranhão e do Nordeste, principalmente Alagoas
e Sergipe.
A década de 80 expirara com
duas brilhantes apoteoses: a libertação dos escravos no Amazonas e a vigência
da República, República que foi, no rol das coisas, uma dolorosa experiência
para nós. A filosofia comtista não nos aproveitou: passamos de povo autônomo,
social e economicamente, a enteados do governo federal, que explorou quanto
pôde nossas possibilidades. É um fato constatado: se o povo não se dava conta
de que o regime monárquico exigia subordinação à autoridade dos ministérios, na
fase republicana essas exigências passaram à drasticidade. Que perdíamos a
autonomia diante da voracidade de grupos políticos nacionais é fato consumado.
Imagine-se uma República feita da noite para o dia, uma República que começava.
por impor ao Amazonas e demais Estados (nessa conjuntura, as Províncias passaram
a nomear-se Estados) um governador não escolhido nem apontado pelo Partido
Republicano Amazonense. Contudo, o militar positivista dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro não é um produto da conspiração democrata da Província com o Estado.
Não teve nenhuma atuação na preparação do ambiente republicano no Amazonas. Nâo
teve de exaltar-se como indivíduos da espécie do dr. Dómingos Teófilo de
Carvalho Leal, o dr. Almino Álvares Affonso, próceres que estiveram barbeando a
monarquia, que fizeram oposição ao conde d'Eu e hostilizaram, sistematicamente,
o governo imperial. Observe-se também que durante o regime reinol e imperial
não houve perturbação interna que tivesse por objetivo a sórdida ambição
politica. Quem desejar fazer a história dessas perturbações pode apelar para
três movimentos: o motim por falta de troco, em Manaus; o levante de 1832, em
Manaus; e a sangrenta guerra da Cabanagem, que seria um movimento envolvente
partido do Nordeste. Salvo a Cabanagem, que foi uma espécie de
"fronda", com as hordas comunistas de lenço vermelho ao pescoço e o
simbolo fraterno das duas mãos cruzadas, em cocar, no chapéu, os demais tiveram
limitado campo de ação. Entretanto, a República, com sua apologia da liberdade,
criou situações vexatórias para o povo de Manaus, situações determinadas pela
ambição de poder, com vistas nas arcas do Tesouro público. E quem criava essas
situações eram os militares que traziam fórmulas novas de governo.
O dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro não foi um produto primeiro da experiência provincial amazonense.
Incorporado ao Exército quando deixou a Escola Politécnica, foi lotado no 3 °
Batalhão de Artilharia-a-Pé sediado em Manaus e onde servira o coronel Floriano
Peixoto. É certo não haver tomado parte nas campanhas pró-abolição dos negros,
apesar de suas origens mulatas, e nem parece haver sido desde logo um fervoroso
adepto da República. Talvez por prudência deixou-se ficar numa situação de
expectativa. O professor Agnelo Bittencourt, na curta biografia do Pensador,
afirma ver uma foto no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, em que
aparece o dr. Eduardo Ribeiro no grupo que cerca o conde d'Eu. O que nos ocorre
confirmar é que o dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro não fosse de todo infenso às
idéias republicanas, e sua participação nesse grupo só pode justificar um fato:
representava alguma patente militar. Entretanto, não consta que levasse muito a
rigor os preceitos de Benjamim Constant.
Alcançando Manaus em
obediência a ordens superiores, em 1887, em 1889 deve de haver visto e sabido a
manifestação que os próceres republicanos fizeram em Manaus contra a pessoa do
conde d'Eu, obrigando este a permanecer esquivado, praticamente detido no navio
que o conduzia em visita a Tabatinga. Aqui deveria caber uma nota: o povo de
Amazonas estava de amuos com o imperador dom Pedro II por sua falta de ética
quando passou por Belém rumo aos Estados Unidos. Um imperador que deixava. de
visitar a Província que ma.is distante ficava nâo merecia, na consciência do
povo, consideração alguma. E, principalmente, enviando um representante
estrangeiro. Já se disse bastante desses amuos: o povo de Manaus nunca tolerou
dom Pedro I por causa da questão do não-reconhecimento da Província do
Amazonas. Nunca lhe dedicou um logradouro, nem o mais escuro e sujo beco. Por
isso a falta de habilidade de dom Pedro II serviria de pá de terra na
monarquia.
Imagina-se que o dr. Eduardo
Gonçalves Ribeiro haja sido um homem de vontade de ferro, capaz de tomar
grandes resoluções, um pensador a seu modo, mas de qualquer maneira possuía a
cabeça dos matemáticos: dura de roer. Bacharel em Ciências Matemáticas, como se
titulava nos atos oficia.is, chegou a ser nomeado professor da Escola Superior
de Guerra, no Rio de Janeiro, mas nunca exerceu a cátedra, apesar de haver
tomado posse dela em 1890, no governo do marechal Deodoro. Que justificativa
encontramos para a recusa do matemático em exercer as funções? Ou a nomeação
foi apenas um prêmio, uma nota honorifíca? Talvez influência de seu amigo
capitão do Exército Augusto Ximeno de Villeroy Foi este quem deu a chance para
o dr. Eduardo
Ribeiro ascender na politica. Isso nos leva. a conjeturar haver o Pensador
optado pela politica e a admnistração civil, opção que lhe causaria desgastes
morais e, consoante certas opiniões antigas, teria apressado a velha disposiçâo
para a fraqueza mental. De qualquer modo, o dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro era
misantropo e sua personalidade só pode ser comparada ao do colega de armas
tenente dr. Fileto Pires Ferreira, um homem dinâmico mas sabidamente reservado. Seja
por isso sua vocação para o celibato? Dr. Eduardo Ribeiro não se casou, mas
vivia com uma senhora com quem teve um filho muito nomeado na crônica dos
jornais da oposição e a quem ele, dr. Eduardo Ribeiro, fazia de herdeiro universal.
Essa disposição testamentária levava os irritados opositores à crença de
que o governador acumulara riquezas a fim de deixar o filho em situação
independente. Desse filho nunca ma.is se soube notícia, mas uma versão da época
o localiza primeiro em Minas Gerais, depois no Rio de Janeiro, para onde se
mandaram os homens da privança do governador: coronel Afonso de Carvalho, dr. Manuel Uchoa
Rodrigues e outros.
Como já foi dito, o dr.
Eduardo Gonçalves Ribeiro não foi um produto da experiência provincial, como
talvez Floriano Peixoto, o capitão-de-mare-guerra Nuno Alves Pereira de Melo
Cardoso, dr. Leovegildo de Sousa Coelho, gente que praticamente conviveu com a
população na época em que o Amazonas escapava da suserania do Pará. Republicano
como a grande maioria dos cadetes, talvez mais afeiçoado à filosofia comtiana
e constantina do que muitos outros de sua idade, foi ele quem inaugurou no
Amazonas o conceito de cidadania, conceito que nivelava as classes todas
respeitosamente. Qualquer sujeito, por mais pobre e rebaixado socialmente que
fosse, era o cidadão. Esse conceito
não é somente um requisito da forma "res
publica", mas um tuteamento capaz de equilibrar as desvantagens de
ser-se carroceiro, calceteiro, boleeiro etc. ou doutor em medicina, engenheiro
etc. Logo mais a forma que aparece nos atos oficiais é extirpada da preocupação
dos governantes e volta-se ao "sr. fulano" etc. O respeito que o dr.
Eduardo Gonçalves R.ibeiro (ou o Estado republicano) guardava pelo cidadão está
muito bem representado em sua escolha dos assessores. Quando a gente passa em
revista os nomes desses secretários compréende, perfeitamente, por que a
máquina administrativa andava regularmente e com precisâo absoluta, precisão
militar. Os papéis do governo e do interesse coletivo não dormiam nas gavetas, não
se procrastinava nos despachos.
Tudo corria como se o
governo tivesse pressa em concluir no menor tempo possível a quantidade de
obras atacadas aqui e ali. Essa é uma das boas qualidades da administração
ribeirina, exemplo que deveriam ter presente os modernos administradores que
deixam os papéis do povo para o dia 31 de fevereiro...
Não tomou parte nas campanhas pró manumissão
dos negros escravos nem a formaçâo da consciência republicana. Contudo, diz o
professor historiador dr. Arthur Cézar Ferreira Reis, sua vinda para a Amazônia
foi em decorrência de aplicaçâo de pena militar, "dadas as suas
demonstrações pela República". Não me parece que a simpatia pela forma
republicana (extensiva e intensiva. no Exército da época) fosse suficiente
razão para o que, naquele tempo, e qui~á ainda hoje, se considera pena severa o
desterro para a Amazônia. Deve de haver sido algo mais discriminante, que não
chegou a ser divulgado. Tanto que o apenado deixou-se
comodamente ficar em Belém
do Pará a curtir o efeito do castigo e, somente em agosto de 1887, é que se
desloca para Manaus. As situações nâo conferem: nâo foi sua vinda para a
Amazônia, já no posto de tenente, condicionada a alguma indisciplina, pois que
havia sido lotado no 3° Batalhâo de Artilharia-a-Pé sediado em Manaus. Existe,
portanto, um certo qüiproquó nessa situação do militar que não se conseguiu
ainda deslindar. O certo, porém, é que foi um elemento de ocasião na política
amazonense, um elemento que, à primeira vista, parecia destinado a provocar
distúrbios entre os partidos majoritários: o Democrático, que tinha por órgâo
oficial o jornal O Amazonas, e o
partido oposicionista Nacional, este chefiado e organizado pelo velho político
Ferreira Pena e o primeiro com a ajuda do próprio dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro. Como
se vê, a caldeira começou a ferver de novo no Amazonas e ferveria de maneira
assaz tumultuosa. Nela se envolvia Eduardo Ribeiro provocando a acrimônia de
uns e o aplauso de muitos. A situação chegou a formar um caos, pedindo a
intervenção imediata do governo central. Parece que a República instaurada sem
uma visão dos confrontos de interesses partidários ameaçava ruir com tanta
indisciplina reinando na administração, com o próprio Deodoro a dançar na corda
bamba. O militarismo que se implantou no Brasil teve sempre a repulsa das
camadas civis e Rui Barbosa não deixaria de escrever um panfleto contra essa
tendência.
O Partido Democrático
(republicano), instalado em Manaus a 27 de julho de 1890 e chefiado pelo dr.
Domingos Teófilo de Carvalho Leal, tinha sua sede na rua de José Clemente
(praça de Sâo Sebastião) e seu dirigente era o mais ferrenho adversário do
Império. Ambicioso e atrabiliário, inimistou-se logo com a camada social de
Manaus, à altura de 1889, quando fez parte do triunvirato que sucedeu ao
presidente provincial dr. Manuel Francisco Machado. O
tumulto provocado pelas decisôes oposicionistas do chefe do partido acabou por
liquidar as pretensões daquela gente que entrava na República falando alto de
democracia e arregaçando as mangas para o pugilato. No entanto, a verdadeira
manifestação democrática republicana estava na voz do professor de primeiras
letras Bento Aranha, que, em toda parte e cerca de vinte anos antes, já
diminuía o Império, atacando-o em todas as frentes, no jornal e na tribuna.
Nada conseguiu com a implantação da República, enquanto os oportunistas, os
republicanos de última hora (monárquicos ontem), faziam-se nos cargos públicos.
Acreditamos que somente três indivíduos daquela plêiade de políticos
batalhadores tinham realmente vocaçâo republicana: Bento Aranha, Carvalho Leal
e Almino Affonso, porque possuíam voz nos comícios e nas ocasiões oportunas,
mas também sabiam enfrentar o militarismo, principalmente quando da gestâo do
coronel (depois marechal) Taumaturgo de Azevedo.
Uma vez fincado o pé no
estribo, o dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro não mais desistiria de governar. Como
militar e engenheiro, enfrentou as sedições que o desejavam longe da curul
governamental. Teve sorte em encontrar apoio numa atmosfera de desconfiança e
de traição, ele próprio considerado proditor pela história dos acontecimentos
de 1898. A existência do dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro, como político, deixa
oportunidade para sev~. ~as críticas, lugares abertos às reivindicações da
verdade. Não se trata da vida do administrador, que essa, apesar de curta,
curtíssima, foi brilhante. Pudesse aquele homem de tino e de caráter férreo
governar mais oito anos e estaríamos hoje em condições de usufruir de mais
prestígio entre os povos civilizados. O que desejamos concluir é que, salvo
alguma predisposiçâo para o exagero, Eduardo Ribeiro traçava os planos que
executava realmente. Para isso cercou-se de uma equipe de infatigáveis homens
de talento, engenheiros, burocratas, que o ajudavam a manter o ritmo dos negócios
administrativos. Mas, em contrapartida, estiveram a seu lado igualmente os
profissionais da politicagem desenfreada, aqueles que pululavam no Clube
Republicano, adventícios muitos deles e outros já celebrizados em falcatruas
eleitoreiras, como os irmãos Moreira (Guilherme, Emílio e José), qüe o povo
dizia formar o "Partido dos Moreiras". O fato é que o dr. Eduardo
Gonçalves Ribeiro não deixou de pisar na veste talar da Justiça nem de
tripudiar sobre os direitos do povo. Uma espécie de consciência dupla: agia
como homem de espada e como alcaide de obras. O primeiro grande ato público de
sua administração
provisória foi a reforma da
Constituição do Estado. Ora, atualmente quantos indivíduos não reformaram a
nossa pobre Constituição para adaptá-la a seus interesses particulares? Acho
que Eduardo Ribeiro está redimido desse ato atrabiliário a que se sucederam
muitos outros durante sua curta administração. Mas para que a reforma da
Constituição? Que interesse havia em produzir um novo estatuto político? Sem discriminações,
a resposta deve de estar no artigo 155 , último, nas disposições transitórias.
Esses acréscimos dizem respeito ao patrono político-filosófico do Exército
Benjamim Constant - e ao próprio Eduardo Ribeiro, assim redigidos:
Aríigo l55 ° - Para perpetuar em todos os tempos a gratidão profunda do
povo Amazonense ao benemérito cidadão Benjamim Constant, fica consignado nesta
Constituição um voto de admiração e respeito à memória do eminente patrício, o
Fundador da República dos Estados Unidos do Brasil.
E logo em seguida:
Disposições
Transitórias Artigo 1 .° - O período governamental ocupado pelo Governador Dr.
Eduardo Gonçalves Ribezro e Vice-governador Coronel Guilherme José Moreira
(Barão de Juruá) terminará guatro anos depois da promulgação desta
Constituição. Artigo 2.° - O mandato dos atuais Representantes terminará a 31
de dezembro de 1894.
Basta para o serviço da
crítica os dois artigos supra. Imagine-se o grande Eduardo Ribeiro legislando
em causa própria, ou seja, amparando sua continuidade na Constituição por ele
reformada. É um golpe de mestre, mas isso não seria novidade no Brasil, nem
mesmo nestes últimos cinqüenta anos de Repúblicas Nova e Velha. A malandragem
política cerrava. uma porta e abria outra mais larga à evasão dos interesses
partidários. Imagine-se Eduardo Ribeiro sem raízes na terra e sem nenhuma
experiência do caudal de conflitos pessoais e gerais que a antiga província
jorrava no âmbito inexperiente da jovem República, tendo ao lado um vice que
procedia justamente daquele caudal. Na verdade, o dr. Eduardo Ribeiro não
governou com seu partido, mas também nâo deu muita chance aos veteranos da
terra, como Bento Aranha, que morreu quase esquecido, pelo menos esquecido de
seus antigos correligionários. Mas não se deslembrou de convidar o erudito
coronel Bernardo Ramos, um dos últimos abencerragens do monarquismo. Essa forma
de contemporização, um tipo de filosofia útil aos interesses do Estado,
eletismo político que agradou, confere a Eduardo Ribeiro o mérito de ser astuto
e prudente, no início de sua arrancada. Os adversários do Partido Nacional não
o perdoavam, nunca o perdoaram e foram muitos os que tentaram denegrir sua
obra, maculando a pena nas infâmias e injúrias assacadas na imprensa diária.
Nós outros não duvidamos em reproduzir certas histórias vertentes nas páginas
dos jornais da oposiçâo. Algumas delas possuem hálitos de verdade, como a de
haver dotado o filho único com capital extraído das aras públicas. O fato de o
dr. Eduardo Ribeiro morrer sem posses não exclui a possibilidade de haver
deixado ao filho o suficiente para enfrentar a vida futura. Um governante que
não possui família constituída legalmente e aparentemente habita sozinho uma
mansão ou duas (no caso dele), dispondo portanto de facilidades que um simples vice-governador
não usufruía, deveria amealhar réditos sem tamariho. Até aí o sentido de
honestidade que lhe dão Arthur Reis e Agnelo Bittencourt, seus principais
biógrafos, o último com maiores aportes, sem crítica analítica. Supomos que os
jornais oposicionistas não tivessem razão para melindrar a pessoa humana do
ilustre homem. Essas estroinices não são produto da ociosa capacidade do povo,
não são. Representam o tributo de uma época de expansão econômica e de
facilidades políticas. Por isso não é de admirar que o dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro possuísse duas moradas, uma na cidade, à rua de José Clemente Pereira,
e a outra, a mansão ou retiro, também chamada Vila Pensador, na estrada antiga
de Epaminondas, hoje de Torquato Tapajós.
Acontecimento político de extraordinário sucesso foi o reconhecimento,
pelo Congresso Amazonense, no dia 9 de julho de 1986, dos candidatos dr. Fileto
Pires Ferreira para governador do Estado e do coronel José Cardoso Ramalho
Júnior para vice governador. Não gue estes dois nomes sugerissem algo especial
no cenário da cultura, mas porque ambos viriam a ser pivô da mais curiosa farsa
que a história política do Brasil já registrou nos seus anais: o primeiro como
vítima de uma renúncia forjada pelos governos estadual e federal e o segundo
como autor ou co-autor do ilícito de que foi mandatário e autor intelectual do
probo dr. Eduardo Ribeiro, o homem das apregoadas e nunca esguecidas
honestidades, que tem sido reverenciado como padráo de trabalho e de ilibada
moral. O homem que, com o estampido de um foguetão lançado às dez horas da
manhá, antecipou de duas horas o meio-dia, a fim de consumar a farsa que
entregara o poder nas mãos do seu pupilo dr. Fileto
Pires Ferreira. Estranha
história de estranhos resultados(1):
Geralmente se conta esse
episódio de outro modo, mas os resultados foram os mesmos. A verdade, porém, é
que o Congresso Amazonense costumava reunir-se às 12 em ponto, hora oficial
assinalada por um foguete manipulado pelo Serviço Meteorológico do Estado. Não
havia ligaçãó nenhuma entre aquele.serviço e o Congresso Amazonense. Mas no dia
9 de julho de 1986 toda Manaus surpreendeu-se com o estranho acontecimento!
Eram apenas 10 horas da manhã e o foguete assinalava meio-dia. Uma das poucas
pessoas sobreviventes daquela época em 1940 era o senhor Zeferino Rocha,
funcionário competente da Manaus Harbour, mas naquela altura empregado do mesmo
serviço meteorológico. Ele e o engenheiro Paiva e Melo gostavam de referir para
minha curiosidade de historiador as façanhas dos políticos do Amazonas, pois o
engenheiro fora também ele uma das vítimas quando da concessão dos serviços
telefônicos para o grego Jaramillo. O curioso é que o mesmo autor e mandatário
da farsa seria igualmente o homem que empurraria o camarada de farda escada
abaixo pelo simples fato de o dr. Fileto Pires Ferreira haver traído a
confiança política qwe nele depositara dr. Eduardo Ribeiro. De posse do poder,
dr. Fileto Pires Ferreira passou a aceitar dr. Campos Sales e chegou a fazer
declarações comprometedoras à imprensa de Paris (2).Ora, naquele tempo era mais
provável saber-se de imediato um acontecimento verificado na
Europa do que no Rio de
Janeiro. Em Paris estava o irmão do político dr. Silvério José Nery, o famoso e
erudito barão de Santa-Anna Nery, e na França o representante Alexandre d'Atri.
Num ápice, as comprometedoras observa~ões do dr. Fileto passaram ao telégrafo
de Belém do Pará e não demorou muito alcançarem Manaus. Quando estourou a
notícia de que seu pupilo estava ameaçando aceitar a politica de Campos Sales,
o recurso era alijar o pupilo do poder, por inconveniente. O Congresso Foguetão
(por que passara a ser conhecido depois daquela farsa) aceitou um papel com a
assinatura formal do dr. Fileto Pires Ferreira que dizia o seguinte:
RENÚNCIA
Cidadão Presidente e mais Membros do Congresso Amazonense.
Paris, 27 de Jünho de 1898.
Saúdo-vos, apresentando-vos os mais sinceros e cordiais protestos de meu
acatamento e respeito para convosco.
Cumprindo o preceito constitucional venho trazer vos hoje a renúncia do
cargo que exerço nesse Estado, do qual sois dignos representantes, por não me
ser possível por motivos de ordem superior continuar a exercê-lo.
Vós melhor do que ninguém sabeis que aceitei essa delegação do povo
amazonense depois de reiterados pedidos de todos os nossos amigos; delegação,
repito, que por mim jamais foi ambicionada e que hoje não o é.
Discípulo de Benjamim Constant, inspirado nos seus ensinamentos é
convicção minha que a tolerância e a transigência deviam ser sempre as
qualidades de um homem público.
Fiz tudo o que as minhas forças comportaram e não me acusa a consciência
de me haver afastado da linha que propus-me seguir. Tomando esta resolução
sugerida pelos ditames de meus sentimentos, determinada pelo império das circunstâncias
deixo bem patente aos meus concidadãos que dos cargos que na política ocupei
apenas me prendam a vontade e o desejo de por intermédio deles ser útil ao meu
país. Crente de que o digno povo amazonense saberá fazer me justiça, envio-lhe
as expressões dos mais ardentes votos que faço pela
prosperidade e engrandecimento que lhe asseguram as suas riquezas e o
patriotismo acrisolado dos seus filhos.
Saúde e fraternidade.
Fileto Pires Ferréira.
Com efeito, o homem que
redigia um papelucho mal-escrito, depois de aceitar os cambalachos políticos
que o elevaram, não iria baixar à terra e confessar-se inibido para as funções.
Está patente a atrevida poluição moral da congérie que preparou a farsa. Dr.
Fileto Pires Ferreira reagiria a tão insólito gracejo:
Recordo-me de haver deixado nas mãos do senhor Eduardo Ribeiro uma folha
em branco com a minha firma, ainda quando eu me encontrava na capital federal,
com o escopo de defender a sua primeira eleição. Ele deveria apresentar aquela
carta acompanhada de uma reclamação a propósito de antiguidade militar. Mas o
documento não foi apresentado, enquanto que a folha com a minha firma ficou
sempre em seu poder, conquanto ele me havia prometido várias vezes
restituir-ma.
Nâo seria necessário um
artifício desse tipo. A assinatura do dr. Fileto Pires Ferreira andava em
documentos oficiais. Atribuem os políticos do passado, firmados em devassa, ao
cidadão Aristides Emídio Baima a autoria do ilícito, mas fica sempre flutuando
a responsabilidade autoral do coronel Ramalho Júnior e do dr. Eduardo Ribeiro.
Presentémente, confiou-me o historiador dr. Arthur Cézar Ferreira Reis possuir
um documento que lhe foi dado pelo coronel Ramalho Júnior e no qual fica este
eximido da grande responsabilidade histórica. Esse tópico não diz respeito às
manobras políticas que envolveram os nomes dos três grandes, por isso não nos
estendemos mais em considerações a respeito do "caso Fileto Pires",
um dos maiores, se não o maior, escândalos da administração na República e do
qual participou o governo federal como interessado direto.
Seria lógico argumentar,
pelos fatos acima, que a intolerância politica do governo estadual atingisse
profundamente o caráter do homem Eduardo Ribeiro? Ou devemos separar o evento
politico da armadura moral do homem que realmente se constituiu um padrão de
atividade dinâmica em benefício da cidade de Manaus?
Considerando-se certos fatos
ligados à administração Eduardo Ribeiro e sua formação ética (o militar nunca
tomou decisões extremas), chegase à conclusão de que o absconso homem que nâo
aparecia freqüentemente nem mesmo no teatro que construíra à custa de esforço e
em tão pouco tempo pecava pelo ensimesmamento, pela talvez muito notada
egolatria. As fotos do homem, em trajes civis normalmente e em militar raras vezes,
mostramno carrancudo, sobrancelhas carregadas, bigodes de guias empinadas, o
biótipo do coronel (da Guarda Nacional) Ramalho Júnior, embora os temperamentos
diferissem grandemente. Eduardo Ribeiro, homem culto, reservado, trazia a
verônica enfeitada apenas pelo bigode. Calvo e redondo. Creio que a qualquer
pessoa não escapam os olhos amortecidos de doente. Sabemos pelas notícias
divulgadas pelos jomais de Manaus haver contraído a terrível moléstia que
assolava a região, o paludismo ou febre palustre. Essa doença o levaria à
Europa. Relata uma boa revista italiana, L' Amazzonia, bem informada a respeito
das coisas da Amazônia Ocidental, a presença do político no velho continente,
mas quando ocupava, a presidência do Congresso Amazonense, em outubro de 1900:
Eduardo Ribeiro
Completamente ristabilito, col/ Rio Amazonas fece ritorno a Manaos
l'illustre nostro amico Dr. Eduardo Ribeiro, Presidente del Congresso dello
Stato dellAmazonas. Sua Eccellenza - chè a Pará fu affettuosamente visitado dal
Governatore di quello Stato e a Manaos accolto dalle autorità tutte e da
numerosa folla - riprenderà subito il suo altissimo ufficio. Le nostre vive
felicitazioni.
O dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro viajou com licença do Congresso de Representantes a tratamento da saúde
abala.da, mas não se pode acolher uma notícia desse feitio sem uma especulação:
o tempo concedido ao presidente do Congresso era muito exíguo para o tratamento
de moléstia daquela espécie, para a qual, apesar de todos os remédios
nacionais, regionais e europeus, nâo havia ainda solução. É de suspeitar essa
brevidade, parecendo mais uma desculpa para desorientar possíveis manobras
politicas. Toda vez que ele e dr. Fileto se ausentaram
do governo ficava o terceiro
homem, o coronel Ramalho, que também foi à Europa semostrar-se, escandalizar o
mundo europeu com suas nababescas orgias. Mas com o dr. Eduardo Ribeiro não
acontecia esse desregramento. O homem era de qualquer modo retraído, sóbrio,
casmurro, irritável. Fechado como uma ostra, mas dono de uma habilidade
infernal para fazer distrair os outros a sua custa ou à custa do erário
público, embora essas despesas não fossem incluídas nos balancetes do Tesouro.
Arrumava.-se a casa todas as vezes que um eleito ocupava o trono. A primeira
coisa a dizer (e parece que o andor não mudou até hoje) era que as finanças do
Estado andavam seguras, controladas pela severa distribuição das rendas, e os
dinheiros haviam crescido pela boa administração. Isso não impedia que o dr.
Eduardo Gonçalves Ribeiro entregasse o governo com um débito assustador, que o
pupilo dr. Fileto Pires Ferreira escondia sob a alegação costumeira. É o
que ele proclama em sua mensagem de 1898, é o que estimavam todos os outros. Só
depois que ascendem ao poder os Nery é que a cantiga muda de tom, com o
interesse em solapar o brilhantismo das obras dos antecessores, visto que
depois de Eduardo Ribeiro seriam raras as obras de vulto levadas a cabo em
Manaus, muito embora a goma elástica ainda sustentasse o prestígio econômico da
regiâo até mais ou menos 1909. Ao contrário, o que fez o primeiro Nery da
oligarquia foi seguir o exemplo do coronel Ramalho: deitar abaixo as paredes do
majestoso Palácio do Governo sob a alegação de que estavam defeituosas e
ameaçavam ruir. Aliás, o autor da primeira "encampação" das obras foi
o coronel Ramalho, que mandou dinamitar o prédio, deixando-o somente numa meia
altura. Nery fez o resto sob a justificativa de mandar erguer um palácio menos
suntuoso e mais seguro. A idéia não passou da planta, desse palácio e do Palácio
do Congresso.
NOTAS
(1)Mário Ypiranga, teatro
Amazonas,VI,p.198, 165-6) .
(2)Idem, v.II, p.390.
existem notícias estampadas nos jornais de Manaus sobre a traficância do
tenente dr.Fileto Pires Ferreira, registrando-se noutra paróquia a fim de
aumentar a idade e atender a exigência da candidatura governamental
Olá Professor,
ResponderExcluirTu sabes alguma informação sobre Aristides "Bayma" (esse era a grafia utilizada na época)?
Um abraço