sábado, 21 de maio de 2016

A trajetória de Eduardo Gonçalves Ribeiro II - MÁRIO YPIRANGA MONTEIRO



CAPÍTULO 2


SOB TODOS OS FOGOS DA REPÚBLICA

Ao raiar da República manda-se governar o Amazonas, em substituição à Junta Governativa, o tenente do exército Augusto Ximeno de Villeroy, um tipo de temperamento conflitivo, que arranja logo inimizades em Manaus e por isso mesmo desiste de continuar enfrentando as hostes turbulentas dos partidos políticos. Villeroy coloca o dr. Eduardo Ribeiro (tenente ainda) de oficial-de-gabinete. A experiência deve de haver agradado àquele mulato bisonho, pois não mais arreda pé do âmbito governamental, fazendo dele o estribo para a ascensão. Claro que o dr. Eduardo Ribeiro não necessitaria de degrau tão oscilante para tornar-se um homem conhecido. Ele já o era desde moço, quando redigia um jornalzinho no Maranhão, O Pensador, nome que deixa a gente inclinado a conjeturar possuísse inteligência aberta a grandes realizações. Era de fato um homem interior, voltado para si mesmo, mas a política tem esse condão de modificar a armadura moral dos rebocados em sua esteira. O dr. Eduardo Ribeiro deveria de calcular a extensâo do caminho que conduzia ao plano superior de sua pacata existência de segundo-tenente do Exército. Como a fortuna lhe vinha ao encontro, porém, colocando-o no centro geométrico daquele círculo de ambições políticas e de dissidências de toda ordem, não se desiludiu quando o tenente Villeroy desistiu do governo sob a alegação de doença grave da esposa. Villeroy assumiu o goveeno a 4 de janeiro de 1890 e deixou-o a 2 de novembro, havendo governado apenas onze meses. Nesses onze meses pintou a manta, desgostando à maioria da população com seus atos, alguns feitos de boa-fé, outros apenas saneadores. Dos atos atrabiliários consta a extinção do Museu Botânico do Amazonas, dirigido pelo notável cientista dr. João Barbosa Rodrigues, ato atribuído à formação monárquica do sábio, a que se solidarizou Eduardo Ribeiro. Igualmente deselegante mas com o apoio nas tendências republicanas foi a extinção do ensino religioso nas escolas, visto que a República havia separado a Igreja do Estado. Dos bons atos constam a reorganização do ensino primário e a unificação do Liceu com a Escola Normal sob o título de Instituto Normal Superior, como na França. Há outros atos dignos de aplauso, principalmente porque foi um administrador que fez vista grossa aos cambalachos politicos, ficando longe dos partidos. Quer acreditar-se haja sido grandemente influenciado pelo dr. Eduardo Ribeiro, que já estava em Manaus há mais tempo e conhecia o que deveria ser mudado ou conservado. Pelo menos na questão do ensino seu ajudante de gabinete foi de utilidade, pois o dr. Eduardo Ribeiro manteve uma politica de proteção à instrução pública. Além de que, respondendo pela diretoria de obras públicas, teria oportunidade de verificar o estado em que andavam as mesmas, como engenheiro militar que era.
A situação politica não era àquela altura de concórdia. Funestas atividades dos dois partidos dominantes, que já haviam desgostado ao governador Ximeno de Villeroy, ameaçavam a primeira administração do dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro. Nomeado vice-governador e já admitido nas simpatias gerais, nem por isso se viu o Pensador livre das futricas subterrâneas que o ódio misturado com a ambição de poder argamassavam. Não haviam decorrido muitos dias da investidura oficial de Eduardo Ribeiro na cadeira governamental (3 de janeiro de 1891) quando na manhã de 12 de abril abruptamente chega a Manaus a notícia de sua demissão e nomeação do coronel Taumaturgo de Azevedo para substituí-lo. Anulado pelo Partido Republicano, o povo - o povo é sempre o grande instrumento dos perturbadores da ordem - reuniu-se em protesto, convidado por boletim distribuído em todos os bairros da capital, que àquela data se resumiam em dois ou três principais, ainda anacumênicos: Cachoeïrinha, Tocos, Vila Municipal Operária e as colônias nascentes Cearense, Oliveira Machado ou João Alfredo, São Raimundo Nonato. O manifesto, consoante a autoridade do historiador amazonense dr. Arthur Cézar Ferreira Reis, dizia:

Aos doze dias do mês de abril de mil oitocentos e noventa e um, terceiro da República, reunido o povo da cidade de Manaus, em nome da população do Amazonas, na praça da República, em vista da demissão traiçoeiramente conseguida do Governo-Geral pelos inimigos da República, do cidadão dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro, que a contento da população do Amazonas está dirigindo os destinos deste Estado, resolveu a mesma população aclamar o referido dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro governador efetivo do Estado do Amazonas. Em seguida o mesmo povo depôs a Intendência Municipal por não mais lhe merecer confiança. E por ser esta a vontade do povo, foi lavrada a presente ata que lida ao cidadão Governador proclamado pelo povo, foi aceita e assinada pelos presentes.

Os autores da combinada proclamação não ignoravam naturalmente a origem do despejo. Após a proclamação da República seriam escolhic~os os representantes eventuais do Estado à Constituinte Nacional e daquela "seleção ' faziam parte inimigos do regime, isto é, franco-atiradores com assento no partido opositor: monarquistas de casaca mudada, duas velhas raposas intransigentes, Manuel Francisco Machado, o barâo do Solimões, e Joaquim José Pais da Silva Sarmento, senadores; e dr. Manuel Inácio Belfort Vieira, deputado. Além do mais, extinta a Assembléia Legislativa Amazonense por ato decisório do tenente Ximeno de Villeroy, criara-se uma atmosfera de animosidade, contra a representação ribeirinha, animosidade que viria a explodir mais tarde. Aqueles homens, convencidos de que a República era apenas uma atividade política transitória, espécie de quartelada em que fora jogado o general Deodoro, também ele monarquista, tramaram contra a estada do dr. Eduardo Ribeiro no poder, estada que constituía séria ameaça às ambições dos partidos, principalmente ao conservador Partido Democrático, pululante de monarquistas convictos.
O governo federal não daria ouvidos ao forjado reclamo das massas porque seu interesse maior estava colocado no sustentáculo da política econômica. Naquele tempo, o Amazonas pesava. na balança com sua proverbial manifestação de exuberância financeira, e o país, miserabilizado, necessitava do apoio de nossos representantes na Constituinte. Quando a borracha significasse menos para as ambições dos homens do governo, a República negligenciaria o Amazonas e até considerava com aborrecimento nossos pedidos de ajuda. Nunca nos deu a mão e até mesmo contribuiu para aumentar o desfavor que passamos a gozar.
Impingiram ao desgostoso povo um elemento de prestígio militar, é fato, e com alguma boa experiência amazônica: o coronel Gregório Taumaturgo de Azevedo, que morreria marechal. Esse homem culto e presto possuía o mesmo defeito do tenente Ximeno de Villeroy: era irritadiço e perseverante em suas decisões. Não apaziguou os âmimos e ao contrário contribuiu para aumentá-los. Quando chegou a Manaus, encontrou visível a hostilidade dos grupos e, em vez de tentar uma manobra de congraçamento, cultivou a desarmonia, fazendo-se o centro de preocupação política dos partidos alvoroçados. Taumaturgo era enérgico e correto, mas fraco no momento de conservar o equilíbrio psicológico para enfrentar a perturbação ambiente. Taumaturgo de Azevedo fora escorraçado de sua terra, o Piauí, e mancomunara-se com os soldados de Deodoro da Fonseca. Insinuara-se no prestígio republicano apoiado, aliás, pelo partido dos Moreiras, e começara mal sua jornada pela administração. Alguns autores o dão como honesto e bem-intencionado. No eritanto, o maior escândalo de sua administração foi o célebre Contrato Predial em que era ao mesmo tempo legislador e contratante. Hoje se diria advocacia em causa própria. Sujou as mãos numa empresa que estaria fadada ao desenvolvimento se os sabujos que rondavam a gamela do Tesouro não se imiscuíssem nela. O coronel Taumaturgo de Azevedo não conhecia os homens do Amazonas, isto é, os políticos ajustados ao momento, os camaleões, os forjadores das "chapas de caixão", os traidores e conspiradores renitentes, os profissionais da intriga. Em sua mensagem de 15 de novembro de 1891 ele se desdobra em minúcias a propósito do embelezamento da cidade e pede alguns créditos para esse programa. É seu o ato arbitrário de anulação do contrato dos esgotos, sob a alegação de irregular e até nocivo à saúde pública. É possível que o fosse, não possuímos condições para confirmar. No entanto, essa história de anulação de contratos feitos em administrações anteriores era um vício contumaz que deixava sólidos réditos a quem os decretava e um passo à retaguarda no progresso da cidade. O coronel Taumaturgo
desejava conciliar seu nome (obrador de milagres) com o embelezamento de Manaus. Se esse fosse realmente um programa estabelecido dentro das normas usuais da administração, valia a pena aceitá-lo. De fato, as idéias do novel governador eram boas, até mesmo necessárias, do tipo aterro de igarapés etc.
O deínônio da ambição, porém, andava de braço dado com a lisonja e o cortejamento dos sacanetas desfibrados. Dirigindo-se ao Congresso Amazonense na sessão de 25 de novembro de 1891, o coronel governador procurou logo dar a conhecer o estado das finanças, que não eram más. Começou bem.
Ao dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro coube apenas o gesto disciplinado de passar o governo. Creio que a história deveria ser contada assim: manobrado pelos políticos na capital federal, o marechal Deodoro indicou o novo comandante da flotilha, cápitão-de-fragata Borges Machado, para substituir o dr. Eduardo Ribeiro. Este, intimado no dia 5 de maio a entregar o governo, passou-o ao vice Guilherme José Moreira, barão do Juruá, um dos que eram apontados como traidor de causa perdida. Deposto, sem qualquer manifestação de desagravo, dr. Eduardo Ribeiro dispôs-se naturalmente a esperar que os "amigos" do partido, no Rio de Janeiro, advogassem sua causa. Isso fez o valente dr. Almino Álvares Affonso no Congresso. Seu discurso é uma peça memorável de retórica parlamentar: estilo empolado, cultismo verborrágico, arrancos de piedosa
ternura para com as nossas possibilidades. O dr. Almino Álvares Affonso não chegaria só com palavras duras a hostilizar o coronel Taumaturgo de Azevedo na defesa intransigente do dr. Eduardo Ribeiro: foi às vias de fato no dia 14 de janeiro de 1892 com o dr. Domingos de Carvalho Leal. Apesar de Arthur Reis situar a praça do General Osório frente ao Quartel do 36° BI (mais tarde 27° BC), a escaramuça teve lugar no Palácio do Governo (hoje sede da Prefeitura Municipal) e nela morreu o soldado Fernandes Pimenta, saindo ferido levemente na região glútea o dr. Almino Álvares Affonso, acérrimo adversário do coronel Gregório Ta.umaturgo de Azevedo. A posição de Eduardo Ribeiro nesse conflito de interesses seria de reserva e abstenção. Talvez de prudente espera? O fato é que após toda aquela sarrafascada receberia de galardão o cargo de professor de Matemáticas da Escola Superior de Guerra e a patente de capitão de Estado-Maior. Um prêmio régio de Floriano Peixoto já no govemo com a abdicação de Deodoro.
Taumaturgo de Azevedo não demorou muito no poder, apesar de haver sustentado briosamente seus presumidos diréitos contra a palavra de Floriano Peixoto. A situação no Amazonas voltava agora a piorar e a perspectiva. de graves acontecimentos pairava. no ar. Intimado a entregar o governo, recusou-se, fortificando-se nâo em seguros princípios legais mas em sua vontade. Isso obrigou Floriano Peixoto a intervir na situa~ão, mas de maneira suasória, enviando uma comissão parlamentar de oficiais das duas armas, Exército e Marinha, havendo, contra a vontade e sob , protesto escrito, entregue o mandato ao capitão-de-fragata José Inácio Borges Machado. Se este trabalho dissesse respeito aos movimentos revolucionários do Amazonas, muita coisa se teria a acrescentar aqui, porém o destaque principal é a figura do dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro, que, nessa conjuntura, misantropo como era, recolheu-se a seus penates aguardando o final da embrulhada.
E obrou inteligentemente, porquanto seus verdadeiros amigos na capital federal trabalhavam pela reintegração no poder.Floriano Peixoto não era da mesma estirpe de Deodoro. E contava. com o mérito de haver estado no Amazonas, lotado no 3 ° Batalhão de Artilharia a-Pé como coronel. Em Manaus filiou-se à Loja Amazonas, sita na rua de Bernardo Ramos. Era portanto um homem que conhecia, dos tempos da Província, a região e seus homens políticos. Sabia em que mares navegava, enquanto Deodoro ouvia apenas as partes interessadas em malquistar o dr. Eduardo Ribeiro. Observe-se, ainda, que o Pensador não era filiado a nenhuma loja do Amazonas, portanto estivera lutando sozinho contra obreiros que possuíam força para mantê-lo longe do governo. Talvez, quero acreditar, fosse a colônia maranhense de Manaus, representada em sua quase totalidade porhomens de cor (Lima Bacuri, Raul de Azevedo, mulato-claro; Pedro Freire, mulato-claro), o sustentáculo de sua vitoriosa carreira. Já dissemos: o dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro não era ofensivo corno o coronel Taumaturgo de Azevedo ou Guerreiro Antony. Já dotado de uma experiência local, e apoiado pela resistência dos bons republicanos residentes no R.io de Janeiro, deputados e senadores, desfez-se habilidosamente do peso que representava o coronel Gregório Taumaturgo de Azevedo. A 11 de março, o dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro recebia nova nente as rédeas da administração. Agora julgava-se firme no posto e não teve dúvida alguma de fazer o que a política sempre vinha fazendo: dissolveu o Congresso Amazonense, que havia ficado solidário ao ato de Deodoro, reformou a Constituição, cujos termos apropriados já citamos, e elegeu-se governador do Estado para o período 1893-1896....A quartelada de 1892 teve como pivô a soma daquelas três atividades muito freqüentes na história do Amazonas: vingança contra a ascensão ao poder do dr. Eduardo Ribeiro; ambição do Partido Republicano; e intervenção militar, por desforço, diante da recusa do governador a aceitar a proposta de um major do Exército para construir a estrada de ferro para o Rio Branco. Também se diz que em vez de estrada de ferro era a rodovia para aquela região.
O fato é que era por causa desta última. Indivíduo interessado no serviço, o major Tristão Sucupira de Alencar Araripe, repudiado em suas francas intenções de abiscoitar o serviço, andou correndo de Herodes a Pilatos solicitando o apoio de todos os políticos republicanos. Esse cidadão era major locado no 36° Batalhão. Junto com o irmão João Araripe, bacharel demitido "espontaneamente" do cargo de Procurador Fiscal do Tesouro Nacional, e mais outros uniu-se aos ambiciosos expurgados da cúpula do Partido Republicano - Domingos Teófilo de Carvalho Leal, Jônatas de Freitas Pedrosa, major Enrique Ferreira Pena de Azevedo e Pedro de Alcântara do Rego Barros - promovendo um conventículo a fim de depor o governador Eduardo Ribeiro e se apossarem do poder. O cômico da história é que nas reuniões havidas na rua da Independência (hoje do Frei José dos Santos Inocentes), residência do major Araripe, foi apresentada uma lista dos futuros "eleitos pelo povo por aclamação": o dr. Domingos Teófilo de Carvalho Leal, o homem que se mordia de ódio por não haver sido guindado a posição relevante, seria o governador do Estado, o qual depois passaria o queijo para o major Enrique Ferreira Pena de Azevedo roer por sua vez; o sargento João Fernandes Pacote passaria a comandante de Segurança Pública e os demais viriam a ser promovidos. O envolvimento nessa trampolinice de miseráveis praças era o que a cachimônia dos conspiradores mais aspirava, pois aos quatro sargentos estavam destinadas a segurança e a paz da família amazonense. Os demais, civis, comprometiam-se a apresentar trezentos homens armados.' Aqui começa a vacilar o projeto sedicioso, pois para esses civis foi necessário envolver certo português muito conhecido na Manaus daqueles idos, cujo nome, Brás Santos, foi dado à praça hoje 15 de Novembro. O pobre comerciante de cachaça se viu intimado pelo major Araripe a fornecer um caixote com armas. A intimação feita pelo major ao comerciante era apoiada na suspeita ou prova de haver ele vendido rifles (dois caixões) quando fora da deposição do coronel Taumaturgo de Azevedo. Lembramo-nos de que naquela mazorca estava. metido como principal mandante o dr. Domingos Teófilo de Carvalho Leal. O português recusou-se a fornecer o material alegando não o haverem pago. Nâo chegou a ficar provado se depois negociou as armas. Além daqueles militares foram arrolados na conivência o primeiro-sargento Manuel Guedes Monteiro, Cândido Serpa (praça) e o cabo-de-esquadra Francisco Guedes Monteiro. Os pequenos, os miseráveis aliciados para a cena de sangue que se desenrolaria na madrugada de 31 de dezembro de 1892. Os maiorais da miIícia eram os já referidos primeiro-capitão José de Alencar Araripe e o genro deste, primeiro-tenente Cláudio da Rocha Lima.
Um nome a destacar é o do segundo-tenente Fernando José dos Santos Barbosa, que ficou fiel a seu comandante, tenente-coronel Geógrafo de Castro Silva, quando os arruaceiros tentaram amotinar o Batalhão, sem nenhum sucesso. Esse segundotenente Barbosa deu parte ao comandante do que estava ocorrendo nos Artigos Bélicos (3) com respeito ao parque de artilheria, sendo por isso louvado na ordem do dia n° 41 de 13 de janeiro de 1893, juntamente aos companheiros de farda major dr. Clarindo Adolfo de Oliveira Chaves(4), capitão Antônio Correia de Oliveira, capitão Carlos Augusto de Sousa, capitão de engenheiros Manuel Uchoa Rodrigues(5), capitão honorário Francisco Inácio dos Santos, tenente João de Lemos, tenente Raimundo de Amorim Figueira, tenente-farmacêutico Raimundo de Vasconcelos, alferes Bernardo Pio Correa Lima e alferes Francisco Siqueira Melo Rego Barros(6). Do exame do material bélico roubado dos Artigos Bélicos pelo primeiro-tenente Cláudio da Rocha Lima, constavam cartuchos para peças de artilheria, de fabricaçâo estranha, manipulados, ao que se saberia depois, pelos implicados na quartelada. Além daqueles militares citados, do 36° de Infanteria, havia mais o tenente Raimundo Martins Nunes, alferes Odilon Pratagi Brasiliense e alferes José Bransford da Franca Amaral. A impunidade com que o governo federal tratava a mátula empregada no derramamento de sangue inocente não era novidade àquela altura nem seria depois. Mais tarde veremos como o regime republicano foi sempre uma completa e iterativa demonstração contrária à filosofia de fraternidade, aquela palavra oca que se colocava ostensivamente nos papéis burocráticos. Tratava n-se fraternalmente nos ofícios e na vida prática mordiam-se, apunhalavam-se pelas costas, ambicionavam posições e dinheiro. Foi o dinheiro que arrastou o major Tristão Sucupira de Alencar Araripe à formalização de desagradáveis contubérnios, em que muitas vidas seriam imoladas inocentemente depois. Quando o referido major apresentou os planos para a abertura da estrada Manaus-Rio Branco, os técnicos descobriram uma boa cópia de erros grosseiros de orientação geodésica, de latitudes e longitudes, e por isso o governo do Estado recusou-os. Talvez não fosse somente por isso 0 objeto da recusa, pois naquela altura já se sabia que uma estrada de rodagem para o Rio Branco estava sendo contratada; como o foi depois, aparecendo outros concessionários mais prestigiados. Pelo menos vinte quilômetros já estavam prontos, dizia-se. O objetivo da revolta organizada pelo major Araripe e apaniguados era apossar-se dos ricos terrenos marginais da estrada em projeto de abertura desde 1834. Disso dá conta o arrazoado da imprensa manauara da época e a troca de insultos baixos havida entre o referido major Araripe e o dr. Eduardo Ribeiro, este mais comedido nas acusações e aquele desabrido pela derrota verificada duas vezes em menos de um ano! O homenzinho atarracado , capaz das ma.iores felonias, desmentiu tudo quanto a imprensa disse dele, mas sem provas documentais. Ficaria impune para tentar nova arremetida, dada a frouxidão com que foi tratado pelo comandante do 36° Batalhão de Infanteria na primeira rebelião. Preso à ordem do ministro da Guerra, mas contando com a nociva solidariedade do general comandante do 1 ° Distrito Militar, Bento José Fernandes Júnior, no dizer enfatuado dos militantes da desordem "vindo a Manaus com ordens secretas do marechal Floriano", o que seria formalmente desmentido depois. Não conformado com a situação que o deixava desmoralizado perante a opinião pública e os camaradas de farda mais ajuizados, o bando - isto é, os três cabeças da sedição, major Araripe, capitão José Araripe e tenente Cláudio Lima - propos-se renovar o tentame, desta vez acobertado pelo Partido Nacional em que se escudavam dr. Constantino Nery, dr. José Nery, dr. Jônatas Pedrosa (médico), cônego Amâncio de Miranda(7), dr. Domingos Teófilo de Carvalho Leal, alferes Adolfo Guilherme de Miranda Lisboa e dr. Américo Vitrúvio de Campos. A entrada de elementos cimeiros do Partido Nacional nessa desavença tinha sua razão de ser (para o pa.rtido, naturalmente) numa série de fatos que poderiam atingir algumas organizaçôes religiosas e politicas. Desde o governo do tenente Ximeno de Villeroy o Estado desvinculou-se da Igreja e logo depois Eduardo Ribeiro reformava a educação, privando certas escolas patticulares de generosas somas a título de subvenções. Dois dos representantes desses organismos sofreram com as medidas salutares trazidas pela República: o cônego Amâncio de Miranda e o dr. Jônatas Pedrosa, este diretor e
proprietário do Ateneu Amazonense, o colégio destinado a acoitar os soldados rebeldes na primeira revolu~ão abortada. Esses dois homens, mancomunados com o dr. Constantino Nery, que era secretário do general-de-brigada graduado Bento José Fernandes Júnior, foram os principais instrumentos do Partido Nacional numa segunda e ma.is sangrenta tentativa de depor o governador dr. Eduardo Ribeiro. A história oficial dessa bernarda é longa, enche um livro de trezentas e dezenove páginas, mas o fato é que o Partido Naciona.l negaria oficialmente qualquer ingerência nos conflitos de rua, na idéia de compelir o governo a abdicar. Depois da derrota, todo mundo se apresenta na figura de mártir e de inocente. Quem arrastou com a responsabilidade, até chacotas obrigado a engolir, foi o general Bento José Femandes Júnior pela boa-fé com que se bandeou para os dissidentes e inconformados. Comparado com o tumulto de 30 de dezembro de 1892, o mótim de 26 e 27 de fevereira de 1893 foi mais referto de tropelias, de mortes e destruição da fazenda pública, com perigo para a população civil, que abalaria para os bairros afastados do centro citadino. Como se esboçou acima, tomaram parte ostensiva nesse "desagravo" ao Partido Nacional: o major dr. Antônio Constantino Nery, secretário do comando do 1 ° Distrito Militar e do Estado-Maior de primeira classe; os dois Araripe inconformados; cônego dr. Amâncio de Miranda, que ganharia mais tarde uma rua com seu nome no bairro de Constantinópolis (Educandos); o capitâo-de-fragata José Antônio de Oliveira Freitas; general Bento José Femandes Júnior; dr. Agesilau Pereira da Silva; Hilário Francisco Alves; dr. Américo Vitrúvio de Campos; alferes Adolfo Guilherme  de Miranda Lisboa, que mais tarde haveria de ser um grande prefeito de Manaus; e o primeiro-tenente Cláudio da Rocha Lima. E de um lado 0 36° Batalhão de Infanteria e do outro o Batalhão de Segurança (policia militar), muito mais municiado e disposto ao confronto sangrento, como se verá.
Após a primeira sarrafascada de 30 de dezembro de 1892, os ânimos nâo cederam à voz da razâo e da prudência. Os Araripe prosseguiram aliciando parciais e as ondas de boatos inquietavam as famílias. Estourou a revolução no dia 26 de fevereiro, pela manhã, quando foi largamente distribuído na cidade o boletim seguinte, que a muitos deixaria perplexos e a outros intimidados:
                             
Em nome da soberania nacional, a bem da autonomia do povo amazonense, declaramos deposto o governador Eduardo Gonçalves Ribeiro - cuja administração feriu fundamente a liberdade, predicado primeiro da liberdade popular - e o vicegovernador barão de Juruá; e aclamamos o major Antônio Costantino Nery, filho desta ubérrima região, a quem delegamos nossos poderes e com o qual juramos ser solidários, assumindo, inteira, a responsabilidade que nos couber.
Manaus, 26 de fevereiro de 1893
Dr. Américo de Campos
Monsenhor Amâncio de Miranda

Vê-se o sofisma do monsenhor (ou cônego), porque depois da batulheira que sucedeu a esse boletim o padre desapareceu de circulação, isto é, fugiu da frente de combate, passando à retaguarda, à teoria.
Após a circulação desse nocivo boletim e o tumulto provocado no seio da família amazonense, uma chusma de civis postou-se na frente do quartel do 36° de Infanteria a bradar e a aclamar aos gritos os próceres do movimento, inclusive depondo dó comando o tenente-coronel Geógrafo de Castro Silva, e assumiu o comando o tenente Cláudio da Rocha Lima. O bando não se intimidou e, armado de revólveres, visou a pessoa do comandante Geógrafo, que revidou. Foi preso pelo tenente Cláudio Lima e mantido incomunicável! Como se verifica, a situação era de conselho de guerra, desde o início, se o comandante Geógrafo não fosse tí bio. Aos vivas e ameaças, o padre Amâncio de Miranda aclamava o major Antônio Constantino Nery como governador. Parecia mais uma revolução de opereta, não fossem os resultados sangrentos do choque havido depois. De repente, uns pândegos, inconformados com as medidas salutares tomadas pelo governador Eduardo Ribeiro, saíam à rua arrastando os gatos-pingados pagos para gritarem bem alto os nomes dos aclamados "pelo povo". O povo, como sempre o bode expiatório dessas pochades, estava. arrumando a trouxa e abalando para os bairros distantes, aldeia de São Raimundo Nonato, Flores, Cachoeirinha etc.
À tarde, o "eleito" enviou ao governador do Estado o seguinte ofício, conduzido pelo alferes Adolfo Lisboa, ajudante-de-ordens do general Bento Fernandes:

Manaus, 26 de fevereiro de 1893.
Sr. Capitão dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro. Aclamado pelo povo amazonense Presidente deste Estado, sendo vós deposto pelo mesmo povo do cargo de Governador, comunico-vos, para vosso governo, gue fica marcado o prazo de 12 horas, a contar do momento em que este vos for entregue, para retirar vos, com toda a força gue aí tendes
concentrada, do Palácio do Governo, ficando vós desde já responsazilizado pelo derramamento de sangue que porventura possa haver no caso de resistência de vossa parte.
Saúde e fraternidade
Antônio Constantino Nery.

O comentarista anônimo do livro, coronel Francisco Ferreira de Lima Bacuri, um maranhense por todos os pontos digno de se conservar a homenagem que lhe foi prestada com o nome de rua, permite-se a seguinte observação: "Como se compreende facilmente da linguagem do sr. Antônio Constantino Nery, o vulto que na quadra presente mais facilmente se prestou para os manejos políticos de alguns padres e alguns rábulas, estava deposto (grifo do autor da peça) definitivamente o dr. Eduardo Ribeiro".
Realmente, para quem conhece a história daquelas desavenças políticas partidárias não deixa. de ser uma comédia bufa essa atitude do major Constantino Nery Que povo o aclamou e depôs Eduardo Ribeiro? Em que dispositivo constitucional ou meramente cívico se estribava o ambicioso major para assumir o papel de "eleito"? O povo a que aludia (miserável povo! ) era a chusma de valdevinos pagos para bater palmas ao entreato pífio. Seria bastante um tiro disparado ali para que a malta esfarrapada azulasse.
O comandante do 36° por si próprio nomeado, tenente Cláudio Lima, egresso convicto do motim de dezembro de 1892, mandou cerrar as portas do quartel e dispor a tropa em linha na frente, ostensivamente, inclusive as baterias. Daí em diante progrediu a ameaça de transformar a cidade em segunda Tróia com dois fogos programados para a destruição e a morte. O governador Eduardp R.ibeiro não seguia indiferente à arrurnaçâo dos AraripeNery-Lima. Mandou o batalhão de policia ficar de prontidão e não tomou a ofensiva, senâo burocraticamente, dirigindo ofícios ao comandante da flotilha, ao general Bento, ao presidente Floriano, cônsules acreditados em Manaus etc. Ao comandante da flotilha expôs a situação e pediu providência no sentido de manter a situação menos ofensiva. O capitão negou-se a tomar uma atitude oficial, sob a alegação fútil de não possuir homens em número suficiente para operar um desembarque.
Realmente não foi necessário: o batalhâo policial possuía todas as condições bélicas para frustrar um ataque a Palácio. Foram enviados ofícios aos cônsules da França, Itália, Alemanha, Inglaterra, Peru, Colômbia, Bolívia, Portugal, Espanha, do tipo que segue:

CIRCULAR.

Ao sr. Cônsul de...
Estando ameaçada a populaçoo desta capital de derramamento de sangue provocado por alguns oficiais da guarnição federal deste Estado e dispondo este governo de meios sufzcientes para restabelecer a ordem, responsabilizo o sr. general Bento José
FernandesJúnior, comandante do 1.° Distrito Militar, por tudo quanto possa acontecer; o que levo ao vosso conhecimento para os devidos fins.
Saúde e fraternidade
Eduardo G. Ribeiro

O conflito sangrento teve início à boca da noite, quando os guardas da Alfandega(8) e Tesouraria atacaram as forças estaduais postadas na rua Municipal entre as casas dos srs. Braga Alegria e Polack"(9). O leitor moderno ignora essa disposição que vamos reconstituir: a rua Municipal é hoje a avenida Sete de Setembro e o Palácio do Governo ficava no edifício clássico da hoje Prefeitura Municipal. Portanto o local do tiroteio seria justamente entré as ruas atuais da Instalação da Província e avenida Sete de Setembro, mais ou menos, até mesmo a rua da Conceição ou da Matriz, hoje de Lobo dAlmada. Enquanto isso o Palácio do Governo era bombardeado pela artilheria do tenente Cláudio Lima postada à frente do quartel do 36° BI. Houve uma série de ofícios trocados entre o governador do Estado e o comandante da flotilha e entre estes e o general Bento, mas em todos os documentos Eduardo Ribeiro manteve-se firme na disposição de enfrentar as forças federais amotinadas. A questão de quem começou o tiroteio não foi apurada, porém houve da parte dos rebeldes o arrombamento do Depósito Público estadual e danificação do livro de entradas de mercadorias, fato denunciado e apurado pelos peritos nomeados pelo subprefeito da Segurança Pública, cujos autos aparecem no livro de Lima Bacuri citado.
Uma outra divertida situação está no privilégio das forças antagonicas sobre a vitória na luta sustentada de dentro e de fora do Teatro Amazonas em construção. Os militares do 36° BI afirmam que saíram vitoriosos:

Seguiu-se sem interrupção uma luta que durou até às 11 horas do dia, hora em que, havendo-se entrincheirado no teatro em construção no largo de São Sebastião uma força policial de cerca de 40 homens, ordenei gue saíssem para desalojá-las 18 praças, comandadas pelo 1 .° sargento Salustiano, e 8 pelo 2.° sargento Barata, da Segunda bateria, de cuja incumbência desempenharam-se brilhantemente estes inferiores.

A quem cabe a razão do grande feito fratricida? Do relatório que apresentou ao governo o major Ra.imundo Afonso de Carvalho, comandante interino do Batalhã.o de Segurança, extraímos o seguinte tópico:

Uma força de 40 praças sob meu comando, tendo como subalterno o destemido tenente Lucas, que sempre mostrara muita coragem e sangue-frio, embargou os passos ao inimigo, fazendo-o retroceder de diversos pontos onde se achava até o largo do seu Quartel, sendo nesta ocasião repelidos os que se achavam entrincheirados nos alicerces do Teat~n em construção, no largo de Sáo Sebastião, e, assim desbaratados os atacantes, puderam nossas forças avançar até a ruaJoaquim Sarmento, bem próximo ao Quartel do 36.°, onde nos entrincheiramos com o fzm de impedir a passagem para este ponto (...) Pouco antes do meio-dia estava com o inimigo completamente sitiado, deixundo que no auge do desespero, no fogo sem trégua que fazia sobre Palácio e nossas forças, esgotasse a pouca munição que já lbe restava ou viesse a render se pela fome e sede, em virtude das pynvidências postas em prática por este comando... Às 4 1 /2 boras da tarde mandou este comando tocar cessar fogo por ter aparecido em no.rsas linhas, alçando bandeira branca, um parlamentar, enviado pelo cl~efe da flotilhaa de guerra surta neste porto, e de ordem vossa foram suspensas as bostilidades fzcando todavia em seus postos as nossas forfas até a tarde do dia 1.° deste mês, quando seguiram para o Pará o romajor Tristão Sucupira de Alencar Araripe, capitão José de Alencar Araripe e tenente Cláudio da Rocba Lima, principais promotores dos lutuosos acontecimentos que tanto apavoraram a população laboriosa e ordeira desta futurosa cidade.

O comando não deixou claro o número de mortes e ferimentos verificados do lado do 36° rebelde, mas publicou os nomes dos mortos e feridos da parte do Batalhão de Segurança, inclusive outras cenas de combates, em que os soldados do govemo e alguns paisanos se mostraram dignos de menções. A todos esses sauifícios ficariam indiferentes os politicos e militares ambiciosos; mas o govemador dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro não cedeu senão quando o arrependimento e a prudência resolveram baixar a cerviz aos mandatários do çonfronto que haviam subornado a autoridade de um general bem-intencionado mas frouxo de autoridade. A reuriiâo entre os dissidentes teve lugar no consulado francês e o dr. Eduardo Ribeiro teve coragem de ir enfrentar a acrimônia do general Bento. Os outros cônsules convidados ou nâo responderam, ou o fizeram recusando-se ao comparecimento "por falta de garantias", acusando o general Bento. Assim o fizeram o cônsul do Peru, também respondendo pelo consulado da Bolivia e Itália, e o cônsul da Espanha, que por sua vez alegava. falta de segurança, com as forças federais a intimar na rua as pessoas e a revistá-las acintosamente. É fato que ninguém, nem mesmo autoridades consulares desejava. expor-se ao mandato atrabiliário dos Araripe. Até o cônsul da França, muito ligado simpaticamente ao Estado (quase tudo vinha da França àquele tempo), o sr. d'Anthonay(l0), queixar-se-ia daquela situaçã.o de insegurança pública, muito embora o general Bento, em seu artazoado para fugir às responsabilidades, invoque os cônsules estrangeiros como testemunhas das agressões policiais.
A bemarda terminou com o embarque tardio dos Araripe e do general Bento. O presidente Floriano declarou sustentar a legalidade do govemo Gonçalves Ribeiro, apoiar o amigo e camarada de farda e manter no comando do 36° BI ao tenentecoronel Geógrafo de Castro Silva..

Rio, 4 de março 93.
Dr. Eduardo Ribeiro - Governador - Urgentíssimo.
Segundo informações vosso secretário movimento aí feito em meu nome é falso; ainda mesmo que não fôsseis meu amigo eu não concorreria para semelhante abuso.
Todas as providências foram tormadas para garantir vosso governo que é o legalmente constituído. Floriano Peixoto
                                                                 ...

Rio, 4 março, 7,40 m - Comandante 36.° Batalhão tenente-coronel Geógrafo.
Deveis assumir comando guarnição Amazonas, imediatamente; decreto desta data foi dispensado o general Bento Fernandes do comando do 1.° Di.rtrito; coronelJoaquim Manuel Medeiros deverá assumir interinamente esse comando.
Devei.r garantir a ordem nesse Estado sustentando o governo legalmente constituído que é o do dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro.
O major Sucupira, capitão Alencar Araripe devem com a máxima urgência recolher-se Capital Federal
Ministro da Guerra .

Foi a pá de cal nas absurdas pretensões do Partido Nacional, de um lado, do lado da politicalha, e na ambição dos Araripe, do oposto. Depois dessa convulsão, o dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro poderia governar em paz e realizar a grande transformação urbana de Manaus que tinha em mente e dispondo de recursos para fazê-lo. Mas não se pense que o ódio e a ambiçâo ficaram imunes de contágio. Depois do govemo frutífero do dr. Eduardo Ribeiro as coisas recomeçaram na gestão do dr. Fileto Pires Ferreira, contra seu cunhado dr. Guido de Sousa, o chefe de policia mais sanguinário que Manaus já teve depois do célebre Mário Monteiro. Mas isso é outra história... Doloroso para o dr. Eduardo R.ibeiro seria, no entanto, não mais o affaire Fileto Pires Ferreira e, sim, a subida ao poder do seu maior desafeto, o major (agrimensor) Silvério Nery. É em derredor deste que gravitam as atenções, se dobram os salamaleques, investem as homenagens. Silvério Nery procuraria; na sua hora da vingança, distante já daquela funesta journée des dupes, descontinuar a obra em andamento do seu adversário politico.

NOTAS

(3)Ficava no fim da rua de Luís
Antony.

(4)Todo o tempo que durou a
convuIsão, ficaram fiéis ao seu comandante e mais tarde vieram
a sofrer por esse ato honroso.

(5)Cearense, engenheiro
militar, veio para o Amazonas em 1889 ou 90.

(6)Ver Francisco Ferreira de Lima
Bacuri, Estado do Amazonas. Movimentos
revolucionários de 30 de dezembro de 1892 e 26 e 27
de fevereiro de 1893. O autor não se identifica na
publicação, temendo represálias.

(7)Nasceu em Manaus no dia 31 de dezembro de 1848 e faleceu em Belém do Pará a 27 de novembro de 1901.

(8)Trata-se da antiga Alfândega e Correios, um prédio colonial deitado abaixo para no local ser levantado 0 espigão atual
da Fazenda.

(9)A atual casa é um prédio nobre, cuja frontaria esbelta está na esquina da rua da Instalaçâo da Província e avenida Sete
de Setembro.

(10)M. Achylle Arthur Georges
Jacquot d'Anthonay, comerciante e
agente consular, ainda possui descendente em Manaus,
na pessoa da senhora Enriqueta d'Anthonay.


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