CAPÍTULO 2
SOB TODOS OS FOGOS DA REPÚBLICA
Ao raiar da República
manda-se governar o Amazonas, em substituição à Junta Governativa, o tenente do
exército Augusto Ximeno de Villeroy, um tipo de temperamento conflitivo, que
arranja logo inimizades em Manaus e por isso mesmo desiste de continuar
enfrentando as hostes turbulentas dos partidos políticos. Villeroy coloca o dr.
Eduardo Ribeiro (tenente ainda) de oficial-de-gabinete. A experiência deve de
haver agradado àquele mulato bisonho, pois não mais arreda pé do âmbito
governamental, fazendo dele o estribo para a ascensão. Claro que o dr. Eduardo
Ribeiro não necessitaria de degrau tão oscilante para tornar-se um homem
conhecido. Ele já o era desde moço, quando redigia um jornalzinho no Maranhão, O Pensador, nome que deixa a gente
inclinado a conjeturar possuísse inteligência aberta a grandes realizações. Era
de fato um homem interior, voltado para si mesmo, mas a política tem esse
condão de modificar a armadura moral dos rebocados em sua esteira. O dr.
Eduardo Ribeiro deveria de calcular a extensâo do caminho que conduzia ao plano
superior de sua pacata existência de segundo-tenente do Exército. Como a
fortuna lhe vinha ao encontro, porém, colocando-o no centro geométrico daquele
círculo de ambições políticas e de dissidências de toda ordem, não se desiludiu
quando o tenente Villeroy desistiu do governo sob a alegação de doença grave da
esposa. Villeroy assumiu o goveeno a 4 de janeiro de 1890 e deixou-o a 2 de
novembro, havendo governado apenas onze meses. Nesses onze meses pintou a
manta, desgostando à maioria da população com seus atos, alguns feitos de
boa-fé, outros apenas saneadores. Dos atos atrabiliários consta a extinção do
Museu Botânico do Amazonas, dirigido pelo notável cientista dr. João Barbosa
Rodrigues, ato atribuído à formação monárquica do sábio, a que se solidarizou Eduardo
Ribeiro. Igualmente deselegante mas com o apoio nas tendências republicanas foi
a extinção do ensino religioso nas escolas, visto que a República havia
separado a Igreja do Estado. Dos bons atos constam a reorganização do ensino
primário e a unificação do Liceu com a Escola Normal sob o título de Instituto
Normal Superior, como na França. Há outros atos dignos de aplauso,
principalmente porque foi um administrador que fez vista grossa aos cambalachos
politicos, ficando longe dos partidos. Quer acreditar-se haja sido grandemente
influenciado pelo dr. Eduardo Ribeiro, que já estava em Manaus há mais tempo e
conhecia o que deveria ser mudado ou conservado. Pelo menos na questão do
ensino seu ajudante de gabinete foi de utilidade, pois o dr. Eduardo Ribeiro
manteve uma politica de proteção à instrução pública. Além de que, respondendo
pela diretoria de obras públicas, teria oportunidade de verificar o estado em
que andavam as mesmas, como engenheiro militar que era.
A situação politica não era
àquela altura de concórdia. Funestas atividades dos dois partidos dominantes,
que já haviam desgostado ao governador Ximeno de Villeroy, ameaçavam a primeira
administração do dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro. Nomeado vice-governador e já
admitido nas simpatias gerais, nem por isso se viu o Pensador livre das
futricas subterrâneas que o ódio misturado com a ambição de poder argamassavam.
Não haviam decorrido muitos dias da investidura oficial de Eduardo Ribeiro na
cadeira governamental (3 de janeiro de 1891) quando na manhã de 12 de abril
abruptamente chega a Manaus a notícia de sua demissão e nomeação do coronel
Taumaturgo de Azevedo para substituí-lo. Anulado pelo Partido Republicano, o
povo - o povo é sempre o grande instrumento dos perturbadores da ordem -
reuniu-se em protesto, convidado por boletim distribuído em todos os bairros da
capital, que àquela data se resumiam em dois ou três principais, ainda
anacumênicos: Cachoeïrinha, Tocos, Vila Municipal Operária e as colônias
nascentes Cearense, Oliveira Machado ou João Alfredo, São Raimundo Nonato. O
manifesto, consoante a autoridade do historiador amazonense dr. Arthur Cézar
Ferreira Reis, dizia:
Aos doze dias do mês de abril de mil oitocentos e noventa e um, terceiro
da República, reunido o povo da cidade de Manaus, em nome da população do
Amazonas, na praça da República, em vista da demissão traiçoeiramente
conseguida do Governo-Geral pelos inimigos da República, do cidadão dr. Eduardo
Gonçalves Ribeiro, que a contento da população do Amazonas está dirigindo os
destinos deste Estado, resolveu a mesma população aclamar o referido dr.
Eduardo Gonçalves Ribeiro governador efetivo do Estado do Amazonas. Em seguida
o mesmo povo depôs a Intendência Municipal por não mais lhe merecer confiança.
E por ser esta a vontade do povo, foi lavrada a presente ata que lida ao
cidadão Governador proclamado pelo povo, foi aceita e assinada pelos presentes.
Os autores da combinada
proclamação não ignoravam naturalmente a origem do despejo. Após a proclamação
da República seriam escolhic~os os representantes eventuais do Estado à
Constituinte Nacional e daquela "seleção ' faziam parte inimigos do
regime, isto é, franco-atiradores com assento no partido opositor: monarquistas
de casaca mudada, duas velhas raposas intransigentes, Manuel Francisco Machado,
o barâo do Solimões, e Joaquim José Pais da Silva Sarmento, senadores; e dr.
Manuel Inácio Belfort Vieira, deputado. Além do mais, extinta a Assembléia
Legislativa Amazonense por ato decisório do tenente Ximeno de Villeroy,
criara-se uma atmosfera de animosidade, contra a representação ribeirinha,
animosidade que viria a explodir mais tarde. Aqueles homens, convencidos de que
a República era apenas uma atividade política transitória, espécie de
quartelada em que fora jogado o general Deodoro, também ele monarquista,
tramaram contra a estada do dr. Eduardo Ribeiro no poder, estada que constituía
séria ameaça às ambições dos partidos, principalmente ao conservador Partido
Democrático, pululante de monarquistas convictos.
O governo federal não daria
ouvidos ao forjado reclamo das massas porque seu interesse maior estava
colocado no sustentáculo da política econômica. Naquele tempo, o Amazonas
pesava. na balança com sua proverbial manifestação de exuberância financeira, e
o país, miserabilizado, necessitava do apoio de nossos representantes na
Constituinte. Quando a borracha significasse menos para as ambições dos homens
do governo, a República negligenciaria o Amazonas e até considerava com
aborrecimento nossos pedidos de ajuda. Nunca nos deu a mão e até mesmo
contribuiu para aumentar o desfavor que passamos a gozar.
Impingiram ao desgostoso
povo um elemento de prestígio militar, é fato, e com alguma boa experiência
amazônica: o coronel Gregório Taumaturgo de Azevedo, que morreria marechal.
Esse homem culto e presto possuía o mesmo defeito do tenente Ximeno de
Villeroy: era irritadiço e perseverante em suas decisões. Não apaziguou os
âmimos e ao contrário contribuiu para aumentá-los. Quando chegou a Manaus,
encontrou visível a hostilidade dos grupos e, em vez de tentar uma manobra de
congraçamento, cultivou a desarmonia, fazendo-se o centro de preocupação
política dos partidos alvoroçados. Taumaturgo era enérgico e correto, mas fraco
no momento de conservar o equilíbrio psicológico para enfrentar a perturbação
ambiente. Taumaturgo de Azevedo fora escorraçado de sua terra, o Piauí, e
mancomunara-se com os soldados de Deodoro da Fonseca. Insinuara-se no prestígio
republicano apoiado, aliás, pelo partido dos Moreiras, e começara mal sua
jornada pela administração. Alguns autores o dão como honesto e
bem-intencionado. No eritanto, o maior escândalo de sua administração foi o
célebre Contrato Predial em que era ao mesmo tempo legislador e contratante.
Hoje se diria advocacia em causa própria. Sujou as mãos numa empresa que
estaria fadada ao desenvolvimento se os sabujos que rondavam a gamela do
Tesouro não se imiscuíssem nela. O coronel Taumaturgo de Azevedo não conhecia
os homens do Amazonas, isto é, os políticos ajustados ao momento, os camaleões,
os forjadores das "chapas de caixão", os traidores e conspiradores
renitentes, os profissionais da intriga. Em sua mensagem de 15 de novembro de
1891 ele se desdobra em minúcias a propósito do embelezamento da cidade e pede
alguns créditos para esse programa. É seu o ato arbitrário de anulação do
contrato dos esgotos, sob a alegação de irregular e até nocivo à saúde pública.
É possível que o fosse, não possuímos condições para confirmar. No entanto,
essa história de anulação de contratos feitos em administrações anteriores era
um vício contumaz que deixava sólidos réditos a quem os decretava e um passo à
retaguarda no progresso da cidade. O coronel Taumaturgo
desejava conciliar seu nome
(obrador de milagres) com o embelezamento de Manaus. Se esse fosse realmente um
programa estabelecido dentro das normas usuais da administração, valia a pena
aceitá-lo. De fato, as idéias do novel governador eram boas, até mesmo
necessárias, do tipo aterro de igarapés etc.
O deínônio da ambição,
porém, andava de braço dado com a lisonja e o cortejamento dos sacanetas
desfibrados. Dirigindo-se ao Congresso Amazonense na sessão de 25 de novembro
de 1891, o coronel governador procurou logo dar a conhecer o estado das
finanças, que não eram más. Começou bem.
Ao dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro coube apenas o gesto disciplinado de passar o governo. Creio que a
história deveria ser contada assim: manobrado pelos políticos na capital
federal, o marechal Deodoro indicou o novo comandante da flotilha,
cápitão-de-fragata Borges Machado, para substituir o dr. Eduardo Ribeiro. Este,
intimado no dia 5 de maio a entregar o governo, passou-o ao vice Guilherme José
Moreira, barão do Juruá, um dos que eram apontados como traidor de causa
perdida. Deposto, sem qualquer manifestação de desagravo, dr. Eduardo Ribeiro
dispôs-se naturalmente a esperar que os "amigos" do partido, no Rio
de Janeiro, advogassem sua causa. Isso fez o valente dr. Almino Álvares Affonso
no Congresso. Seu discurso é uma peça memorável de retórica parlamentar: estilo
empolado, cultismo verborrágico, arrancos de piedosa
ternura para com as nossas
possibilidades. O dr. Almino Álvares Affonso não chegaria só com palavras duras
a hostilizar o coronel Taumaturgo de Azevedo na defesa intransigente do dr.
Eduardo Ribeiro: foi às vias de fato no dia 14 de janeiro de 1892 com o dr.
Domingos de Carvalho Leal. Apesar de Arthur Reis situar a praça do General
Osório frente ao Quartel do 36° BI (mais tarde 27° BC), a escaramuça teve lugar
no Palácio do Governo (hoje sede da Prefeitura Municipal) e nela morreu o
soldado Fernandes Pimenta, saindo ferido levemente na região glútea o dr.
Almino Álvares Affonso, acérrimo adversário do coronel Gregório Ta.umaturgo de
Azevedo. A posição de Eduardo Ribeiro nesse conflito de interesses seria de
reserva e abstenção. Talvez de prudente espera? O fato é que após toda aquela
sarrafascada receberia de galardão o cargo de professor de Matemáticas da
Escola Superior de Guerra e a patente de capitão de Estado-Maior. Um prêmio
régio de Floriano Peixoto já no govemo com a abdicação de Deodoro.
Taumaturgo de Azevedo não
demorou muito no poder, apesar de haver sustentado briosamente seus presumidos
diréitos contra a palavra de Floriano Peixoto. A situação no Amazonas voltava
agora a piorar e a perspectiva. de graves acontecimentos pairava. no ar.
Intimado a entregar o governo, recusou-se, fortificando-se nâo em seguros
princípios legais mas em sua vontade. Isso obrigou Floriano Peixoto a intervir
na situa~ão, mas de maneira suasória, enviando uma comissão parlamentar de
oficiais das duas armas, Exército e Marinha, havendo, contra a vontade e sob ,
protesto escrito, entregue o mandato ao capitão-de-fragata José Inácio Borges
Machado. Se este trabalho dissesse respeito aos movimentos revolucionários do
Amazonas, muita coisa se teria a acrescentar aqui, porém o destaque principal é
a figura do dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro, que, nessa conjuntura, misantropo
como era, recolheu-se a seus penates aguardando o final da embrulhada.
E obrou inteligentemente,
porquanto seus verdadeiros amigos na capital federal trabalhavam pela
reintegração no poder.Floriano Peixoto não era da mesma estirpe de Deodoro. E
contava. com o mérito de haver estado no Amazonas, lotado no 3 ° Batalhão de
Artilharia a-Pé como coronel. Em Manaus filiou-se à Loja Amazonas, sita na rua
de Bernardo Ramos. Era portanto um homem que conhecia, dos tempos da Província,
a região e seus homens políticos. Sabia em que mares navegava, enquanto Deodoro
ouvia apenas as partes interessadas em malquistar o dr. Eduardo Ribeiro. Observe-se,
ainda, que o Pensador não era filiado a nenhuma loja do Amazonas, portanto
estivera lutando sozinho contra obreiros que possuíam força para mantê-lo longe
do governo. Talvez, quero acreditar, fosse a colônia maranhense de Manaus,
representada em sua quase totalidade porhomens de cor (Lima Bacuri, Raul de
Azevedo, mulato-claro; Pedro Freire, mulato-claro), o sustentáculo de sua
vitoriosa carreira. Já dissemos: o dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro não era
ofensivo corno o coronel Taumaturgo de Azevedo ou Guerreiro Antony. Já dotado
de uma experiência local, e apoiado pela resistência dos bons republicanos
residentes no R.io de Janeiro, deputados e senadores, desfez-se habilidosamente
do peso que representava o coronel Gregório Taumaturgo de Azevedo. A 11 de março,
o dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro recebia nova nente as rédeas da administração.
Agora julgava-se firme no posto e não teve dúvida alguma de fazer o que a
política sempre vinha fazendo: dissolveu o Congresso Amazonense, que havia
ficado solidário ao ato de Deodoro, reformou a Constituição, cujos termos
apropriados já citamos, e elegeu-se governador do Estado para o período
1893-1896....A quartelada de 1892 teve como pivô a soma daquelas três
atividades muito freqüentes na história do Amazonas: vingança contra a ascensão
ao poder do dr. Eduardo Ribeiro; ambição do Partido Republicano; e intervenção militar, por desforço, diante da recusa do governador a aceitar a proposta de
um major do Exército para construir a estrada de ferro para o Rio Branco. Também
se diz que em vez de estrada de ferro era a rodovia para aquela região.
O fato é que era por causa
desta última. Indivíduo interessado no serviço, o major Tristão Sucupira de
Alencar Araripe, repudiado em suas francas intenções de abiscoitar o serviço,
andou correndo de Herodes a Pilatos solicitando o apoio de todos os políticos
republicanos. Esse cidadão era major locado no 36° Batalhão. Junto com o irmão
João Araripe, bacharel demitido "espontaneamente" do cargo de
Procurador Fiscal do Tesouro Nacional, e mais outros uniu-se aos ambiciosos
expurgados da cúpula do Partido Republicano - Domingos Teófilo de Carvalho
Leal, Jônatas de Freitas Pedrosa, major Enrique Ferreira Pena de Azevedo e
Pedro de Alcântara do Rego Barros - promovendo um conventículo a fim de depor o
governador Eduardo Ribeiro e se apossarem do poder. O cômico da história é que
nas reuniões havidas na rua da Independência (hoje do Frei José dos Santos
Inocentes), residência do major Araripe, foi apresentada uma lista dos futuros
"eleitos pelo povo por aclamação": o dr. Domingos Teófilo de Carvalho
Leal, o homem que se mordia de ódio por não haver sido guindado a posição
relevante, seria o governador do Estado, o qual depois passaria o queijo para o
major Enrique Ferreira Pena de Azevedo roer por sua vez; o sargento João
Fernandes Pacote passaria a comandante de Segurança Pública e os demais viriam
a ser promovidos. O envolvimento nessa trampolinice de miseráveis praças era o
que a cachimônia dos conspiradores mais aspirava, pois aos quatro sargentos
estavam destinadas a segurança e a paz da família amazonense. Os demais, civis,
comprometiam-se a apresentar trezentos homens armados.' Aqui começa a vacilar o
projeto sedicioso, pois para esses civis foi necessário envolver certo
português muito conhecido na Manaus daqueles idos, cujo nome, Brás Santos, foi
dado à praça hoje 15 de Novembro. O pobre comerciante de cachaça se viu
intimado pelo major Araripe a fornecer um caixote com armas. A intimação feita
pelo major ao comerciante era apoiada na suspeita ou prova de haver ele vendido
rifles (dois caixões) quando fora da deposição do coronel Taumaturgo de
Azevedo. Lembramo-nos de que naquela mazorca estava. metido como principal
mandante o dr. Domingos Teófilo de Carvalho Leal. O português recusou-se a
fornecer o material alegando não o haverem pago. Nâo chegou a ficar provado se
depois negociou as armas. Além daqueles militares foram arrolados na conivência
o primeiro-sargento Manuel Guedes Monteiro, Cândido Serpa (praça) e o
cabo-de-esquadra Francisco Guedes Monteiro. Os pequenos, os miseráveis
aliciados para a cena de sangue que se desenrolaria na madrugada de 31 de
dezembro de 1892. Os maiorais da miIícia eram os já referidos primeiro-capitão
José de Alencar Araripe e o genro deste, primeiro-tenente Cláudio da Rocha
Lima.
Um nome a destacar é o do
segundo-tenente Fernando José dos Santos Barbosa, que ficou fiel a seu
comandante, tenente-coronel Geógrafo de Castro Silva, quando os arruaceiros
tentaram amotinar o Batalhão, sem nenhum sucesso. Esse segundotenente Barbosa
deu parte ao comandante do que estava ocorrendo nos Artigos Bélicos (3) com
respeito ao parque de artilheria, sendo por isso louvado na ordem do dia n° 41
de 13 de janeiro de 1893, juntamente aos companheiros de farda major dr. Clarindo
Adolfo de Oliveira Chaves(4), capitão Antônio Correia de Oliveira, capitão
Carlos Augusto de Sousa, capitão de engenheiros Manuel Uchoa Rodrigues(5),
capitão honorário Francisco Inácio dos Santos, tenente João de Lemos, tenente
Raimundo de Amorim Figueira, tenente-farmacêutico Raimundo de Vasconcelos,
alferes Bernardo Pio Correa Lima e alferes Francisco Siqueira Melo Rego
Barros(6). Do exame do material bélico roubado dos Artigos Bélicos pelo
primeiro-tenente Cláudio da Rocha Lima, constavam cartuchos para peças de
artilheria, de fabricaçâo estranha, manipulados, ao que se saberia depois,
pelos implicados na quartelada. Além daqueles militares citados, do 36° de
Infanteria, havia mais o tenente Raimundo Martins Nunes, alferes Odilon Pratagi
Brasiliense e alferes José Bransford da Franca Amaral. A impunidade com que o
governo federal tratava a mátula empregada no derramamento de sangue inocente
não era novidade àquela altura nem seria depois. Mais tarde veremos como o
regime republicano foi sempre uma completa e iterativa demonstração contrária à
filosofia de fraternidade, aquela palavra oca que se colocava ostensivamente
nos papéis burocráticos. Tratava n-se fraternalmente nos ofícios e na vida
prática mordiam-se, apunhalavam-se pelas costas, ambicionavam posições e
dinheiro. Foi o dinheiro que arrastou o major Tristão Sucupira de Alencar
Araripe à formalização de desagradáveis contubérnios, em que muitas vidas
seriam imoladas inocentemente depois. Quando o referido major apresentou os
planos para a abertura da estrada Manaus-Rio Branco, os técnicos descobriram
uma boa cópia de erros grosseiros de orientação geodésica, de latitudes e
longitudes, e por isso o governo do Estado recusou-os. Talvez não fosse somente
por isso 0 objeto da recusa, pois naquela altura já se sabia que uma estrada de
rodagem para o Rio Branco estava sendo contratada; como o foi depois,
aparecendo outros concessionários mais prestigiados. Pelo menos vinte
quilômetros já estavam prontos, dizia-se. O objetivo da revolta organizada pelo
major Araripe e apaniguados era apossar-se dos ricos terrenos marginais da
estrada em projeto de abertura desde 1834. Disso dá conta o arrazoado da
imprensa manauara da época e a troca de insultos baixos havida entre o referido
major Araripe e o dr. Eduardo Ribeiro, este mais comedido nas acusações e
aquele desabrido pela derrota verificada duas vezes em menos de um ano! O
homenzinho atarracado , capaz das ma.iores felonias, desmentiu tudo quanto a
imprensa disse dele, mas sem provas documentais. Ficaria impune para tentar
nova arremetida, dada a frouxidão com que foi tratado pelo comandante do 36°
Batalhão de Infanteria na primeira rebelião. Preso à ordem do ministro da
Guerra, mas contando com a nociva solidariedade do general comandante do 1 °
Distrito Militar, Bento José Fernandes Júnior, no dizer enfatuado dos
militantes da desordem "vindo a Manaus com ordens secretas do marechal
Floriano", o que seria formalmente desmentido depois. Não conformado com a
situação que o deixava desmoralizado perante a opinião pública e os camaradas
de farda mais ajuizados, o bando - isto é, os três cabeças da sedição, major
Araripe, capitão José Araripe e tenente Cláudio Lima - propos-se renovar o
tentame, desta vez acobertado pelo Partido Nacional em que se escudavam dr.
Constantino Nery, dr. José Nery, dr. Jônatas Pedrosa (médico), cônego Amâncio
de Miranda(7), dr. Domingos Teófilo de Carvalho Leal, alferes Adolfo Guilherme
de Miranda Lisboa e dr. Américo Vitrúvio de Campos. A entrada de elementos
cimeiros do Partido Nacional nessa desavença tinha sua razão de ser (para o
pa.rtido, naturalmente) numa série de fatos que poderiam atingir algumas
organizaçôes religiosas e politicas. Desde o governo do tenente Ximeno de
Villeroy o Estado desvinculou-se da Igreja e logo depois Eduardo Ribeiro
reformava a educação, privando certas escolas patticulares de generosas somas a
título de subvenções. Dois dos representantes desses organismos sofreram com as
medidas salutares trazidas pela República: o cônego Amâncio de Miranda e o dr.
Jônatas Pedrosa, este diretor e
proprietário do Ateneu
Amazonense, o colégio destinado a acoitar os soldados rebeldes na primeira
revolu~ão abortada. Esses dois homens, mancomunados com o dr. Constantino Nery,
que era secretário do general-de-brigada graduado Bento José Fernandes Júnior,
foram os principais instrumentos do Partido Nacional numa segunda e ma.is
sangrenta tentativa de depor o governador dr. Eduardo Ribeiro. A história
oficial dessa bernarda é longa, enche um livro de trezentas e dezenove páginas,
mas o fato é que o Partido Naciona.l negaria oficialmente qualquer ingerência
nos conflitos de rua, na idéia de compelir o governo a abdicar. Depois da
derrota, todo mundo se apresenta na figura de mártir e de inocente. Quem
arrastou com a responsabilidade, até chacotas obrigado a engolir, foi o general
Bento José Femandes Júnior pela boa-fé com que se bandeou para os dissidentes e
inconformados. Comparado com o tumulto de 30 de dezembro de 1892, o mótim de 26
e 27 de fevereira de 1893 foi mais referto de tropelias, de mortes e destruição
da fazenda pública, com perigo para a população civil, que abalaria para os
bairros afastados do centro citadino. Como se esboçou acima, tomaram parte
ostensiva nesse "desagravo" ao Partido Nacional: o major dr. Antônio
Constantino Nery, secretário do comando do 1 ° Distrito Militar e do
Estado-Maior de primeira classe; os dois Araripe inconformados; cônego dr.
Amâncio de Miranda, que ganharia mais tarde uma rua com seu nome no bairro de
Constantinópolis (Educandos); o capitâo-de-fragata José Antônio de Oliveira
Freitas; general Bento José Femandes Júnior; dr. Agesilau Pereira da Silva;
Hilário Francisco Alves; dr. Américo Vitrúvio de Campos; alferes Adolfo
Guilherme de Miranda Lisboa, que mais
tarde haveria de ser um grande prefeito de Manaus; e o primeiro-tenente Cláudio
da Rocha Lima. E de um lado 0 36° Batalhão de Infanteria e do outro o Batalhão
de Segurança (policia militar), muito mais municiado e disposto ao confronto
sangrento, como se verá.
Após a primeira sarrafascada
de 30 de dezembro de 1892, os ânimos nâo cederam à voz da razâo e da prudência.
Os Araripe prosseguiram aliciando parciais e as ondas de boatos inquietavam as
famílias. Estourou a revolução no dia 26 de fevereiro, pela manhã, quando foi
largamente distribuído na cidade o boletim seguinte, que a muitos deixaria
perplexos e a outros intimidados:
Em nome da soberania nacional, a bem da autonomia do povo amazonense,
declaramos deposto o governador Eduardo Gonçalves Ribeiro - cuja administração
feriu fundamente a liberdade, predicado primeiro da liberdade popular - e o
vicegovernador barão de Juruá; e aclamamos o major Antônio Costantino Nery,
filho desta ubérrima região, a quem delegamos nossos poderes e com o qual
juramos ser solidários, assumindo, inteira, a responsabilidade que nos couber.
Manaus, 26 de fevereiro de 1893
Dr. Américo de Campos
Monsenhor Amâncio de Miranda
Vê-se o sofisma do monsenhor
(ou cônego), porque depois da batulheira que sucedeu a esse boletim o padre desapareceu
de circulação, isto é, fugiu da frente de combate, passando à retaguarda, à
teoria.
Após a circulação desse
nocivo boletim e o tumulto provocado no seio da família amazonense, uma chusma
de civis postou-se na frente do quartel do 36° de Infanteria a bradar e a
aclamar aos gritos os próceres do movimento, inclusive depondo dó comando o
tenente-coronel Geógrafo de Castro Silva, e assumiu o comando o tenente Cláudio
da Rocha Lima. O bando não se intimidou e, armado de revólveres, visou a pessoa
do comandante Geógrafo, que revidou. Foi preso pelo tenente Cláudio Lima e
mantido incomunicável! Como se verifica, a situação era de conselho de guerra,
desde o início, se o comandante Geógrafo não fosse tí bio. Aos vivas e ameaças,
o padre Amâncio de Miranda aclamava o major Antônio Constantino Nery como
governador. Parecia mais uma revolução de opereta, não fossem os resultados
sangrentos do choque havido depois. De repente, uns pândegos, inconformados com
as medidas salutares tomadas pelo governador Eduardo Ribeiro, saíam à rua
arrastando os gatos-pingados pagos para gritarem bem alto os nomes dos
aclamados "pelo povo". O povo, como sempre o bode expiatório dessas
pochades, estava. arrumando a trouxa e abalando para os bairros distantes,
aldeia de São Raimundo Nonato, Flores, Cachoeirinha etc.
À tarde, o
"eleito" enviou ao governador do Estado o seguinte ofício, conduzido
pelo alferes Adolfo Lisboa, ajudante-de-ordens do general Bento Fernandes:
Manaus, 26 de fevereiro de 1893.
Sr. Capitão dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro. Aclamado pelo povo amazonense
Presidente deste Estado, sendo vós deposto pelo mesmo povo do cargo de
Governador, comunico-vos, para vosso governo, gue fica marcado o prazo de 12
horas, a contar do momento em que este vos for entregue, para retirar vos, com
toda a força gue aí tendes
concentrada, do Palácio do Governo, ficando vós desde já
responsazilizado pelo derramamento de sangue que porventura possa haver no caso
de resistência de vossa parte.
Saúde e fraternidade
Antônio Constantino Nery.
O comentarista anônimo do
livro, coronel Francisco Ferreira de Lima Bacuri, um maranhense por todos os
pontos digno de se conservar a homenagem que lhe foi prestada com o nome de
rua, permite-se a seguinte observação: "Como se compreende facilmente da
linguagem do sr. Antônio Constantino Nery, o vulto que na quadra presente mais
facilmente se prestou para os manejos políticos de alguns padres e alguns
rábulas, estava deposto (grifo do autor da peça) definitivamente o dr. Eduardo
Ribeiro".
Realmente, para quem conhece
a história daquelas desavenças políticas partidárias não deixa. de ser uma
comédia bufa essa atitude do major Constantino Nery Que povo o aclamou e depôs
Eduardo Ribeiro? Em que dispositivo constitucional ou meramente cívico se
estribava o ambicioso major para assumir o papel de "eleito"? O povo
a que aludia (miserável povo! ) era a chusma de valdevinos pagos para bater
palmas ao entreato pífio. Seria bastante um tiro disparado ali para que a malta
esfarrapada azulasse.
O comandante do 36° por si
próprio nomeado, tenente Cláudio Lima, egresso convicto do motim de dezembro de
1892, mandou cerrar as portas do quartel e dispor a tropa em linha na frente,
ostensivamente, inclusive as baterias. Daí em diante progrediu a ameaça de
transformar a cidade em segunda Tróia com dois fogos programados para a
destruição e a morte. O governador Eduardp R.ibeiro não seguia indiferente à
arrurnaçâo dos AraripeNery-Lima. Mandou o batalhão de policia ficar de
prontidão e não tomou a ofensiva, senâo burocraticamente, dirigindo ofícios ao
comandante da flotilha, ao general Bento, ao presidente Floriano, cônsules
acreditados em Manaus etc. Ao comandante da flotilha expôs a situação e pediu
providência no sentido de manter a situação menos ofensiva. O capitão negou-se
a tomar uma atitude oficial, sob a alegação fútil de não possuir homens em
número suficiente para operar um desembarque.
Realmente não foi
necessário: o batalhâo policial possuía todas as condições bélicas para
frustrar um ataque a Palácio. Foram enviados ofícios aos cônsules da França,
Itália, Alemanha, Inglaterra, Peru, Colômbia, Bolívia, Portugal, Espanha, do
tipo que segue:
CIRCULAR.
Ao sr. Cônsul de...
Estando ameaçada a populaçoo desta capital de derramamento de sangue
provocado por alguns oficiais da guarnição federal deste Estado e dispondo este
governo de meios sufzcientes para restabelecer a ordem, responsabilizo o sr.
general Bento José
FernandesJúnior, comandante do 1.° Distrito Militar, por tudo quanto
possa acontecer; o que levo ao vosso conhecimento para os devidos fins.
Saúde e fraternidade
Eduardo G. Ribeiro
O conflito sangrento teve
início à boca da noite, quando os guardas da Alfandega(8) e Tesouraria atacaram
as forças estaduais postadas na rua Municipal entre as casas dos srs. Braga Alegria
e Polack"(9). O leitor moderno ignora essa disposição que vamos
reconstituir: a rua Municipal é hoje a avenida Sete de Setembro e o Palácio do
Governo ficava no edifício clássico da hoje Prefeitura Municipal. Portanto o
local do tiroteio seria justamente entré as ruas atuais da Instalação da
Província e avenida Sete de Setembro, mais ou menos, até mesmo a rua da
Conceição ou da Matriz, hoje de Lobo dAlmada. Enquanto isso o Palácio do
Governo era bombardeado pela artilheria do tenente Cláudio Lima postada à
frente do quartel do 36° BI. Houve uma série de ofícios trocados entre o
governador do Estado e o comandante da flotilha e entre estes e o general
Bento, mas em todos os documentos Eduardo Ribeiro manteve-se firme na
disposição de enfrentar as forças federais amotinadas. A questão de quem
começou o tiroteio não foi apurada, porém houve da parte dos rebeldes o
arrombamento do Depósito Público estadual e danificação do livro de entradas de
mercadorias, fato denunciado e apurado pelos peritos nomeados pelo subprefeito
da Segurança Pública, cujos autos aparecem no livro de Lima Bacuri citado.
Uma outra divertida situação
está no privilégio das forças antagonicas sobre a vitória na luta sustentada de
dentro e de fora do Teatro Amazonas em construção. Os militares do 36° BI
afirmam que saíram vitoriosos:
Seguiu-se sem interrupção uma luta que durou até às 11 horas do dia,
hora em que, havendo-se entrincheirado no teatro em construção no largo de São
Sebastião uma força policial de cerca de 40 homens, ordenei gue saíssem para
desalojá-las 18 praças, comandadas pelo 1 .° sargento Salustiano, e 8 pelo 2.°
sargento Barata, da Segunda bateria, de cuja incumbência desempenharam-se
brilhantemente estes inferiores.
A quem cabe a razão do
grande feito fratricida? Do relatório que apresentou ao governo o major
Ra.imundo Afonso de Carvalho, comandante interino do Batalhã.o de Segurança,
extraímos o seguinte tópico:
Uma força de 40 praças sob meu comando, tendo como subalterno o
destemido tenente Lucas, que sempre mostrara muita coragem e sangue-frio,
embargou os passos ao inimigo, fazendo-o retroceder de diversos pontos onde se
achava até o largo do seu Quartel, sendo nesta ocasião repelidos os que se
achavam entrincheirados nos alicerces do Teat~n em construção, no largo de Sáo
Sebastião, e, assim desbaratados os atacantes, puderam nossas forças avançar
até a ruaJoaquim Sarmento, bem próximo ao Quartel do 36.°, onde nos
entrincheiramos com o fzm de impedir a passagem para este ponto (...) Pouco
antes do meio-dia estava com o inimigo completamente sitiado, deixundo que no
auge do desespero, no fogo sem trégua que fazia sobre Palácio e nossas forças,
esgotasse a pouca munição que já lbe restava ou viesse a render se pela fome e
sede, em virtude das pynvidências postas em prática por este comando... Às 4 1
/2 boras da tarde mandou este comando tocar cessar fogo por ter aparecido em
no.rsas linhas, alçando bandeira branca, um parlamentar, enviado pelo cl~efe da
flotilhaa de guerra surta neste porto, e de ordem vossa foram suspensas as
bostilidades fzcando todavia em seus postos as nossas forfas até a tarde do dia
1.° deste mês, quando seguiram para o Pará o romajor Tristão Sucupira de
Alencar Araripe, capitão José de Alencar Araripe e tenente Cláudio da Rocba
Lima, principais promotores dos lutuosos acontecimentos que tanto apavoraram a
população laboriosa e ordeira desta futurosa cidade.
O comando não deixou claro o
número de mortes e ferimentos verificados do lado do 36° rebelde, mas publicou
os nomes dos mortos e feridos da parte do Batalhão de Segurança, inclusive
outras cenas de combates, em que os soldados do govemo e alguns paisanos se
mostraram dignos de menções. A todos esses sauifícios ficariam indiferentes os
politicos e militares ambiciosos; mas o govemador dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro
não cedeu senão quando o arrependimento e a prudência resolveram baixar a
cerviz aos mandatários do çonfronto que haviam subornado a autoridade de um
general bem-intencionado mas frouxo de autoridade. A reuriiâo entre os
dissidentes teve lugar no consulado francês e o dr. Eduardo Ribeiro teve
coragem de ir enfrentar a acrimônia do general Bento. Os outros cônsules
convidados ou nâo responderam, ou o fizeram recusando-se ao comparecimento
"por falta de garantias", acusando o general Bento. Assim o fizeram o
cônsul do Peru, também respondendo pelo consulado da Bolivia e Itália, e o
cônsul da Espanha, que por sua vez alegava. falta de segurança, com as forças
federais a intimar na rua as pessoas e a revistá-las acintosamente. É fato que ninguém,
nem mesmo autoridades consulares desejava. expor-se ao mandato atrabiliário dos
Araripe. Até o cônsul da França, muito ligado simpaticamente ao Estado (quase
tudo vinha da França àquele tempo), o sr. d'Anthonay(l0), queixar-se-ia daquela
situaçã.o de insegurança pública, muito embora o general Bento, em seu
artazoado para fugir às responsabilidades, invoque os cônsules estrangeiros
como testemunhas das agressões policiais.
A bemarda terminou com o
embarque tardio dos Araripe e do general Bento. O presidente Floriano declarou
sustentar a legalidade do govemo Gonçalves Ribeiro, apoiar o amigo e camarada
de farda e manter no comando do 36° BI ao tenentecoronel Geógrafo de Castro
Silva..
Rio, 4 de março 93.
Dr. Eduardo Ribeiro - Governador - Urgentíssimo.
Segundo informações vosso secretário movimento aí feito em meu nome é
falso; ainda mesmo que não fôsseis meu amigo eu não concorreria para semelhante
abuso.
Todas as providências foram tormadas para garantir vosso governo que é o
legalmente constituído. Floriano Peixoto
...
Rio, 4 março, 7,40 m - Comandante 36.° Batalhão tenente-coronel
Geógrafo.
Deveis assumir comando guarnição Amazonas, imediatamente; decreto desta
data foi dispensado o general Bento Fernandes do comando do 1.° Di.rtrito;
coronelJoaquim Manuel Medeiros deverá assumir interinamente esse comando.
Devei.r garantir a ordem nesse Estado sustentando o governo legalmente
constituído que é o do dr. Eduardo Gonçalves Ribeiro.
O major Sucupira, capitão Alencar Araripe devem com a máxima urgência
recolher-se Capital Federal
Ministro da Guerra .
Foi a pá de cal nas absurdas
pretensões do Partido Nacional, de um lado, do lado da politicalha, e na
ambição dos Araripe, do oposto. Depois dessa convulsão, o dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro poderia governar em paz e realizar a grande transformação urbana de
Manaus que tinha em mente e dispondo de recursos para fazê-lo. Mas não se pense
que o ódio e a ambiçâo ficaram imunes de contágio. Depois do govemo frutífero
do dr. Eduardo Ribeiro as coisas recomeçaram na gestão do dr. Fileto Pires
Ferreira, contra seu cunhado dr. Guido de Sousa, o chefe de policia mais
sanguinário que Manaus já teve depois do célebre Mário Monteiro. Mas isso é
outra história... Doloroso para o dr. Eduardo R.ibeiro seria, no entanto, não
mais o affaire Fileto Pires Ferreira
e, sim, a subida ao poder do seu maior desafeto, o major (agrimensor) Silvério
Nery. É em derredor deste que gravitam as atenções, se dobram os salamaleques,
investem as homenagens. Silvério Nery procuraria; na sua hora da vingança,
distante já daquela funesta journée des
dupes, descontinuar a obra em andamento do seu adversário politico.
NOTAS
(3)Ficava no fim da rua de
Luís
Antony.
(4)Todo o tempo que durou a
convuIsão, ficaram fiéis ao
seu comandante e mais tarde vieram
a sofrer por esse ato
honroso.
(5)Cearense, engenheiro
militar, veio para o
Amazonas em 1889 ou 90.
(6)Ver Francisco Ferreira de
Lima
Bacuri, Estado do Amazonas.
Movimentos
revolucionários de 30 de
dezembro de 1892 e 26 e 27
de fevereiro de 1893. O
autor não se identifica na
publicação, temendo
represálias.
(7)Nasceu em Manaus no dia
31 de dezembro de 1848 e faleceu em Belém do Pará a 27 de novembro de 1901.
(8)Trata-se da antiga Alfândega
e Correios, um prédio colonial deitado abaixo para no local ser levantado 0
espigão atual
da Fazenda.
(9)A atual casa é um prédio
nobre, cuja frontaria esbelta está na esquina da rua da Instalaçâo da Província
e avenida Sete
de Setembro.
(10)M. Achylle Arthur
Georges
Jacquot d'Anthonay,
comerciante e
agente consular, ainda
possui descendente em Manaus,
na pessoa da senhora
Enriqueta d'Anthonay.
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